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Crítica | “ANTI” – Rihanna

por Handerson Ornelas
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Ainda me lembro em um longínquo 2008 uma cantora emplacar um hit extremamente dançante onde ela pedia “Por favor, não pare a música”. Em meio a uma indústria musical onde cantoras pop surgem a cada instante com a mesma velocidade que são descartadas, ninguém poderia prever que Rihanna ia tomar proporções tão grandes no mainstream. Lançando seu oitavo disco, ANTI, a cantora tenta fazer o que sempre fez ao longo de sua carreira: se adaptar ao mercado.

Desde Unapologetic, Rihanna tem trilhado um caminho de lançamentos de singles que revezam entre bem fracos (Bitch Better Have My Money) e razoáveis (FouFiveSeconds). ANTI se encaixa bem no meio dos dois exemplos de singles citados. É um álbum que pega influências do que tem balançado o mercado da música, o que significa 25 da Adele e artistas indies ascendentes. Mas, ao mesmo tempo, a cantora não abandona o que tem produzido nos últimos anos. Não é difícil chegar a conclusão de que, desse jeito, o disco acaba se confundindo bastante, mas vamos por partes.

O disco abre com Consideration, faixa que pode ser estranhada por alguns se não notarem um simples detalhe: a canção não é um pop, mas, sim, um rap bem claro. E apesar da letra regular, possui uma boa interpretação e um sample mais que eficiente. É o único momento que o disco mostra essa face bem hip-hop (ou ao menos hip-hop de qualidade), talvez voltando a isso apenas nas boas batidas pesadas de Desperado. Mesmo agradando, esse é o menor dos acertos de ANTI. Rihanna acerta mesmo é quando mostra lados mais orgânicos, seja o clima acústico de Never Ending ou, principalmente, a guitarra introdutória aos ótimos sintetizadores de Kiss It Better, talvez uma das melhores faixas do álbum. Mas seu ápice vem em canções como Love On The Brain e Higher, quando Rihanna mimetiza cantoras como Amy e Adele. Em especial Higher, que parece uma grande canção da Motown. Claro, jogando em terrenos vencedores tudo fica fácil. Mas a interpretação que Rihanna entrega definitivamente convence, é digna de elogios (I wanna go back to the old way/ But I’m drunk and still with a full ash tray/ With a little bit too much to say).

Por outro lado o disco não é constante, depois de uma excelente canção pode vir coisas horrendas como Work, Woo ou Needed Me. A primeira mencionada, um single com a participação de Drake, tem batidas fracas e o esquema mais apelativo e genérico de se fazer hits. Não há nem um refrão que se preze, o que há são palavras ininteligíveis proferidas pela cantora com o objetivo de ficar preso na sua cabeça. É a velha “música chiclete”, mas aqui com um dos seus piores significados. Nas outras duas temos interpretações extremamente chatas de Rihanna, modulando sua voz de maneira estranha, o que não ajuda nem um pouco nas entediantes bases instrumentais.

Como previsto antes, há problemas enormes no álbum que não podem ser ignorados. O gigantesco número de produtores provoca um  deles. Seguindo o mesmo erro de Adele em 25, Rihanna chama muita gente diferente pra dar pitacos em seu disco. O resultado acaba sendo irregular, parecendo uma colcha de retalhos. Em um momento ela faz um “cover” de New Person, Same Old Mistakes do Tame Impala (se é que realmente pode ser chamado de cover, já que ela pega toda a base instrumental da música, só trocando seus vocais)  de longe a parte mais complexa do disco, uma psicodelia oitentista – no outro, ela manda um hip-hop confuso, esquizofrenicamente experimental em Pose, e ainda, no outro, manda um interlude como o de James Joint, um Soul que parece saído de Channel Orange. Parece que Rihanna tenta ser muita coisa e não se completa em nenhuma.

ANTI é um trabalho confuso. Essa é a palavra que mais o define. Parece uma metamorfose incompleta de Rihanna. Mas se levarmos em conta que aqui Rihanna mostra alguns de seus lados mais interessantes, o disco ainda sai no saldo positivo. Mostrando um bom lado alternativo, além de se afastar dos terríveis auto-tunes, se dedicando a seus vocais mais limpos, o resultado é bastante satisfatório. O que se espera é que a metamorfose de Rihanna ainda termine por completo.

Aumenta!: Higher
Diminui!: Work
Minha canção preferida: Kiss It Better

ANTI
Artista: Rihanna
País: Barbados
Lançamento: 28 de janeiro de 2016
Gravadora: Westbury Road, Roc Nation
Estilo: Pop, R&B

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