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Crítica | Bem-Vindo ao Clube

por Luiz Santiago
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estrelas 2,5

Quando o diretor Andreas Schimmelbusch fez a apresentação de Bem-Vindo ao Clube (sua estreia no cinema) na 39ª Mostra SP, ele comentou que a produção do filme foi bastante difícil e rápida, tendo toda a obra sido filmada em 15 dias, o que cobrou um grande esforço e esgotamento dele e do elenco. A outra coisa que ele nos disse é que a obra era [também] uma comédia de humor negro, portanto, era permitido que ríssemos de algumas sequências. A sala gostou da fala espirituosa, as luzes se apagaram e começou a sessão. E também a nossa pequena e estranha viagem pela mente humana. Mais uma vez.

Bem-Vindo ao Clube acompanha uma maníaco-depressiva chamada Kate (Patrycia Ziolkowska em uma ótima atuação, rememorando alguns momentos cênicos e estéticos de Janet Leigh em Psicose) que, destinada a se matar, vai a um “hotel de suicídio”, local que acrescenta uma característica de terror à trama, sentimento que começa, imperceptivelmente pela trilha sonora melancólica de Caspersen, evoluindo depois para a repetição de temas curtos ao piano ou cordas, ambos formando a gélida atmosfera do quarto escolhido por Kate a cada nova visita.

Sabemos que o estabelecimento garante boas indicações de morte para seus clientes e que o funcionário que explica o “menu de opções de morte” para os hóspedes garantirá um bom destino para o corpo, assim como a limpeza do que houver para limpar. Morte encomendada na medida certa, metalinguagem sutil, aberturas para muitas leituras psicológicas (de patologias a desequilíbrios e desvios comportamentais) e fotografia escura são os pontos básicos que encontramos no filme nesta primeira parte. Aos poucos, vemos Kate se transformar e adotar outras opções à medida que a história se torna mais intricada e, cedo demais, cansativa pela repetição.

O maior pecado do roteiro de Bem-Vindo ao Clube é o eterno retorno a algo parecido com uma pausa cênica que nos deixa confusos quanto ao seu uso e cabimento na teia de eventos. Claro que a trama é muito inteligente em sua resolução e o elenco é bem guiado por Schimmelbusch, mas na ânsia de querer deixar claro para o espectador que estávamos diante de “vários mundos” da percepção humana — existem até duas claras sequências oníricas que tomam emprestados dados familiares do cotidiano de Kate para realizar seus desejos –, o texto se sobrecarregou sem necessidade, chegando ao ponto de quase tornar estéril a boa presença da camada freudiana da história, aqui, centrada na figura do pai.

A sensação de vazio e a quantidade enorme de fugas da realidade e de si mesmo são características que podem incomodar muita gente ao ver este filme, mas na verdade elas são raízes intrínsecas ao roteiro. Não são empurradas para caberem na história e nem se colocam ali de forma preguiça, como se o roteirista não soubesse dar um significado maior aos seus personagens e, por isso mesmo, tenha jogado essa parte para o público. Em um olhar superficial e preguiço, é até possível pensar em uma interpretação do tipo, mas a realidade é muito diferente. Cada um dos personagens recebe a atenção condizente com o seu papel no desenrolar da história e as coisas ao seu redor — direção de arte e figurinos — completam o desenvolvimento de sua persona. O vazio que sentimos é parte central da tragédia cômica, a proposta crítica do tema, estampada na oportuna pergunta que encerra o longa.

É uma pena que tamanho potencial tenha sido parcialmente prejudicado por uma opção quase barroca do diretor na organização de suas linhas narrativas para contar a história. Conteúdo havia demais. Bastava problematizá-los, não precisava enfeitá-los.

Bem-Vindo ao Clube (Willkommen im Klub) — Alemanha, 2014
Direção: Andreas Schimmelbusch
Roteiro: Andreas Schimmelbusch
Elenco: Patrycia Ziolkowska, Wolfram Koch, Bibiana Beglau, Samuel Finzi, Rosa Tietjen, Almut Zilcher, Magne-Håvard Brekke
Duração: 86 min.

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