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Crítica | A Boneca Vampira

Inspirado no império gótico da Hammer, eis o primeiro filme da japonesa Trilogia Sanguinária.

por Leonardo Campos
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As traduções de Drácula, romance do escritor irlandês Bram Stoker, para o código linguístico japonês, sempre foram muito bem recebidos, estabelecendo fascínio e curiosidade para um público receptor que vivencia uma cultura diferenciada dos esquemas ocidentais. Na década de 1970, com a globalização dos filmes realizados pelo estúdio britânico Hammer, o terror estava em alta e, conscientes deste apego, produtores japoneses decidiram investir em diversas narrativas na temática, sendo A Boneca Vampira a primeira parte da Trilogia Sanguinária, intermediada por O Lago de Drácula e finalizada com A Maldição de Drácula, histórias sem um direcionamento com linearidade e explicitação de elementos narrativos para facilitar a adesão dos espectadores e entregar uma trama explicadinha. As três produções em questão se desenvolvem como pesadelos, guiadas por um clima sombrio estranho, onde nem tudo que parece ser, de fato, é, o que torna a sua contemplação não apenas entretenimento, mas um denso exercício de análise.

Dirigido por Michio Yamamoto, cineasta ainda com pouca experiência ao assumir a abertura desta trilogia, A Boneca Vampira nos traz o seguinte mote dramático: depois de uma viagem de negócios que dou quase metade de um ano no exterior, Kazuhiko (Atsuo Nakamura) volta para o lar e decide visitar de imediato a namorada Yuko (Yukiko Kobayashi), jovem que vive numa isolada região do território japonês, numa casa de campo idílica, mas também com aspecto sombrio, estruturada pelo design de produção de Yoshifumi Honda, responsável por emular peculiaridades do império gótico da Hammer, bastante popular e relido em diversas narrativas vampíricas realizadas ao redor do mundo, uma verdadeira globalização de Drácula.

Neste trajeto, o personagem desaparece. Uma semana depois da jornada, muitos questionamentos surgem, pois as circunstâncias de sumiço para o responsável Kazuhiko são demasiadamente misteriosas. O que pode ter acontecido? Para investigar os desdobramentos desta situação nada convencional, entram em cena a sua irmã, Keiko (Kayo Matsuo), juntamente com o companheiro, Hiroshi (Akira Nakoo), para tentar resolucionar o problema que preocupa a todos. Nesta empreitada, descobertas macabras são delineadas, pois a cunhada e a mãe da namorada de Kazuhiko guardam muitos segredos, alguns assustadores demais, para se tornarem de conhecimento público. E assim, começa uma jornada de sustos, sangue e imagens trevosas.

Lançado em 1970, A Boneca Vampira é o começo de uma trilogia sobre vampiros, popular até, mas sem o mesmo apelo que outras iniciativas de terror realizadas pelos japoneses. Breve, com apenas 71 minutos, o filme tem roteiro de Ei Ogawa e Hiroshi Nagano, dupla que desenvolve a história dentro de padrões narrativos que mesmo após toda a popularização do horror japonês proveniente de O Chamado e O Grito, ainda soam estranhos para nossos costumes enquanto espectadores mais passivos. Com direção de fotografia de Kazutami Hara, a produção consegue estabelecer em cena uma atmosfera gótica eficiente, num clima que se amplia com a curiosa textura percussiva de Riichiro Hanabe, criada para manter na malha fílmica uma sensação angustiante de presenças sobrenaturais dedicadas ao aniquilamento dos personagens desavisados, mergulhados numa macabra trama de horror que eles sequer queriam ter adentrado. Neste processo, nos levam junto.

A Boneca Vampira (「幽霊屋敷の恐怖血を吸う人形, Japão– 1970)
Direção: Michio Yamamoto
Roteiro: Ei Ogawa, Hiroshi Nagano
Elenco: Yukiko Kobayashi, Atsuo Nakamura, Yoko Minazake, Kayo Matsuo, Akira Nakao
Duração: 85 min.

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