- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos outros episódios da série, e, aqui, todo o nosso material de Game of Thrones.
Confesso que dei a nota acima relutantemente, porque queria dar uma avaliação maior, como muitos dos leitores provavelmente acreditam que o episódio merece. O Dragão Vermelho e O Dourado tem momentos de um espetáculo absoluto que é fácil terminar o episódio em uma nota de euforia e êxtase, com a guerra civil dos Targaryens finalmente alçando o escopo esperado com as batalhas das criaturas monstruosas.
Falemos, portanto, das qualidades do capítulo dessa semana. Dirigido por Alan Taylor, com roteiro do showrunner Ryan Condal, o episódio é construído para dar base à batalha final em Rook’s Rest, mantendo a rivalidade entre Aemond e Aegon como centro dramático do conflito. Isso é algo que vinha sendo desenvolvido desde o início da série, mas que ganhou novos contornos no episódio anterior durante a sequência no bordel, e agora nesse episódio, quando Aemond (junto de Cole) planeja o ataque sem o aval do Rei, humilhando-o em frente ao conselho.
Do outro lado, uma Rhaenyra que finalmente desistiu de uma resolução pacífica (mais disso à frente) resolve contra-atacar, com Rhaenys se oferecendo para ir à linha de frente. O que segue a partir disso é um blockbuster da melhor qualidade possível, passando pela impressionante batalha aérea (com exceção leve de alguns shots dos Targaryens em cima das criaturas), o aterrorizante poder bélico dos dragões em uma exibição visualmente magnífica e uma fotografia limpa, clara, que apenas enfatiza a qualidade da computação gráfica. Chega de sequências com iluminação escura!
Não só os dragões no ar, mas todas as sequências do conflito são de detalhes visuais empolgantes, como as garras das feras se rasgando, o sangue escorrendo e matando soldados, e a ótima montagem entre momentos panorâmicos que ressaltam a escala da batalha e outros próximos que reforçam o poder dos dragões – o shot de Vhagar esmagando o pescoço de Meleys é brutalmente fantástico. Gosto muito de como Taylor também destaca os Targaryens entremeio à carnificina, com a impulsividade de Aegon, a traição de Aemond e a honra kamikaze de Rhaenys ganhando momentos representativos durante o combate.
O desenvolvimento até o clímax do episódio, porém, não é exatamente excelente. Até aprecio a previsibilidade dos acontecimentos, porque é tudo orgânico, da investida idiota de Aegon, a emboscada de Aemond, até o sacrifício de Rhaenys, mas é difícil não notar as obviedades e superficialidades do roteiro. Não é querendo me repetir, mas as maquinações políticas por trás do conflito continuam inexpressivas, seja a partir das decisões precipitadas de todos os personagens, seja dos diálogos expositivos que acompanham as interações dos personagens. A sequência de Alicent expondo que Aemond é basicamente um fantoche é representativa do tom pouco sutil e criativo da produção.
Também não gosto da abordagem em torno de Rhaenyra decidir iniciar o conflito por conta de um “bem maior”, em razão da Canção de Fogo e Gelo, basicamente tornando os Pretos os heróis da história, enquanto os Verdes continuam retratados como vilões. É a questão maniqueísta que continuo julgando como deslocada no tipo de narrativa desse universo. Por fim, não sei exatamente o que considerar sobre o núcleo de Daemon, que até acreditei ser interessante, mas que nesse episódio não parece levar a lugar algum.
Aposto que muitas pessoas vão discordar das minhas ponderações sobre o roteiro do episódio, e tá tudo bem. O Dragão Vermelho e O Dourado é um espetáculo visual eletrizante, emocionante e promissor para os futuros desdobramentos da guerra civil agora que os dragões entraram na brincadeira, tornando fácil relevar certas facilidades e superficialidades narrativas, além de que o drama familiar é uma constante de qualidade, especialmente quando vermos as reações de ambos os lados para a morte de Rhaenys e a possível morte de Aegon. Sem dúvida alguma, porém, o episódio é fantasia épica da melhor qualidade, sedimentando um tipo de produção que eleva o escopo e a escala do que séries televisivas podem fazer. Enfim, a dança começou. A partir daqui a destruição só deve aumentar.
A Casa do Dragão – 2X04: O Dragão Vermelho e o Dourado (House of The Dragon – 2X04: The Red Dragon and the Gold) | EUA, 07 de julho de 2024
Criação: Ryan J. Condal, George R. R. Martin
Direção: Alan Taylor
Roteiro: Ryan J. Condal
Elenco: Matt Smith, Emma D’Arcy, Rhys Ifans, Steve Toussaint, Eve Best, Sonoya Mizuno, Fabien Frankel, Olivia Cooke, Matthew Needham, Tom Glynn-Carney, Ewan Mitchell, Phia Saban,Harry Collett, Bethany Antonia, Phoebe Campbell, Jefferson Hall, Kurt Egyiawan, Kieran Bew, Abubakar Salim
Duração: 56 min.
