- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos outros episódios da série, e, aqui, todo o nosso material de Game of Thrones.
Não sei se é impressão minha, mas ao final de Os Plebeus fiquei com a sensação de que a narrativa do seriado não se moveu ou andou tão pouco depois da conclusão de O Regente que é difícil sacudir o sentimento de frustração com a direção que os roteiristas têm dado à história central da Dança dos Dragões e aos eventos em torno da guerra civil. Eu entendo que ação e espetáculo estão longe de serem os principais atrativos de Westeros, mas senhor, haja paciência com esses núcleos modorrentos que andam em círculos, cheios de superficialidades políticas e que não trazem qualquer progressão dramática para os personagens.
Comecemos, novamente, pelas viagens alucinógenas de Daemon. Parem para recapitular um instante: o rei consorte está em Harrenhal desde o segundo episódio (!) e, quatro semanas depois, essa historinha de castelo amaldiçoado não mostrou ao que veio. Confesso que é bacana ver Paddy Considine fazendo uma participação na temporada, mas a cena entre os irmãos é só mais um momento desconexo que não agrega quase nada ao arco de Daemon, tampouco serve para a narrativa principal. Agora que o personagem efetivamente deixou o castelo, qual é a conclusão que tivemos dessa sua jornada supostamente pessoal? Que ele é um babaca ambicioso e invejoso? Já sabíamos disso há muito tempo. Que desperdício de tempo.
A sensação com os núcleos em Driftmark e no Vale são praticamente as mesmas: total indiferença. É difícil de entender a razão de Corlys e Rhaena sequer terem tempo de tela, considerando o quão superficiais são os desenvolvimentos desse lado narrativo. Quer uma prova? Me diz aí, sem pensar muito, qual é a missão de Rhaena? Se você lembrou, meus parabéns. O curto tempo dado aos personagens é basicamente estofo para um episódio arrastado, esticando eventos desnecessários com uma barriga narrativa que parece servir a um único propósito: empurrar a história para a reta final da temporada.
Finalmente, Dragonstone e Porto Real continuam sendo os destaques da temporada, mas, aqui, em um episódio que decepciona em cima das promessas dos capítulos anteriores. As decisões idióticas de Aemond mostram suas consequências, mas não entendo a razão do povo ter tão pouco destaque, a despeito do título do episódio. Depois de toda essa construção para a importância dos plebeus, não acredito que as rápidas cenas de algumas pessoas reclamando por comida e depois atacando a família real sejam realmente dignas do que foi prometido. É interessante, claro, ver a continuidade da população com papel ativo e possivelmente de reviravolta da guerra, mas não gostei da estrutura ou da montagem desse “personagem”. O mal uso de Ulf White e Hugh Hammer é representativo dessa crítica negativa.
Felizmente, o drama familiar é uma constante de qualidade na minha opinião. As interações dos Verdes é sempre intensa, com destaque particular para a sequência de ameaças veladas de Aemond para Aegon. Também estou finalmente gostando da participação de Strong, apesar de ainda notá-lo como genérico – quem sabe o retorno de Otto torne essa guerra interna intrigante. Da mesma forma, gosto do núcleo em Dragonstone, com um desenvolvimento vagaroso, mas enfático em relação à busca por novos montadores de dragões. Ambas as cenas de Seasmoke são previsíveis, mas são bem dirigidas, seja tecnicamente, seja na construção de tensão. Só gostaria de ter visto um pouco mais dessa procura.
De maneira geral, senti que o episódio desperdiçou tempo com outras questões e não se aproveitou dos melhores núcleos: os plebeus e os novos montadores de dragões, que efetivamente impactam a guerra civil. É curioso como esse episódio é mais balanceado que o anterior em termos de mesclar momentos de mais ação com outros de conversação, mas o considero mais redundante, muito por conta da falta de progressão da história. A sequência final de Rhaenyra e Misarya se beijando, algo que não foi bem estabelecido ou construído anteriormente, é um desfecho representativo de um roteiro perdido e arrastado que se desvia muito e não sabe como melhor utilizar a história multifacetada de Westeros. Aposto minhas fichas que o final da temporada vai ser grandioso e épico, mas duvido muito que a narrativa em torno das batalhas vai se sustentar com substância, justamente pela falta de desenvolvimento quando o texto precisa repousar e ser paciente.
A Casa do Dragão – 2X06: Os Plebeus (House of The Dragon – 2X06: Smallfolk) | EUA, 21 de julho de 2024
Criação: Ryan J. Condal, George R. R. Martin
Direção: Andrij Parekh
Roteiro: Eileen Shim
Elenco: Matt Smith, Emma D’Arcy, Rhys Ifans, Steve Toussaint, Sonoya Mizuno, Fabien Frankel, Olivia Cooke, Matthew Needham, Tom Glynn-Carney, Ewan Mitchell, Phia Saban,Harry Collett, Bethany Antonia, Phoebe Campbell, Jefferson Hall, Kurt Egyiawan, Kieran Bew, Abubakar Salim, Paddy Considine
Duração: 58 min.