Após a decepcionante Freak Show, Ryan Murphy e Brad Falchuk imaginaram que poderiam salvar suas próprias imagens e a imagem de American Horror Story propondo mais uma uma saga claustrofóbica, nos moldes conceituais de Asylum e com temáticas narrativas a perder de vista vindas de Murder House. Com um esmagador marketing feito em cima da convidada da temporada, Lady Gaga, AHS: Hotel fez a sua aguardada estreia tentando equilibrar-se na tênue linha entre a mediocridade e o bom andamento de um episódio.
Ryan Murphy havia dito que as temporadas da série estariam interligadas de alguma forma e que logo na estreia de Hotel veríamos isso. O que vimos foi a mesma agente imobiliária que vendeu a casa para a família Harmon na 1ª Temporada, apresentar o Hotel Cortez ao enigmático Will e seu filho (?) Lachlan. Há também a citação do cachorro adotado pela mesma agente no último episódio de Murder House, mas a colocação é frágil demais para contar como “A” conexão que estávamos esperando. De toda forma, não é algo de se desprezar e pelo menos a coisa não foi encaixada de maneira forçada pelos roteiristas. Ponto para Murphy e Falchuk.
Checking In é uma mistura de todas as fobias possíveis de uma pessoa medrosa, status que é criado sob o seguinte mandamento: “não questionarás a verosimilhança das cenas de AHS e defenderás a narrativa picotadas e ‘fraca de propósito’ como se fosse parte de um grande plano“. E vejam, eu tenho uma simpatia maior do que deveria pelas obras de Ryan Murphy, mas não dá para defendê-lo em certas decisões dramáticas. Além de coescrever este episódio, ele também o dirigiu, então estamos em algo sobre o qual ele tinha inteiro controle, da criação, ao roteiro e direção. Não há desculpas, portanto, para a fraca história que se estabelece nesse primeiro episódio de Hotel.
Eu sei que parte disso vai da paciência do espectador para suportar determinadas coisas, mas pare para pensar e tente encontrar boa estrutura na história apresentada nessa premiere. E você não vai encontrar uma boa estrutura porque fica claro que o episódio não só foi pensado para fazer desfilar na tela a grande quantidade de personagens que como também jogar com a nossa curiosidade. Ótima estratégia de marketing, mas péssima escolha narrativa. Se não fosse a excelência técnica, estaríamos diante de um capítulo com qualidade bem baixa, porque não há texto que o segure, apenas vislumbres, possibilidades e nuances de um terror que herda da história do gênero todos os seus bons e maus hábitos.
Todavia, digamos o que quiser sobre Ryan Murphy, mas que ele sabe apresentar bem os seus cenários, ah ele sabe. O plano de abertura de Checking In é capaz de deixar qualquer espectador dando risinhos de felicidade pelo escrupuloso trabalho de direção, uso de lentes e movimentação de câmera que exploram os três caminhos básicos da atmosfera nas obras de horror: medo, antecipação de tragédia e desconfiança de tudo e todos. E junto a isso temos uma trilha sonora bem escolhida e utilizada com cuidado, exceto pela reprodução de Hotel California, do The Eagles, que achei deslocada e estendida além do que deveria. A direção de arte, a cargo de Denise Hudson, faz referências à tapeçaria e ao desenho de produção do hotel Overlook, em O Iluminado, bem como ao filme Fome de Viver, além da inserção de cenas de Nosferatu (1922) em uma reprodução ao vivo que dialoga bem com a condição dos personagens em cena.
O elenco de AHS é sempre um show à parte. O maior destaque do episódio é definitivamente Kathy Bates, embora Wes Bentley e Sarah Paulson não façam feio. Lady Gaga deixa a desejar na concepção impassível, quase uma estátua para sua personagem. O curioso é que a cantora tem uma presença de cena enorme e mesmo não atuando bem chama a atenção do espectador pelo ar dominador, ameaçador e (paradoxal, eu sei) simpático da Condessa. Espero muito que ela não mantenha essa postura durante toda a temporada, caso contrário, não a suportaremos cedo demais.
American Horror Story: Hotel começou com uma história fraca e se salvou pela construção estética. Isso, claro, não é um elogio, mas um sinal de aviso. Que todas as criaturas demoníacas do Hotel Cortez façam com que os próximos episódios tenham uma boa história para contar. E que assimilem o mais rápido possível os espectadores que defendem que uma minissérie como AHS “não precisa ter bons episódios, posto que sua qualidade deve ser julgada apenas no final”. Pois é.
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American Horror Story [Hotel] 5X01: Checking In (Estados Unidos, 7 de outubro de 2015)
Direção: Ryan Murphy
Roteiro: Ryan Murphy, Brad Falchuk
Elenco: Kathy Bates, Sarah Paulson, Wes Bentley, Matt Bomer, Chloë Sevigny, Denis O’Hare, Cheyenne Jackson, Lady Gaga, Mare Winningham, Christine Estabrook, Max Greenfield
Duração: 63 min.