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Crítica | A Carreira de Suzane

por Luiz Santiago
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Em seu segundo (de seis) contos morais, o diretor Éric Rohmer estabelece uma amizade complicada entre dois homens e orbita esse Universo com a presença de mulheres com uma dose peculiar de complicação, adicionando não só uma certa competitividade entre os jovens, mas também algumas atitudes morais contestáveis, mostrando um pouco a personalidade de cada envolvido e mostrando como a imoralidade consciente, em algum aspecto da vida, estará presente na jornada de cada um ao menos por um tempo, especialmente na juventude.

Bertrand (Philippe Beuzen) e Guillaume (Christian Charrière) são apresentado como jovens bem diferentes entre si. Um tem o clássico jeito machista, dominador, assediador e canalha revestido de sedutor e charmoso Don Juan, enquanto outro está constantemente preocupado em estudar para passar nos exames e tem dificuldade até em começar uma conversa com uma garota. Não se trata, porém, do contemporâneo clichê do homem fraco e inapto versus o pegador irresistível. Ambos conseguem sair com as mulheres que gostam, mas a dinâmica do flerte, da aproximação e do tratamento de cada um deles para com as mulheres é majoritariamente diferente, cabendo aí também a diferença de habilidade e autoconfiança de um para o outro.

Apresentados os homens, vemos como a protagonista, Suzane (Catherine Sée) chega para “abalar” um pouco essa relação. Como é comum nos filmes de Rohmer, mesmo no início de sua carreira, o desejo sempre está acompanhado de complicações que são também filosóficas ou assumidamente emocionais, e aqui pode-se considerar diversos desejos e diversas barreiras ao longo do filme, pois esses mesmos personagens demonstram empenho e vontade em conseguir não apenas ser feliz no amor, mas também no trabalho e na faculdade. A frustração, como se vê, vem por vários caminhos.

O protagonismo da juventude não nos engana nem um pouco. Nós entendemos a imaturidade nas relações e ações, as constantes descobertas e as dificuldades típicas da vida dos jovens aparecerem na tela, mas o diretor não nos deixa esquecer por um instante que se trata de um conto moral, de modo que em toda a jornada vemos um ou outro agir de forma vergonhosa e condenável, entre o aproveitamento, a dominação, o engano e o destrato do outro… isso para logo em seguida o predador tornar-se presa. Ou algo parecido.

Mas há também uma troca de experiências completando o cotidiano de cada um, e o resultado de como eles se saem após um pequeno “teste do tempo”. O final de A Carreira de Suzane é meio irônico e também cínico, mas não deixa de ser realista. Os personagens teatrais do diretor se unem em um espaço ainda não visitado pela câmera (uma piscina) e ali a narração final sobre a tal “carreira” da protagonista faz uma visita à realidade, talvez o raiar da maturidade para quase todos. Constata-se então que alguns simplesmente irão desaparecer de suas vidas, outros conseguirão algo impensável, e outros ainda ficarão apenas com a dúvida, a reprovação e a vontade de querer ser. O tempo das realizações, como sabemos, não é o mesmo para todas as carreiras.

A Carreira de Suzane (Six Contes Moraux: 2 – La Carrière de Suzanne) — França, 1963
Direção: Éric Rohmer
Roteiro: Éric Rohmer
Elenco: Catherine Sée, Philippe Beuzen, Christian Charrière, Diane Wilkinson
Duração: 54 min.

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