Georg Elser foi o tipo de homem que nenhum partido ou regime de cunho autoritário/totalitário entende completamente. Toda vez que levamos em consideração um levante ou revolta política, principalmente depois da I Guerra Mundial, automaticamente buscamos por um alinhamento partidário, grupo organizado, ideologia, etc. Por isso que as respostas de Elser para os nazistas que o interrogavam incomodavam demasiadamente. Luta pela liberdade? Para fazer o que é certo? Mas a partir de que princípios? Sob qual linha de pensamento? Para colocar o quê no lugar?
Por um lado, todas essas perguntas são válidas e quanto mais conectada e complexa se torna a sociedade, maior será a necessidade de um engajamento, ao menos de simpatias, em relação a algumas coisas. Às vezes não é nem uma questão de identificação política cobrada por outrem, é a necessidade de rotular todo e qualquer tipo de ação. Se alguém faz um ato X, com certeza pertence a tal partido. Se concorda ou discorda das ideias de tal pessoa, pertence aquele ou àquele outro grupo.
É mais ou menos por esse caminho de busca por definições e desencontro de ideologias que os princípios políticos de Elser são construídos e representados em 13 Minutos (2015), cinebiografia dirigida por Oliver Hirschbiegel e que retrata a vida adulta do carpinteiro que tentou assassinar Hitler, mas falhou porque o Füher saiu do prédio 13 minutos antes do previsto, treze minutos antes da bomba explodir.
O maior destaque do filme é, sem dúvida, o elenco, do qual se destaca o protagonista, vivido por Christian Friedel (A Fita Branca). O ator faz um personagem de feições duras mas que sabia manter um bom relacionamento com amigos e tinha grande propensão a conhecer e amar novas mulheres. Nesse aspecto, o roteiro de Léonie-Claire e Fred Breinersdorfer muda a ordem dos eventos, como fazem também com algumas questões da vida pessoal de Elser, mas isso não é nem de perto um problema, afinal, trata-se de uma ficção, não de um documentário, e mesmo que se baseie em fatos e tenha por objetivo mostrar a vida do personagem, não existe uma regra de exatidão e compromisso com a verdade fora do documento. A escolha do roteiro faz sentido para a obra. Uma pena que esse sentido não esteja em todas as outras partes.
A história possui uma premissa e um início de execução muito boas. Vemos a preparação da bomba e não existe narração ou letreiros para subestimar a inteligência do público. Os fatos são mostrados de forma orgânica e com o bom elenco em cena, mais uma trama interessante, é fácil criar um vínculo imediato. O problema é que este exato modelo de um evento do presente suscitar uma memória do passado segue-se até quase o final do filme, saturando o espectador com lembranças que sequer deveriam estar na obra, pois nada acrescentam ao protagonista, apenas enchem os olhos ou dão um aspecto um pouco mais emotivo à relação dele com Elsa.
A desaceleração final e a rápida troca de foco também não ajudam o desfecho. Ainda vemos que o desenho de produção, os figurinos e a fotografia seguram a boa performance de todo o restante da fita, mas o mesmo não acontece com o texto. Claro que o espectador que conhece a história entende que o filme caminharia para o fim da vida de Elser — na verde, nem precisa conhecer, essa era a escolha mais óbvia possível –, mas o corte entre o momento antes e as cenas no Campo de Dachau são bastante displicentes.
13 Minutos possui uma premissa que vende bem: o cenário da Segunda Guerra Mundial. Em boa parte do filme há um número considerável de eventos que aconteciam na Alemanha durante a ascensão de Hitler e o endurecimento cada vez maior da repressão contra socialistas e judeus. Cartazes e filmes da época são bem inseridos no contexto e servem como interessante coluna histórica. O espectador lamenta que parte do enredo se perca na dúvida entre o que exatamente falar sobre Elser, pesando a mão nas aventuras de sua vida pessoal e romantizando mais do que deveria a sua estadia na prisão. A sessão é válida como conhecimento ou revisão dos eventos, mas não se trata de um grande filme.
13 Minutos (Elser) — Alemanha, 2015
Direção: Oliver Hirschbiegel
Roteiro: Léonie-Claire Breinersdorfer, Fred Breinersdorfer
Elenco: Christian Friedel, Katharina Schüttler, Burghart Klaußner, Johann von Bülow, Felix Eitner, David Zimmerschied, Rüdiger Klink, Simon Licht, Cornelia Köndgen, Martin Maria Abram
Duração: 114 min.