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Crítica | O Julgamento de Viviane Amsalem

por Melissa Andrade
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Quem aqui quando criança nunca brincou de ser invisível? De se imaginar passando sorrateiramente por lugares sem ser visto? De poder entrar em locais proibidos? Acho até que adultos pensam nisso quando perguntam que super poder gostaria de ter. Imagina ter a habilidade de entrar em shows e outros locais sem maiores problemas? Porém, para uma parte significativa das mulheres, essa situação é bem real. Principalmente em estados islâmicos.

Viviane não mora mais com Elisha tem três anos. Possui emprego que lhe garante renda própria e, mesmo assim, cuida dos quatro filhos e do marido a distância com a ajuda da cunhada e decide que é hora de dar entrada no divórcio, mas, não vai ser tão fácil quanto pensava, pois seu marido está irredutível. Viviane contrata um advogado e os dois começam uma luta para que Viviane consiga sua liberdade conjugal. Porém, a corte religiosa prefere que o casal se reconcilie e assim dá-se início a uma série de seções frustradas que visam apenas atender as leis religiosas ou os desejos do marido e ignoram por completo a necessidade e vontade de Viviane que precisa se submeter a uma série de provações e testemunhos para enfim fazer valer seu direito.

O Julgamento de Viviane Amsalem aborda de forma intensa a tentativa de Viviane de se divorciar do seu marido Elisha. Acontece que pelas leis rígidas judaicas, no Gett como é chamado, apenas o marido tem direito a aprovar a separação. A mulher pode apenas querer, se a outra parte disser que não, o casamento continua e, divórcio, não é algo bem visto aos olhos do judaísmo.

O longa é situado inteiramente nos corredores da corte e dentro da sala aonde ocorre o julgamento. O que a princípio pode parecer entediante é transformado rapidamente graças a intensidade emocional das atuações e em querer saber qual será o veredito. Não existe um motivo agravante para que Viviane queira o divórcio, ela simplesmente não quer mais ser esposa de alguém, mas é difícil para os rabinos entenderem isso, como também para todos os homens convocados para testemunhar. As perguntas são repetidas e Viviane é colocada em posições desconfortáveis diante de todos, sendo diminuída por ser mulher e tendo que justificar as razões para pedir o divórcio, já que alegar incompatibilidade é muito pouco para os rabinos. Afinal, como muitos disseram, Elisha possui qualidades que toda mulher adoraria ter em um marido. O que os homens presente não conseguem entender é que há motivos mais importantes num casamento do que apenas ser “bom marido”. E enquanto o processo se arrasta, passamos a temer pela sanidade da protagonista que permanece forte perante os rabinos, mas demonstra em seu olhar o cansaço de uma luta que parece não ter fim próximo. 

De modo gradativo o longa dirigido pelos irmãos Shlomi e Ronit Elkabetz que tem uma performance avassaladora no papel da protagonista, criticam a forma como a mulher é tratada dentro da religião judaica, mas sem grandes insultos ou impropérios. Eles usam da lógica e do fato que a humanidade vai evoluir, e esses conceitos estarão ultrapassados daqui algum tempo, algo que fica claro no discurso final da personagem. 

As mudanças começam quando os que antes eram invisíveis ganham vozes poderosas e não é mais possível ignorá-los.

O Julgamento de Viviane Amsalem (Gett: The Trial of Viviane Amsalem – ISRAEL 2014)
Direção: Ronit Elkabetz, Shlomi Elkabetz
Roteiro: Ronit Elkabetz, Shlomi Elkabetz
Elenco: Ronit Elkabetz, Simon Abkarian, Gabi Amrani, Dalia Beger, Shmil Ben Ari, Abraham Celektar, Rami Danon, Sasson Gabai, Eli Gornstein, Evelin Hagoel, Albert Iluz, Keren Mor, Mensahe Noy, David Ohayon, Roberto Pollack
Duração: 115 min.

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