O romance Drácula, do escritor Bram Stoker, estabeleceu as bases para a mitologia dos vampiros. O irlandês, em sua longa jornada de pesquisa, organizou as lendas europeias em torno desta temática e criou um volumoso livro que dialogava com o vampirismo por meio da figura de Drácula, o conde misterioso da Transilvânia condenado a viver pela eternidade, tendo o sangue como substância básica para assegurar a sua manutenção. Antes, por sua vez, outros autores trafegaram pela temática, pavimentando um longo caminho até 1897, ocasião da publicação de Stoker. A Árvore Assassina, de Phil Robinson, é uma destas histórias predecessoras, mais voltada para o ato de sugar a energia alheia por meio de uma planta assassina. Aqui, não temos um conde mordendo pescoços e estabelecendo maldições para as suas vítimas. No conto dinâmico e divertido, de contemplação cinematográfica dos acontecimentos, somos informados pelo narrador sobre uma perigosa árvore na floresta de Núbia, narrativa que renderia uma ótima adaptação audiovisual dentro do segmento conhecido por horror ecológico.
No horror ecológico, subgênero profícuo do cinema e com várias histórias no âmbito da literatura, a humanidade precisa lidar com as forças da natureza. São aquelas tramas com animais perigosos, assassinos, face a face com humanos que driblam criaturas colocadas em cena num curioso processo de antropomorfização. Predadores Assassinos, Águas Rasas, Anaconda, Tubarão, Crocodilos: A Morte Te Espera, dentre outros, figuram o painel deste tipo de narrativa. A Árvore Assassina, por sua vez, está mais próxima de As Ruínas, filme de horror sobre um grupo de pessoas perseguidas por raízes maléficas e sugadoras da energia vital dos personagens. No conto de Phil Robinson, o narrador não está diante dos acontecimentos, mas traz para o leitor a experiência contada por seu tio, um desbravador de mistérios da natureza.
Naturalista britânico, Phil Robinson nasceu na Índia e atuou como jornalista por longos anos. Deixou um extenso painel de histórias voltadas aos temas humorísticos, mas concebeu também este conto com a temática vampírica, além de ter publicado Medusa e O Último Vampiro, material literário que dialoga com o assunto profícuo no século XIX. A sua publicação é considerada, para muitos especialistas, como um dos primeiros trabalhos voltados ao reduto das plantas assassinas na ficção, abrindo espaço para O Terror Roxo, de Fred M. White, e O Pavilhão, de E. Nesbit, dentre outras histórias correlatas. Em seu conto, temos uma breve explicação inicial sobre o tom absurdo da situação narrada por seu tio, uma espécie de preparação para o leitor entrar na aventura sem se sentir tão estranho. Depois do preâmbulo, o que vem é só sufoco.
Ao descrever o relato, as fontes diminuem. É uma ideia editorial para focar na exposição do discurso do outro. Somos informados, mais uma vez, da credulidade da história, contada por seu tio por parte de mãe. A Árvore Assassina relata a magnitude maléfica da planta que destruía tudo que gravitava ao seu redor. Animais selvagens que passavam perto eram tragados, viajantes que pairavam em sua sombra para descansar do sol escaldante eram sugados, como se a planta fosse um monstro sem piedade. Sugadora da energia para a sua manutenção, esta árvore mantinha a sua potência com base na vitalidade alheia. Era, em suma, uma planta vampira. O tio conta sobre um jovem destroçado pela força fatal da natureza, delineia o embate e a morte com a árvore assustadora, bela em seu visual, mas mortal em suas atribuições naquele espaço. Após o tio estabelecer um confronto, perde a suas forças, mas ainda mantém na memória a experiência com aquela gigantesca máquina de matar, numa história que marca para sempre a sua vida, deixando também boquiabertos e assustados aqueles que acompanham o relato.
Dinâmico e divertido, o conto é bastante honesto com sua proposta central e falha estruturalmente apenas em seu desfecho, aparentemente apressado e morno, sem os cuidados de sua abertura mais detalhista. A Árvore Assassina é um dos 25 contos publicados entre 1867 e 1940, imersos na palavra-chave vampiro e publicado na coletânea Herdeiros de Drácula, traduzida por Flora Pinheiro e Mariana Kohmert. Na luxuosa edição da Harper Collins, publicada por aqui em 2017, a organização traz os contos precedidos de uma breve biografia de seus autores, numa diagramação e disposição do material de leitura confortável para o leitor que embarca nesta volumosa viagem pelos confins do vampirismo. Em linhas gerais, um conto envolvente e, mesmo com sua temática “absurda”, interessante para pensarmos o vampirismo em perspectivas distintas. Nesta mesma seleção, encontramos outros clássicos pouco conhecidos, tais como A Parasita, de Sir Arthur Conan Doyle, e o poema O Vampiro, de Vasile Alecsandri.
A Árvore Assassina (The Man-Eating Tree) — Reino Unido, 1881
Publicação original: Under the Punkah
Autoria: Phil Robinson
Editora: Harper Collins
Tradução: Giovana Mattoso, Flora Pinheiro, Mariana Kohnert
Páginas: 8