- Contém spoilers.
- Leiam aqui as nossas críticas dos outros episódios da série.
O season première de 24: Legacy nos apresentou a uma trama envolvendo a ameaça de terrorismo no território dos EUA, com uma narrativa frenética que não para em momento algum, introduzindo Eric Carter como um digno sucessor de Jack Bauer. 1:00 p.m. – 2:00 p.m., o segundo episódio da série, naturalmente, continua exatamente de onde o outro parou, visto que estamos falando do mesmo modelo de acontecimentos em tempo real, que fizera 24 Horas famoso. Eliminando alguns problemas do capítulo de abertura, enquanto introduz alguns outros, temos aqui mais um sólido episódio, que mantém a atmosfera de conspiração e insegurança do anterior, fortalecendo nossa percepção de que o seriado conseguiu reviver com êxito.
Após ter perdido de vista Ben Grimes (Charlie Hofheimer), Eric Carter (Corey Hawkins) se vê em uma corrida contra o tempo para encontrar seu antigo companheiro de equipe antes que Rebecca Ingram (Miranda Otto) e Andy Shalowitz (Dan Bucatinsky) sejam descobertos no CTU, especialmente agora que incapacitaram o diretor do local, Keith Mullins (Teddy Sears). A situação se complica ainda mais quando Grimes pede que a ele seja entregue dois milhões de dólares, demanda que, se não cumprida, o fará entregar o pendrive com dados terroristas aos seguidores de Bin Khalid. Dito isso, Carter bola um plano ousado e completamente louco de entrar em uma delegacia de polícia para resgatar o dinheiro apreendido de um tráfico de drogas pouco tempo antes.
Novamente, o capítulo de 24: Legacy não para a qualquer instante, nos oferecendo tensão por diferentes pontos de seu enredo. De um lado temos o risco do protagonista ser capturado, do outro Rebecca e Andy podem ser presos, o senador John Donovan (Jimmy Smits), por sua vez, recebe a informação de que sua assessora foi vista em uma Mesquita radical anos antes. Nada parece estar dando certo para os personagens na história e isso é ótimo para construir essa atmosfera claustrofóbica que permeia o seriado.
Ainda no roteiro, Manny Coto e Evan Katz, ambos criadores da série, conseguem em apenas quarenta e um minutos unir quase todas as suas subtramas apresentadas na première em um ponto comum: as células terroristas dormentes. Todo o enredo da escola, portanto, passa a ter um significado mais ativo, não sendo um evento isolado, como fora colocado no capítulo anterior (eu disse que ainda era cedo para julgar). O próprio personagem de Jimmy Smits passa a ganhar um espaço maior na série, através da revelação final, que, surpreendentemente, consegue trazer ainda mais tensão ao espectador, já que o iminente ataque terrorista deixa de ser apenas dados e se torna mais palpável.
Por outro lado, toda a história envolvendo o irmão de Carter soa desconexa do que vemos no restante do episódio, quebrando o ritmo da narrativa constantemente – sentimos como se estivéssemos vendo um spin-off dentro da própria série através desse núcleo familiar desnecessário, que, naturalmente, foi herdado do 24 Horas original. Evidente que isso irá representar mais uma pedra no sapato do protagonista, mas ele já não tem um prato cheio com o que está presente na trama até então? Sinceramente, não vejo como essa subtrama pode se desenvolver sem ser como um elemento extra, visto que seria forçado demais colocar um dos integrantes da gangue de Isaac (Ashley Thomas) como outro terrorista.
Felizmente, quase todo o elenco parece realmente não querer deixar a bola cair, dando o máximo de si. Corey Hawkins demonstra uma melhoria em sua atuação desde já, conseguindo transmitir toda a urgência de sua situação atual, sem cair em maneirismos como fizera no capítulo de abertura. Miranda Otto, por sua vez, continua como a melhor da série: implacável e em uma posição realmente desesperadora, não podendo confiar em quase ninguém à sua volta. Mesmo Ashley Thomas se destaca, trazendo em seu olhar, seu tom de voz, mais profundidade que o texto em si, sabendo trabalhar seu personagem com pouco tempo em tela. Smits nos entrega uma revigorante figura do bom político, algo tão ausente nas obras ficcionais atuais – estamos acostumados a ver os Underwood e nos esquecemos que, existem figuras assim, por mais raras que sejam. Há até uma ingenuidade no personagem interpretado por Smits, o que está sendo claramente utilizado para a progressão da trama.
A direção de Jon Cassar apenas melhora a fórmula utilizada no piloto, dispensando a câmera tremida presente em trechos do anterior e favorecendo uma linguagem mais típica dos filmes de espionagem modernos, nos lembrando, em alguns momentos, do ótimo O Homem Mais Procurado. A montagem, novamente, não deixa a desejar, sabendo exatamente quando transitar entre um foco e outro a fim de deixar os eventos de outro lado da trama ocorrerem fora da tela. A fluidez é mantida através da tensão sempre presente em tela, especialmente agora que um núcleo dialoga com o outro em harmonia (exceto o já falado acima).
Com isso tudo transcorrendo diante de nossos olhos, fica difícil tirar o olhar de 24: Legacy, que nos entrega um episódio superior à première, ainda que conte com seus próprios deslizes. Essa é uma série que realmente consegue nos engajar através de sua narrativa dinâmica, que sabe manipular as expectativas do espectador. Demonstrando uma forte coesão desde cedo, sem medo de unir suas subtramas logo no segundo episódio, ouso já dizer, mesmo com a chance de me decepcionar futuramente, que a Fox acertou em cheio com seu revival. Resta aguardar e torcer para que minhas esperanças não sejam quebradas nos episódios subsequentes e que a série continue não nos deixando tempo para respirar.
24: Legacy – 1X02: 1:00 p.m. – 2:00 p.m. — EUA, 05 de fevereiro de 2017
Showrunner: Howard Gordon
Direção: Jon Cassar
Roteiro: Manny Coto, Evan Katz
Elenco: Corey Hawkins, Miranda Otto, Anna Diop, Teddy Sears, Ashley Thomas, Dan Bucatinsky, Jimmy Smits, Kathryn Prescott, Kevin Christy, Zayne Emory
Duração: 41 min.