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Crítica | A Chamada (2023)

O brucutu está se aposentando.

por Felipe Oliveira
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Desde que protagonizou o clássico genérico Busca Implacável, Liam Neeson se tornou uma referência quando se tratava de thrillers de ação americanos. De romances a personagens memoráveis no gênero da aventura, parecia uma necessidade dos estúdios terem o rosto de Neeson na não tão nova trama de conspiração-com-corrida-contra-o-tempo. Tal como Tom Cruise para Missão: Impossível, a voz de Aslam era o rosto ideal para viver agentes ou homens comuns implacáveis salvando o dia. A melhor fase desse segmento veio da parceria com Jaume Collet-Serra, com o cineasta espanhol aproveitando o máximo do suspense que tinha em mãos, exceto por essa fase, Neeson era apenas um rosto para um nicho derivado.

Se afastando de suas origens com o suspense para comandar blockbusters, Jaume retoma sua parceria com Neeson após cinco anos, agora como produtor do segundo remake do espanhol O Desconhecido. Com a promessa de um thriller tenso, nosso brucutu vive um empresário, pai de família que ao levar os filhos para escola recebe uma ligação informando que há uma bomba embaixo do seu assento e que não poderão sair do veículo. Diante dessa situação, é uma premissa que configuraria um suspense nível Celular: Um Grito de Socorro, porém, o mais chocante em A Chamada é sua habilidade de não gerar emoção.

A falta de carisma de Neeson está lá, mas ele se esforça para cumprir seu papel como brucutu mesmo com um roteiro fraco e repleto de escolhas estúpidas. O astro precisaria encabeçar pela última vez um suspense dirigido por Collet-Serra para fazer jus a despedida desse arquétipo de sua carreira, só que é evidente a impaciência do ator em interpretar um personagem sem inspiração numa trama que carece de substância. Entre ficar numa ligação com seu algoz, a ameaça (?) de uma bomba e salvar seus filhos, o olhar de Neeson pedia pela aposentadoria, e o público, esperando pelo momento que A Chamada ficaria envolvente além da dinâmica de apontar os riscos e nunca parecer tenso o suficiente.

Na teoria, a premissa possui todo os elementos para embalar um thriller frenético, melodramático e convencional, mas no processo de adaptação, a escrita de Christopher Salmanpour sacrificou o tempero que faltava para deixar a trama ao menos tragável, e com os diálogos apresentados fica difícil se simpatizar e acreditar que há realmente algum perigo. Nimród Antal, que já comandou o memorável Temos Vagas, não consegue criar um clima de urgência para um filme que se desenrola em sua maior parte dentro de um veículo pelas ruas de Berlim –  pior do que explosões de carros de executivos, é ainda ter espaço para manifestações e isso ser usado como artifício de uma suposta tensão. Há uma logística repetitiva, e os enquadramentos em detalhe da fotografia de Flavio Martínez Labiano sofrem para criar um ambiente sufocante entre as escolhas dos personagens.

Ainda que se assista A Chamada com as expectativas de que seja um thriller genérico com Neeson, há de surpreender com a ausências de razões convincentes para embarcarmos na aflição dos personagens no veículo e tampouco se importar com artifícios melodramáticos do roteiro que investe na redenção de um pai e marido insuficiente para os filhos e esposa. Chega a ser ridículo de esse ser o recurso utilizado para humanizar o enredo, do choque traumático, mesmo para um homem imperfeito, servir para reatar a relação familiar – o que entra a colagem da edição recortando momentos de quando a família Turner era feliz.  As tentativas de extrair qualquer emoção desse cenário é automática e protocolar, quase como um filme feito para TV com lições motivacionais.

Se este fosse o último papel de Neeson em um thriller de ação, seria pelo capricho de vender, no fim, um homem comum, mais humanizado, sendo levado ao seu limite. Se em El Desconhecido o protagonista experimentava um acerto de contas, em A Chamada, o Tom Cruise genérico – que no máximo sofre apenas arranhões – vive Matt, um típico homem incomum injustiçado pelas circunstâncias e que faz de tudo para provar sua inocência. Deveria ter algo honroso ao converter um personagem controverso para reciclar uma variante do arquétipo de ação?

A Chamada (Retribution – Alemanha, Reino Unido, 2023)
Direção: Nimród Antal
Roteiro: Christopher Salmanpour
Elenco: Liam Neeson, Noma Dumezweni, Lilly Aspell, Jack Champion, Arian Moayed, Embeth Davidtz, Matthew Modine
Duração: 91 min.

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