Aviso: Há SPOILERS do episódio e da série. Leia as críticas dos outros episódios, aqui e de todo o Universo Cinematográfico Marvel, aqui.
Spacetime finalmente parece ser o efetivo começo da segunda metade da terceira temporada de Agents of S.H.I.E.L.D. Agora Bobbi e Hunter se foram e o “intervalo” representado por Watchdogs serviu para tirar também Mack momentaneamente da história, que passa, então, a nos reapresentar a Hive/Ward, agora em plena forma e uma narrativa que, se não é sensacional, pelo menos arrisca com um lado inesperadamente sci-fi.
Como o título dá a entender, a série brinca um pouco com o “espaço-tempo”, introduzindo-nos a um inumano mendigo chamado Charles Hinton, que tem o poder de fazer com que quem toque nela veja lampejos do futuro que também são compartilhados por ele. O personagem, que não existe no Universo Marvel em quadrinhos, é, em uma bela homenagem, baseado na figura histórica homônima, um matemático e autor de ficção científica britânico que não só tinha realmente teorias sobre a quarta dimensão, como cunhou o termo tesseract, a representação em quarta dimensão de um cubo, justamente a palavra usada no Universo Cinematográfico Marvel para designar o cubo cósmico, a primeira das Joias do Infinito a aparecer.
Quando Daisy é inadvertidamente exposta ao poder do inumano, a pegada sci-fi whoviana do episódio ganha relevo e diversão, com as imagens desconexas que ela vê sendo utilizadas para que a equipe de agentes dê algum sentido ao futuro. Classicamente, o que vale de verdade é a interpretação das imagens e não as imagens em si, pois o que acaba acontecendo é exatamente o que vimos, mas não o que Daisy interpreta que viu.
Apesar de uma didaticamente desastrada explicação de Fitz sobre a imutabilidade do futuro, o desenrolar da ação caminha de maneira fluida, ainda que previsível, com apenas uma exceção: o treinamento de May por Daisy para que a Cavalaria seja capaz de evitar que o futuro fatalista que ela viu realmente aconteça. Ali, toda a ótima coreografia de luta que a série costuma mostrar volta com força total em um ambiente inusitado e descontraído formando uma sequência que conta com todos os personagens ativos no momento trabalhando em uníssono.
Do lado vilanesco da história, Hive finalmente sai das sombras e, em uma entrada triunfal – mas “brega” – que mistura referências de Matrix com qualquer filme de kung-fu dos anos 70, ele finalmente mostra a que veio (ou quase), tomando o controle da Hidra de Malick sem esforço algum, apenas manobrando-o com sua sede de poder que o leva a usar um esquisito exoesqueleto que o fez ficar parecido com uma versão geriátrica de Deathlok (que, aliás, bem que podia voltar para a série, não?). O plano de Hive ainda está longe de ser esclarecido e a sequência da tomada da empresa de cibernética por Malick pareceu, por alguns momentos, completamente aleatória e sem sentido; mas os momentos finais, com Hive conversando com Giyera, emprestam um significado maior e sinistro que teremos que aguardar para descobrir qual é.
De toda forma, o episódio todo trabalhou um lado mais sombrio da série, ajudado, claro, pelas visões cataclísmicas de futuro que afetam não só Daisy como também Malick, ainda que não saibamos o que ele viu ao final que o amedrontou tanto. E, em um belo toque, a segunda visão de Daisy nos remete ao flashforward do começo de Bouncing Back, em que vemos uma nave aparentemente destruída em órbita da Terra com pelo menos um agente da S.H.I.E.L.D. morto. O que isso significa, só o tempo dirá, mas, considerando a proximidade do lançamento de Capitão América: Guerra Civil e o fato de o atrito ter sido abordado indiretamente no episódio anterior, tudo parece indicar que há algum tipo de conexão.
O episódio tem alguns momentos, porém, descompassados. O plano sequência de luta sem cortes (novamente cortesia do diretor Kevin Tanchareon) com Daisy não convence muito, mas não porque a coreografia e os movimentos de câmera são ineficientes. O problema está nos poderes da inumana. Porque a hesitação em usá-los? Para que lutar corpo-a-corpo, perdendo tempo no processo, se alguns abalos sísmicos concentrados resolveriam tudo de maneira limpa e rápida? Jed Whedon e Maurissa Tanchareon, os showrunners da série e roteiristas do capítulo (o que automaticamente significa que se trata de algo importante) parecem receosos de usar poderes em geral, algo que não faz sentido em um mundo em que inumanos pipocam por todo lado e Malick quer um exército deles. Nem mesmo Lincoln e seus raios elétricos são usados, ainda que ele quase tenha sido demitido por não ter assistido a O Exterminador do Futuro (justa causa fácil para demissões!) em um dos poucos momentos jocosos do episódio.
Outro momento “estranho” foi a volta pacífica de Andrew para ver May uma última vez antes de tornar-se Chibata/Lash para sempre. A conveniência de sua volta foi ditada pela necessidade de se tirar May da missão, algo que funcionou por ser elemento essencial do futuro imutável explicado por Fitz, mas a questão é que a reaproximação de marido e mulher pareceu-me rápida demais, jogada demais, sem que houvesse peso dramático. Até mesmo o coquetel de “cura inumana” de Simmons entrou nesse meio e perdeu tração ao não ser mais do que um comentário de soslaio. Espero que a assunto volte a ser abordado de verdade mais para a frente e espero mais ainda que Lash não se converta em um dos Guerreiros Secretos, pois aí seria simplista demais.
Spacetime é o episódio de retorno da série que esperávamos e que chegou (bem) atrasado. Não é, ainda, a volta à forma da série se compararmos com a primeira metade da temporada, mas é certamente um ótimo passo nessa direção.
Agents of S.H.I.E.L.D. – 3X15: Spacetime (EUA, 05 de abril de 2016)
Showrunner: Jed Whedon, Maurissa Tancharoen
Direção: Kevin Tancharoen
Roteiro: Maurissa Tancharoen, Jed Whedon
Elenco: Clark Gregg, Chloe Bennet, Ming-Na Wein, Iain De Caestecker, Elizabeth Henstridge, Nick Blood, Adrianne Palicki, Henry Simmons, Luke Mitchell, Matthew Willig, Andrew Howard, Juan Pablo Raba, William Sadler, Scott Heindl, Dillon Casey, Powers Boothe, Mark Dacascos, Brett Dalton, Natalia Cordova-Buckley, Gaius Charles, Titus Welliver
Duração: 43 min.