- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos outros episódios da série, e, aqui, todo o nosso material de Game of Thrones.
Apesar de ter sido recebida com enormes aplausos pelo público e pela crítica especializada, o episódio de estreia de A Casa do Dragão também foi bastante criticado por uma parcela de espectadores que acharam Os Herdeiros do Dragão sem personalidade, incluindo o ancião aqui do site. Apesar de discordar até o momento sobre esse lado genérico da série (só tivemos dois episódios, vale lembrar), consigo entender de onde vem as críticas. Como expus no texto do primeiro capítulo, o seriado tenta resgatar a essência da politicagem e as tramoias entre quatro paredes do começo de GoT, mas com um roteiro mais seguro, menos personagens e subtramas, e num cenário contido nas paredes sem vida e fotografia fria do palácio de Porto Real.
O Príncipe Canalha é basicamente uma confirmação do que disse na introdução da história dos Targaryens. O que temos aqui é essencialmente uma narrativa de dinastia e realeza, com o texto de Ryan J. Condal mergulhando ainda mais na linguagem melodramática que sempre existiu no universo de George R.R. Martin, mas se abstendo das proporções épicas e fantasiosas da série original. Aliás, o episódio como um todo me lembrou bastante os programas sobre a aristocracia e monarquia britânica que o Reino Unido tem produzido há décadas, à la Downton Abbey, seus problemas domésticos e um drama típico deste cenário: as obrigações do Estado em rota de colisão com as obrigações da família.
O dilema é concentrado em Viserys tendo que escolher uma nova esposa, e em Rhaenyra aceitar o casamento enquanto está em luto, mas também vemos ramificações desse tema com Rhaenys e Corlys oferecendo sua filha de 12 anos para se casar com o Rei, e com Alicent sendo obrigada a flertar com seu monarca. São típicos dramas de cortes, passando pelo matrimônio, a pressão de lordes, a vida subjugada de mulheres nesse contexto e os escândalos da coroa, com aquela “reviravolta” final de Viserys escolhendo Alicent saindo diretamente de soap-operas (momento previsível para nós, mas surpreendente para todos no salão).
O que torna O Príncipe Canalha menos interessante para mim é a falta de um lado político e militar mais bem elaborado e desenvolvido, seja em diálogos, seja em situações de conflito. Tudo aqui é demasiadamente focado em relacionamentos (temos até cenas de Daemon tendo problemas românticos com sua meretriz), o que rende alguns momentos genuinamente e intimamente bonitos como a sequência de Rhaenyra e Alicent falando sobre luto (adorei a composição dos shots delas em torno das velas) e também da princesa e o Rei sendo honestos sobre sua perda e os sacrifícios da coroa, mas há uma falta de progressão narrativa muito grande.
Primeiro que não precisávamos de um episódio quase inteiro sobre a decisão matrimonial de Viserys, algo potencializado pela conversa repetitiva e desnecessária com o Lorde Lyonel, e também pela falta de desenvolvimento narrativo do lado de Daemon e a guerra pela coroa, que é a linha principal do seriado. O único momento que ganhamos sobre isso é o embate em Dragonstone, que achei mal estabelecido e mais birrento do que uma situação política verdadeiramente inteligente. A execução da cena em si tem seus méritos, passando pela direção grandiosa do local e da presença do dragões, mas faltou mais tensão ao momento e faltou um diálogo mais afiado entre os herdeiros com as réplicas e tréplicas cortantes que estamos acostumados neste universo.
Se Os Herdeiros do Dragão é um ótimo episódio de introdução, O Príncipe Canalha é um bom episódio de transição. De forma enrolada, estagnada e um pouco tediosa, o segundo episódio nos dá muitos prenúncios e pistas do que veremos nos próximos capítulos, começando pela morte de Viserys através de diabetes; o provável conflito entre Rhaenyra e os Hightower pela coroa; a aliança dos príncipes canalhas para tomar o Trono de Ferro; e, claro, as misteriosas figuras que vemos no início e no final da montagem, insinuando bem-vindos conflitos políticos e militares para estimular as brigas monárquicas. Confesso, porém, que esse episódio me levantou receios, pois leva A Casa do Dragão para o caminho que temia: focar demais nos melodramas e menos nas conspirações políticas.
A Casa do Dragão – 1X02: O Príncipe Canalha (House of The Dragon – 1X02: The Rogue Prince) | EUA, 28 de agosto de 2022
Criação: Ryan J. Condal, George R. R. Martin
Direção: Greg Yaitanes
Roteiro: Ryan J. Condal
Elenco: Paddy Considine, Matt Smith, Emma D’Arcy, Rhys Ifans, Steve Toussaint, Eve Best, Sonoya Mizuno, Fabien Frankel, Milly Alcock, Emily Carey, Graham McTavish
Duração: 53 min.