Uma série que faz o espectador ultrapassar a linha do “eu amo os mocinhos” já é digna de ser vista. Continuum (2012), a nova série do canal canadense ShowCase, é um bom exemplo de como desvirtuar a opinião do espectador no que diz respeito a heróis e vilões, juntando viagem no tempo e maquinações de alto nível em um mundo ultra tecnologizado. Com uma estreia que bateu recorde de audiência no Canadá, Continuum surge com um Piloto muitíssimo bem realizado, e salvo um ou outro temor sobre futuros argumentos da série, promete uma ótima temporada.
O plot inicial lembra bastante o de Time Trax (1993 – 1994), mas traz coisas muito empolgantes para eletrizar a narrativa. No ano de 2076, tudo é diferente. O Estado não existe mais e o mundo é governado por um “congresso de corporações”. Nessa sociedade visivelmente fascista e muitíssimo desenvolvida, temos a apresentação de um grupo de “terroristas” que, contra o modelo empregado pelas corporações, lutam violentamente para minar o controle dos cidadãos e acabar com a falta de liberdade através da Revolução.
Já nos primeiros minutos do episódio vemos a explosão de uma importante sede do governo e acompanhamos a prisão do grupo, até o dia que seria a sua execução. Mas algo acontece. Os “terroristas” conseguem abrir uma espécie de portal no tempo, e por engano, também trazem a policial Kiera Cameron de 2077 (entre o prólogo e esse acontecimento já são mais de seis meses decorridos) para 2012, quando toda uma história de guerra contra o futuro distópico começa a acontecer.
Tanto o roteiro do criador e novato Simon Barry quanto o diretor do episódio, Jon Cassar, conseguem fazer uma passagem admirável de 2077 para 2012. Não há propriamente dito muita sutileza, mas o roteiro não é carregado de espantos e emoções pouco críveis, nem a produção do episódio peca em efeitos especiais, fotografia, arte e figurinos. Ao contrário, há uma excelente caracterização dos dois mundos, e eu apenas lamento se a série não voltar para 2077, porque me pareceu um mundo muitíssimo interessante, seja por sua tecnologia e forma de governo, seja pela oposição dramática incrível com 2012, algo que pode tornar o show impecável.
Ao trabalhar com viagem no tempo, Continuum pula os obstáculos do clichê que envolve parte da trama e consegue se mostrar segura, relevante e promissora, ao mesmo nesse episódio piloto. O cliffhanger deixa o episódio com a sensação de “quero mais”. Ao percebermos que o futuro Alec é um legítimo canalha (ou não?), e passamos a questionar o quanto o esposo de Kiera estava envolvido com os dois lados da moeda, mais interessante se torna a história. Pedimos aos deuses do tempo que os outros nove episódios se mantenham nesse mesmo nível.