Crítica | 7500

por Iann Jeliel
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7500

A premissa de um filme basicamente inteiro passado dentro de um avião sobre atentado terrorista não é nova. Mesmo assim, a abordagem ainda mais específica que 7500 adota para sua execução o torna bastante único. Trata-se de um recorte ainda menor da tensão situacional sobre o ponto de vista unicamente do copiloto Tobias dentro da cabine do piloto. Além disso, a ameaça se torna reduzida, ou no mínimo, não importa tanto em escala, já que o microcosmo geográfico estabelecido prevê o dilema dramático principal na dualidade de um homem que precisa manter a situação sob controle com protocolos, mesmo que seu senso humanista e pessoal queira tomar outras atitudes.

A tensão vem muito mais daí do que necessariamente do objetivo dos terroristas, já que seus fins normalmente tendem ao genérico discurso vingativo de radicalistas muçulmanos. Existe o elemento sugestivo que preocupa o público dentro da responsabilidade do principal, não temos a visão do fundo do avião. Logo, e principalmente nos primeiros minutos, o filme se aproveita da limitação do alcance de visão para trabalhar inúmeros gatilhos que possam fazer o protagonista desistir do protocolo e ceder o controle da cabine aos terroristas para evitar a morte de reféns. Há um em especial, plantado antes da tragédia, que parece certo de fornecer a virada – inevitável dentro de uma projeção de preenchimento de uma hora e meia de filme, a cabine uma hora seria tomada para o prosseguimento climático. E diante da expectativa de quando e como, o roteiro consegue brincar e subverter bem essas possibilidades.

Graças a um timing de maturação muito bem calculado por Patrick Vollrath, cineasta que inicia sua carreira de forma promissora com este longa. Sua proposta de filmagem é tentar emular o tempo real do sequestro, ou seja, sem a utilização de elipses temporais para controlar o espaçamento dos acontecimentos relevantes. É uma escolha que permite o preenchimento de tempo mencionado com mais facilidade, mas também é arriscado pensando em como criativamente isso não criará barrigas ou cenas que não contribuem para a constante de tensão. Felizmente, os blocos são devidamente equilibrados entre as cenas, que fornecem a motivação dramática macro dos mocinhos e dos “vilões”, survival de ferimentos e as interações entre eles.

A câmera escolhe estar bem próxima das feições para que a captura de emoções seja genuína, especialmente para explicitar a dificuldade de separação entre emocional e racional, que é a grande luta do protagonista. Mesmo nessa proximidade, os takes nunca soam confusos em excesso, há o desnorteamento realista da shakecam, mas filmada de modo transparente, inteligível, onde o recurso cumpre seu papel de amplificador claustrofóbico sem que prejudique o entendimento do que está acontecendo em cena. Diante do desafio do primeiríssimo plano, Joseph Gordon-Levitt consegue transparecer perfeitamente o peso de cada decisão tomada, suas reações são bastante genuínas, a angústia e o desespero pontualmente que se deixam escapar em contraponto ao engolir seco, mudança de tom vocal para fria e profissionalmente contornar os problemas surgidos da melhor forma possível.

Inclusive, numa dessas tentativas de controle, cria-se um arco de proximidade entre ele e um dos terroristas, um jovem que gradualmente cede ao arrependimento de estar participando do atentado. Com esse personagem, o filme assume de vez o seu caráter de escala micro e orquestra sua conclusão perante a ideia de humanidade direcionada aos vilões, especificamente ele. Não chega a ser exatamente uma construção de arco de redenção próprio, é mais um artefato para complexar aquele estudo situacional, tanto que é escolhido como mote climático justamente para o filme passar da etapa de um mero exercício de gênero. Entretanto, a intenção não se reverbera exatamente na execução, que  carece de um afunilamento estratégico do raciocínio, fechando de forma meio vaga.

Não que a escolha de deixar questões em aberto seja problemática, acredito inclusive que o final não é aberto, apenas parece incompleto de um posicionamento que parecia querer dar em algum momento. Fica a impressão de que os traços humanistas só eram armadilhas para vincular o público a uma atitude mais ativa com o filme, ao invés de infligi-lo a refletir sobre rótulos comumente conjugados a olhares distantes dos horrores da situação. Se o longa queria tanto essa relação de proximidade na experiência sensorial, justificando a necessidade do racional para o controle humanista, por que se distanciar quando tudo acaba? De qualquer forma, isso não compromete de forma acintosa a proposta, que é mais um belo nome original no catálogo da Amazon Prime Video.

7500 (7500 , Alemanha/Áustria – 2019)
Direção:
Patrick Vollrath
Roteiro:
Patrick Vollrath, Senad Halilbasic
Elenco:
Joseph Gordon-Levitt, Omid Memar, Aylin Tezel, Carlo Kitzlinger, Murathan Muslu, Aurélie Thépaut, Paul WollinHicham Sebiai
Disponibilidade no Brasil: Amazon Prime Video
Duração:
93 min.

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