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Crítica | 9-1-1 – 4ª Temporada

Um retorno mais emocionante da frenética série de atendimento emergencial.

por Leonardo Campos
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Observada panoramicamente, as duas primeiras temporadas de 9-1-1 foram as melhores até agora. Aquele lance de dar destaque aos aspectos do trabalho em equipe, elemento importantíssimo para compreensão do magnetismo entre os personagens, faz-se importante nesta análise para o quarto ano, já aprovado para uma quinta incursão, mas a sensação é a de mesmice entre os dois blocos narrativos da terceira e desta nova empreitada. Chocar parece o foco dos realizadores, algo totalmente compreensível quando lidamos com situações adversas envolvendo desastres naturais e inconsequências humanas. Há, no entanto, uma espécie de esgotamento de ideias renovadoras e o desenvolvimento de mais arcos dramáticos para as figuras ficcionais desta série parece necessitar urgentemente de oxigenação. Sabemos que diariamente, os casos atendidos pelos serviços de emergência são similares, afinal, temos registros de atropelamentos, assaltos, acidentes de trânsito, vazamento de gás, estupro, assassinato, dentre outras celeumas. O lance é ver e rever isso constantemente, dentro de circunstâncias narrativas muito parecidas entre si. Por isso, o quarto ano de 9-1-1 é um divisor para nós que acompanhamos a jornada destes profissionais dedicados e sempre em risco.

Mais uma vez, Kristen Reidel e David Fury são predominantes na dramaturgia, autores dos textos comandados por Jennifer Lynch, Bradley Buecker, Chad Lowe, David Grossmann, Jann Turner, dentre outros, realizadores que melhoram alguns traços da temporada anterior, mas mantém o nivelamento da emoção com outros casos bizarros e aparentemente improváveis, observados pelas lentes da vida real e talvez não tão impossíveis assim. Aqui, uma mãe alcoólatra coloca a sua vida e a do filho em alto risco após uma recaída com desfecho desastroso para várias pessoas que acabam envolvidas num engavetamento com mortos e muitos feridos. Noutro momento, uma atividade sísmica abala a região próxima ao famoso letreiro de Hollywood e diversos desabamentos devastam moradias encantadoras, ao passo que permitem a descoberta de uma habitação que disfarçava o cárcere de mulheres grávidas em constante ameaça. A temporada ainda investe numa mulher desequilibrada após o término com o seu namorado, figura que decide observá-lo por suas câmeras do circuito interno da casa e, num jogo perigoso, manipular a inteligência artificial em diversos pontos, haja vista o seu acesso aos dados enquanto antiga frequentadora do espaço. Por um fio a situação não terminou em tragédia.

Diante do exposto, estes casos e outros momentos rocambolescos engendram os mecanismos da quarta temporada de 9-1-1, a série que tal como mencionei em análises anteriores, flerta com a aleatoriedade de muitas situações do cotidiano para fazer as coisas acontecerem. Os integrantes da tropa 118 seguem na resolução dos casos cada vez mais escabrosos e enfrentam também as adversidades que se colocam em suas rotinas diárias, pavimentadas por escolhas geralmente difíceis que colocam não apenas as possíveis vítimas em risco, mas a equipe que se dedica com os cuidados destes necessitados. No panorama das evoluções, o ano foi bem agitado e controverso para Buck (Oliver Stark), personagem que na temporada anterior, expôs aos poucos amigos a sua ida para sessões terapêuticas que envolve o seu medo da solidão como parte de um futuro imaginado. Desta vez, a sua conturbada relação com os pais será deflagrada, com segredos que parecem nos levar ao clichê do “fui adotado e não sabia”, caminho desviado pelos roteiristas que empregam outra faceta ao drama do jovem personagem conhecido por suas escolhas de momento, pouco planejadas e refletidas com o elo formado por sua equipe.

A gravidez de Maddie (Jennifer Love-Hewit) e o nascimento de sua primeira filha parecia um arco próximo ao novelesco vulgar, mas a produção soube adequadamente fugir deste caminho e trazer coerentemente, de maneira muito orgânica, o desenvolvimento da depressão posterior ao parto e a estafa da personagem diante das circunstâncias. A relação com Chimmey (Kenneth Choi) ganha algum distanciamento por causa dos desdobramentos da pandemia (algo a ser falado no tópico final), mas o bombeiro percebe as necessidades de sua companheira e esse parece um dos principais conflitos do casal para a temporada seguinte. Quem continua com arcos cada vez melhores é Hen (Aisha Minds), agora estudante de Medicina e focada na busca por ampliação de suas possibilidades profissionais e pessoais. O casamento atravessa uma fase tranquila e o processo de adoção se coloca como uma via cheia de obstáculos, pois mesmo que as etapas pareçam levar para a resolução definitiva deste desejo, empecilhos se estabelecem e fazem a personagem ter que recomeçar as coisas do ponto de partida.

