Nada como o período natalino para unificar pessoas, correto? Assim prega a cartilha comportamental de muitas famílias ao redor do mundo. Após um ano atribulado, com estudos, trabalho, metas e outras atribulações que tomam bastante tempo em nosso cotidiano, nos arrumamos, preparamos um jantar e reunimos os familiares para celebrar a vida e fazer os votos para o próximo ciclo que se inicia alguns dias depois, com os festejos de ano novo. No desenvolvimento de 10 Horas Para o Natal, os realizadores trabalham com estas questões, trazendo para a narrativa a habitual estrutura comum aos demais filmes do tipo, geralmente lançados pelo cinema estadunidense anualmente. Aqui, além da preocupação com os presentes e a necessidade de trabalhar o psicológico para lidar com os estereótipos comuns ao momento em questão, isto é, o chato tio do pavê, as crianças perturbadas e a necessidade de encontrar o presente ideal para reforçar e estabelecer a magia do Natal, temos a junção de três filhos que pretendem reaproximar os pais, separados depois de uma longa relação.
O filme tinha tudo para ser uma diversão reflexiva, com passagens genuinamente engraçadas, em associação com trechos que permitissem uma coesão maior diante da abordagem, com um punhado de senso crítico por debaixo da superfície pueril da história. O roteiro de Bia Crespo e Flávia Guimarães, no entanto, preza pelo burlesco, por situações exageradas e por um desenvolvimento que ganha tons barulhentos com a direção de Cris D’Amato. Isso não depõe contra 10 Horas Para O Natal, ao menos como entretenimento. A produção diverte, tem um ritmo agitado, o que não nos permite perder a paciência, mas a sensação que se tem é a de uma grande perda de oportunidade ao focar apenas no lado humorado e não elaborar algo mais substancial, afinal, diletantismo inteligente não faz mal algum, concorda, caro leitor? Pois bem, sigamos. Apesar de terminar sem cair totalmente no lugar comum, propondo uma solução mais realista para o casal divorciado, escolha mais conveniente e coerente com os nossos tempos, o filme passa muito tempo à deriva, com diálogos ruins e situações bem irritantes.
Uma delas? Os gritos estridentes de uma das crianças da família, garota mimada que deseja ganhar de presente um determinado par de patins, figura ficcional que torna tudo um tanto incômodo, sensação que só não é mais irregular que o painel de tópicos que a narrativa tenta abordar, sem se aprofundar necessariamente em nada. Ao longo de seus 90 minutos, 10 Horas Para o Natal nos apresenta a jornada de Marcos Henrique (Luis Lobianco), um histriônico homem que é pai de três crianças: a pessimista Julia (Giulia Benite), o questionador Miguel (Pedro Miranda) e a gritalhona Bia (Bianca Queiroz). Juntos, os três vão suar para preparar a festa de Natal da família, pois pretendem colocar os seus pais, mais uma vez, no mesmo espaço, tendo em vista a reconciliação. Eles possuem dinheiro limitado e apenas 10 horas para organizar tudo. Assim, passeiam pela agitada 25 de março, enfrentam calor, supermercado lotado, dentre outras situações consideradas estressantes, trabalhadas de maneira abrasileira no filme.
Visto de maneira panorâmica e em associação com os demais produtos do tipo, 10 Horas Para o Natal consegue dar conta de sua demanda, mesmo que apresente os tais problemas já mencionados. Totalmente diferentes entre si, os meninos dominam a cena e fazem o possível para conseguir atingir os objetivos pretendidos. Acompanhamos a jornada com a direção de fotografia de Alexandre Ramos e o design de produção de Claudia Colabi, ambos competentes ao estabelecer movimentos, planos e concepção espacial que dialogam bem com a temática abordada e crie um laço com o espectador, já conhecedor deste tipo de história, contada há eras pelo sistema hollywoodiano de produção. Fábio Góes e Tami Belfer, responsáveis pela condução sonora, poderiam ter criado algo mais brasileiro para a trilha, mas o trabalho não atrapalha. Ademais, nesta comédia lançada em 2020, discussões sobre valores familiares, amor ao próximo, respeito e amizade, bem como outros pontos comuns aos filmes de magia natalina são reiterados constantemente, no entanto, na prática, os personagens se comportam cada vez mais com as tradições do capitalismo, focadas na ansiedade por mimos e presentes materiais, algo que não coloca em detrimento a afetividade, mas ganha muito protagonismo na história.
10 Horas para o Natal (Brasil – 2021)
Direção: Cris D’Amato
Roteiro: Bia Crespo, Flávia Guimarães
Elenco: Giulia Benite, Arthur Koh, Marcelo Laham, Luis Lobianco, Jandira Martini, Pedro Miranda, Lorena Queiroz, Karina Ramil
Duração: 90 min