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Crítica | 365 Dias Finais

A odisseia vazia do erótico.

por Felipe Oliveira
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A terceira parte de uma trilogia costuma carregar um sentimento maior quando se trata do último capítulo, mas bem, estamos falando de 365 Dias, a problemática safra polonesa de cunho erótico da Netflix que há quase quatro meses atrás a plataforma lançava uma sequência, e agora, com a pressa de emplacar outra vez a produção controversa no ranking das mais assistidas, 365 Dias Finais chega para dar continuidade ao seu épico conto vazio sobre sexo e falso empoderamento. É curioso observar que para cada um dos três filmes, há a mesma dinâmica pensada para disfarçar o nível baixo de sua trama insossa e oca que sempre coloca sua protagonista em posição de subordinação.

No primeiro filme Laura (Anna-Maria Sieklucka) se entregava à paixão ao ser resgatada de um afogamento por Massimo (Michele Morrone), seu sequestrador. A tentativa de dar alguma substância à romantização da Síndrome de Estocolmo era inflada com uma montagem conduzida por músicas pop que nada tinham relação com as cenas, apenas serviam para driblar o contexto absurdamente questionável. O longa seguinte trazia Laura casada depois de perder o filho durante a gravidez, e acreditando que o matrimônio poderia mudar Massimo de alguma forma, agora, a protagonista se vê dividida entre um triângulo amoroso e a decisão de ficar com Massimo ou Nacho (Simone Susinna), aquele com quem ela se sente bem tratada, e não apenas atraída.

Fora que, em cada desfecho, era deixado um gancho novelesco na intenção de deixar o público aflito acerca do futuro da moça. O inicial foi ter Laura grávida e como alvo de um dos rivais de Massimo. Mais adiante, ela foi baleada, em outro cliffhanger melodramático para segurar a audiência. Desse modo, não é como chegar em um arco de triângulo amoroso sinalizasse um eixo narrativo a ser explorado para a personagem, e sim que é um artifício apelativo para glamourizar a casca erótica que estigmatiza a mulher em vários ângulos. Para um filme que reproduz um conteúdo adulto dedicado a perspectiva pornográfica masculina, 365 Dias Finais camufla essa idealização recorrendo a nuances clássicas da comédia romântica enquanto transita por um supérfluo drama erótico que falsamente diz verbalizar sobre independência e prazer feminino.

Um claro exemplo de que como a edição e montagem preenchem a ausência de um arco minimamente crível está na dinâmica entre Laura e sua amiga Olga (Magdalena Lamparska), como se estivessem numa infinita férias luxuosa de festas e curtição: constantes efeitos em slow motion, a câmera em repetitivos movimentos de travelling, o filtro amarelado acompanhado do panorama das paisagens e as alternâncias de músicas entre pequenos intervalos formam um exercício utilizado que caracteriza muito bem a trilogia de 365 Dni. Logo, qualquer cena consegue ser inserida sem alguma contextualização porque há um rolo ininterrupto de videoclipes sendo tocado, o que substitui também as besteiras que o roteiro trata como linhas de diálogos. Repare que da mesma maneira o soft porn é posto: as reuniões corporativas, as festas parecem meras “narrativas” pornográficas que serviram apenas de cenário para o sexo, que faz questão de soar o mais realista possível, e os enquadramentos reforçando a condução do homem.

Nessa de que Laura “precisa” fazer uma escolha, “o enredo” se torna mais sobre os homens, onde a suposta decisão a ser tomada assume mais um caráter definitivo do que a mulher pensar no seu bem estar e na carreira de estilista. A condição proposta pelo roteiro tenta esquecer o tempo todo que a personagem foi inibida da vida que tinha para desempenhar um conto erótico machista e misógino. É como se Laura aceitasse se submeter a uma performance de sedução em prol de uma visão narrativa que simplesmente favorece estigmas da masculinidade tóxica; do macho alfa, dos homens predatórios, que atendem ao perfil sexy e padrão de homão da p*r*a. Ela desfila, mantém a postura arqueada e frases perfeitas para qualquer situação, mas nada disso parece compor uma personalidade para Laura que está transitando nessa fábula regida para o ego masculino.

É uma trilogia sobre sol, praia, bebidas, músicas, pa*, paisagens, mesa farta e câmera lenta; um show técnico que sabe muito bem ser competente, mas incapaz de esconder a falta de enredo. Seja sobre a condição de subjugação da mulher, dos enquadramentos demonstrando a forma agressiva com que Massino se expressa física e verbalmente com Laura, os videoclipes contínuos, as investidas de humor cafonas de Olga fazendo encenações idiotas, não há nada que já foi dito desde o começo sobre 365 Dias que poderia ser diferente aqui. E o que leva a audiência a sempre voltar para uma produção que se esforça muito para ser ruim, está na apelativa cena de beijo gay entre Massino e Nacho, pronta para instigar o imaginário para outra sequência rocambolesca, nessa saga capaz de tudo, menos de contar uma história.

365 Dias Finais (365 Dni 3 – Polônia, 2022)
Direção: Barbara Bialowas, Tomasz Mandes
Roteiro: Tomasz Mandes, Blanka Lipinska
Elenco: Anna-Maria Sieklucka, Michele Morrone, Simone Susinna, Magdalena Lamparska, Ewa Kasprzyk, Dariusz Jakubowski
Duração: 112 min.

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