Bobby (Peter Krauser) também passa por crises, mas o mentor da equipe do 118 é um dos personagens com presença mais tímida em cena. Ele ainda é uma força motriz no desenvolvimento dos episódios, no entanto, sua participação é mais amena, numa temporada focada em desenvolver questões de outras figuras ficcionais importantes da série. O seu casamento com Athena (Angela Basset) passa por uma crise em alguns momentos, em especial, por causa do mencionado engavetamento com a mãe alcoólatra, fatalidade cheia de gatilhos que carregam o experiente bombeiro de volta ao seu passado traumático. Athena, por sua vez, continua a demonstrar a sua força enquanto mulher que precisa se dividir entre o trabalho e o equilíbrio da família. A filha, agora atende do 911, decidiu seguir um rumo totalmente inesperado, desafiador para a matriarca que sonha com um caminho acadêmico para a jovem. O ex-marido Michael (Rockmond Dunbar), recuperado do tumor que ameaçou a sua vida no ano anterior, está cada vez mais envolvido no relacionamento com o médico que passou de namorado para companheiro que divide a vida. Eis uma preocupação a menos para a policial firme que ainda tem que lidar com os traumas da caso resolvido no desfecho da terceira temporada, algo preocupante para todos que enxergam em seu retorno ao trabalho uma escolha arriscada e incerta.

E para quem achou que Eddie (Ryan Guzman) estaria na pior, ledo engano. 9-1-1, tal como tantas outras séries covardes, perdeu a coragem de aniquilar personagens em prol da catarse absoluta e parece interessada apenas em alguns sustos. É o que acontece no caso do atirador que foca nos profissionais bombeiros para despejar toda a sua ira. Ao ser alvejado por um homem fora de si, responsável por outros ataques na cidade, o jovem pai que precisa lidar com uma criança especial e a abertura para novas relações sentimentais, quase morreu. Foi por pouco, mas não desta vez. No ano seguinte, ele terá que fazer escolhas difíceis e que provavelmente estarão como combustível para as suas necessidades dramáticas. E, como já esperamos, a resolução de mais casos intensos, semelhantes ao da mãe que envenenava o filho para receber doações, o atropelamento nada acidental de uma personagem importante do núcleo coadjuvante, o assassinato de uma vizinha odiada por todos os moradores que ao seu redor, a mãe influenciadora digital em perigo no aniversário do filho, dentre outras situações emergenciais.

No que tange aos aspectos estéticos, a equipe técnica da quarta temporada de 9-1-1 mantém o nível padronizados dos anos anteriores. A dupla Todd Haberman e Mac Quayle segue na assinatura da condução musical, os movimentos e planos da direção de fotografia realizada pela equipe de Joaquin Sedillo expõem o investimento em imagens cada vez mais ousadas, sob o adorno dos efeitos visuais supervisionados por de Zachary Goodson, setores associados ao design de produção de Giles Masters, ainda funcional. Ademais, em seus 14 blocos narrativos com média de 42 minutos, a quarta temporada de 9-1-1 impressiona por deixar a pandemia da covid-19 como pano de fundo em alguns trechos do preâmbulo, sem algum aprofundamento com o tópico temático que provavelmente renderia ótimos casos. Apagada dos conflitos dramáticos, a grande celeuma que nos acompanha desde 2020 é curiosamente banalizada em cenas com apenas um ou dois personagens centrais utilizando máscara. Percebe-se que na edição dos episódios, a justaposição das imagens mais recentes com o material aparentemente produzido antes do decreto de emergência emitido pela OMS não foi organicamente finalizada. No geral, uma falha grave, mas nada que desabone o resultado total deste agitado quarto ano de série.

9-1-1 – 4ª Temporada – EUA.
Showrunners:  Brad Falchuck, Tim Minear, Ryan Murphy.
Direção: Millicent Shelton, Bradley Buecker, Jennifer Lynch, Mary Wigmore
Roteiro: Brad Falchuk, Ryan Murphy, Tim Minear, Kristen Reidel, Erica L. Anderson, Matthew Hodgson, Andrew Meyers
Elenco: Angela Bassett, Peter Krause, Oliver Stark, Aisha Hinds, Kenneth Choi, Rockmond Dunbar, Ryan Guzman, Brian Hallisay, Jennifer Love Hewitt
Duração: 45 min (cada episódio – 14 episódios no total)

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