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Crítica | A Casa do Dragão – 1X10: A Rainha Preta

A perda de uma mãe.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos outros episódios da série, e, aqui, todo o nosso material de Game of Thrones.

O último episódio da primeira temporada de A Casa do Dragão segue diretamente os eventos de O Conselho Verde. Em uma série com tantos saltos temporais, chega a ser curioso um episódio tão sequencial. Aqui, acompanhamos Rhaenyra, sua família e seus aliados descobrindo sobre a morte do rei Viserys, a coroação de Aegon II e o golpe dos Hightower. A herdeira oficial fica tão chocada com a descoberta que acaba perdendo seu filho. Logo em seguida, ela e seu próprio conselho precisam organizar como proceder frente à traição real em meio a sua própria família.

A Rainha Preta é basicamente uma justaposição dramática e cênica do episódio passado, substituindo Alicent por Rhaenyra lidando com uma coroação, seu próprio lado e estratégias da possível guerra civil eclodindo, e uma história comprimida em um único evento. Mas não chega a ser um episódio repetitivo, apesar das similaridades narrativas e temáticas. Vejo isso principalmente na diferença de papéis das personagens frente ao patriarcado, com Alicent coroando seu filho e servindo à homens, enquanto Rhaenyra é coroada, mas se vê enfrentada pelos desejos de guerra dos seus conselheiros masculinos, incluindo Daemon.

Eu realmente gosto da dicotomia feminina que o seriado criou com as duas amigas (independência X subserviência), e terminar a temporada com episódios sobre os dois ângulos é um desfecho narrativamente fechadinho e orgânico, estabelecendo as duas personagens como líderes da Dança dos Dragões. Até temos o retorno da simbologia da série com o parto e a consequente perda de um bebê (batalha da mulher, se lembram bem, repetida diversas vezes ao longo da temporada), demonstrando de maneira simbólica tanto a dor das notícias para a personagem quanto como Rhaenyra deixa o papel maternal e assume o peso da coroa. Afinal, aceitar uma mulher como rainha é difícil para uma sociedade feudal, mas imaginem coroar uma mulher grávida (mãe)?

A cena da coroação de Rhaenyra no funeral de seu filho (estão entendendo a simbologia que digo?) é muito bonita, filmada com um certo orgulho da personagem, mas com uma camada de melancolia por conta das circunstâncias. Algumas nuances positivas nascem deste evento, como a figura satisfeita de Rhaenys com uma mulher coroada (os sorrisos dela chegam a ser fofos), e também o orgulho ferido de Daemon, representado neste episódio com aqueles elementos de ambição e vilania do começo da série, bem melhor do que seu recente papel de “bom marido frustrado”.

A parte política continua servindo para contextualizar certas ações dos personagens, como a viagem de Lucerys e Jace, do que ser interessante por si mesmo – meio que desisti deste aspecto da narrativa. Mas gosto dos diversos enfrentamentos dramáticos do episódio que nascem do evento, seja a canastrice de Daemon ao ser violento com Rhaenyra ou a cena entre Corlys e Rhaenys, resultando na sua participação na mesa da rainha. Os escândalos internos e as brigas entre parentes continuam entretendo muito, principalmente quando a direção assume certos aspectos teatrais e trágicos.

O que eu não gosto em A Rainha Preta é a construção para fazer o público torcer por Rhaenyra. Ela quer ser uma rainha para unir os reinos, não que derramar sangue, quer encontrar uma saída diplomática ou estratégica para evitar a guerra e, ao final, perde outro filho, com um shot final evidenciando a dor de uma mãe indo à guerra por luto e vingança. Qual é, chega a ser covardia o que eles fazem com os verdes, colocando-os como verdadeiros antagonistas dessa rainha honrosa, desinteressada em poder e que perdeu seu filho amado. Até eu estou torcendo pela Rhaenyra.

Como reiterei nas críticas dos últimos episódios, a falta de ambiguidade para os lados da Guerra Civil está sendo um aspecto negativo para mim. Felizmente, existe um vácuo que nasce de Rhaenyra escolher a guerra por emoção e não razão: a vitória do sistema patriarcal. Chega a ser pessimista, não é mesmo? Bem característico de GoT nesse sentido, apesar do maniqueísmo. Tanto Alicent e Rhaenyra preferiam outra rota, mas vão acabar botando fogo em tudo. Também ajuda bastante quando o estopim da guerra é uma sequência tão espetacular quanto Vhagar comendo Arrax e Lucerys. Ei, Viserys nos avisou que os Targaryens não controlavam os dragões, se lembram? Esse poderio militar vai à guerra agora, liderados por mulheres, mas exatamente como os homens querem.

A Casa do Dragão – 1X10: A Rainha Preta (House of The Dragon – 1X10: The Black Queen) | EUA, 23 de outubro de 2022
Criação: 
Ryan J. Condal, George R. R. Martin
Direção: Greg Yaitanes
Roteiro: Ryan J. Condal, Charmaine De Grate
Elenco: Matt Smith, Emma D’Arcy, Rhys Ifans, Steve Toussaint, Eve Best, Sonoya Mizuno, Fabien Frankel, Olivia Cooke, Graham McTavish, Ryan Corr
Duração: 63 min.

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