- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos outros episódios da série, e, aqui, todo o nosso material de Game of Thrones.
Confesso que tenho uma opinião complicada de Rhaenyra, a Cruel. Por um lado, aprecio o tom paciente da narrativa, algo que cheguei a pontuar na crítica do episódio anterior, já que, talvez por conta da morte de Lucerys, a guerra fosse iniciar agora. Não é o que acontece aqui, felizmente, em um episódio que lida com o luto, a culpa e o sentimento de vingança que percorre as consequências do assassinato do príncipe. Por outro lado, o roteiro de Sara Hess sucumbe totalmente ao tom dramalhão da série, que, como já disse diversas vezes, consigo apreciar, mas que aqui em diversos momentos passa do ponto para mim.
Quase todo mundo nesse episódio parece um pouco mais burro do que o normal, com a grande maioria dos personagens agindo na emoção, dando chiliques e esquecendo quase que por completamente a razão. São tantas cenas para usar de exemplo que é difícil escolher, mas a sequência de Otto Hightower continuamente insultando Aegon II ou então Criston Cole da maneira mais hipócrita possível fazendo uma ceninha com Arryk vêm à mente quando tento visualizar o texto cheio de exageros e completamente inimigo da sutileza de Hess. É como se diversos personagens esquecessem as consequências de seus atos, todos agindo na impulsividade.
Quando o roteiro lida com a comoção geral de uma maneira mais delicada, acredito que o episódio encontra grandes momentos dramáticos. A cena do funeral é particularmente perturbadora, com uma direção eficiente de Clare Kilner, enfatizando principalmente a performance de Phia Saban como Helaena (vi muitas pessoas criticando a sua atuação, mas confesso estar na contramão da opinião geral, porque penso que a atriz encontra bem o equilíbrio entre a personalidade “maluquinha” e o lado humano da personagem). A sequência de Rhaenyra confrontando Daemon também é um destaque, com boas atuações, diálogos cortantes e um conflito emocional que chama a atenção.
O drama familiar se mantém como uma constante ao longo do episódio, seja entre os Hightower, Targaryens e até os irmãos gêmeos Erryk e Arryk. Se o texto de Hess tivesse um pouco mais de tato e de refinação na construção de algumas cenas, poderia ser um episódio muito melhor, que acaba lidando com as consequências de Um Filho por Um Filho sempre pelo lado da emoção, mas nunca pelo lado racional, político e mais orgânico que o episódio anterior pareceu sugerir que seria a direção da temporada. Talvez a ideia aqui era realmente de fazer algo mais sentimental, mais à flor da pele como coloquei no início do artigo, mas fiquei um pouco decepcionado.
O segundo episódio dessa temporada é puro suco de A Casa do Dragão, para bem ou para mal. Algumas ideias são desperdiçadas, como o uso político da morte de Lucerys ou então a “traição” de Daemon, ambos com um tratamento superficial na história (pelo menos até aqui), mas pelo menos a abordagem paciente é mantida, com diversos núcleos e coadjuvantes lentamente desenvolvidos. Acredito que o saldo final de Rhaenyra, a Cruel ainda é razoavelmente positivo, com bons momentos de tensão familiar, mas faltou malícia e engenhosidade em um roteiro expositivo e descomedido além da conta, mesmo para os padrões melodramáticos da produção.
A Casa do Dragão – 2X02: Rhaenyra, a Cruel (House of The Dragon – 2X02: Rhaenyra the Cruel) | EUA, 23 de junho de 2024
Criação: Ryan J. Condal, George R. R. Martin
Direção: Clare Kilner
Roteiro: Sara Hess
Elenco: Matt Smith, Emma D’Arcy, Rhys Ifans, Steve Toussaint, Eve Best, Sonoya Mizuno, Fabien Frankel, Olivia Cooke, Matthew Needham, Tom Glynn-Carney, Ewan Mitchell, Phia Saban,Harry Collett, Bethany Antonia, Phoebe Campbell, Jefferson Hall, Kurt Egyiawan, Kieran Bew, Abubakar Salim
Duração: 59 min.
