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Crítica | A Casa do Medo (2018)

A casa de Killgrave.

por Felipe Oliveira
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Lançado diretamente em DVD, a nova tentativa do roteirista Brandon Boyce de investir num suspense queria surfar na tendência da subversão ao trazer o típico A Casa do Medo, premissa que reproduzia os tropos de um home invasion, porém, com reviravoltas. Não que tenha reinventado a roda, mas O Homens das Trevas ficou lembrado por um tempo como um suspense inteligente que driblava o subgênero, e certamente foi base para Boyce espelhar tais efeitos com seu suspense que não só pretendia ser tenso, como também traçar um análogo com parábolas bíblicas.

Dois amigos manobristas e pilantras, Sean Falco (Robert Sheehan) e Derek Sandoval (Carlito Olivero), tocavam a vida com uma empresa de fachada estacionando carros ao mesmo tempo em que se aproveitavam dos pertences dos clientes. Ao invadir a casa de um usuário, a dupla se depara com uma mulher acorrentada, brutalmente violentada e amordaçada numa cadeira. Abandonar o recinto ou salvar a vida de uma pessoa e também serem alvo de um psicopata?

Sem muitas inspirações com seu roteiro, além de querer emular o conceito de outro filme, Boyce tinha como plano b uma parábola bíblica imaginando que essa seria uma maneira de elevar a premissa de invasão domiciliar que propôs: e se os invasores se deparassem com um elemento inesperado? Nesse caso, não se tornariam alvo da vítima, mas ficariam frente a uma situação que não calculavam. Nas mãos de Fede Alvarez, não se tratava de subversão por subversão, mas de elaborar uma dinâmica perturbadora e criativa, já Boyce, se contentou em como seria aplicada a lógica evidenciada no título original Bad Samaritan (Mau Samaritano, em tradução livre).

Resumindo em poucas palavras a parábola citada no livro de Lucas, Jesus deixou uma clara lição a ser seguida: fazei o bem, não importa a quem. Já que o título anuncia o inverso de uma boa ação, como aconteceria a inversão de papéis? O primeiro ato de A Casa do Medo é o que surge como o argumento mais firme de sua narrativa e que também funciona como um prato cheio para os fãs de suspense. A construção de tensão para o cenário perverso que o protagonista encontra é desesperador, mas antes mesmo de ir mais a fundo nesse aspecto, a direção muda o rumo para um terreno mais familiar.

A escolha de David Tennant para dar vida ao violento Cale não foi em vão, ainda mais por ter interpretado o marcante Killgrave, o que torna as comparações inevitáveis. Para piorar, estamos diante de um enredo que não se preocupou em explorar mais do passado do carrasco, apenas se apoiou no “estereótipo” de David – sendo isso sua performance em Jessica Jones – para dar manifestar um vilão que tenta parecer um serial killer com ares de assassino de filmes slasher. Derrapando aos poucos no que tinha começado com o pé direito, a trama do mau samaritano cometia a falha de não explorar mais da ideia inicial, e sim, repetir uma série de exercícios que títulos do gênero já cansaram a fórmula. 

Seguindo uma lógica preguiçosa – e se o homem cego de Don’t Breathe fosse o Killgrave -, para demérito das más inspirações e escolhas narrativas – e se pudéssemos trabalhar a humanidade de um serial killer falando de seu passado ?- as sacadas interessantes da direção de Dean Devlin na construção da trama de caça de gato e rato entre o vilão e protagonista iam se perdendo nas propostas ridículas do roteiro em vender A Casa do Medo como um argumento sólido e fora da curva. “Mas e se em um filme de invasão domiciliar não encontrassem um bom samaritano hospitaleiro, e sim um psicopata, teríamos um mau samaritano…?“, sério? 

A Casa do Medo (Bad Samaritan – EUA, 2018)
Direção: Dean Devlin
Roteiro: Brandon Boyce
Elenco: Robert Sheehan, David Tennant, Carlito Olivero, Kerry Condon, Jacqueline Byers
Duração: 110 minutos

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