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Crítica | Eric O’Grady, o Irredimível Homem-Formiga

por Guilherme Coral
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estrelas 5,0

O que aconteceria se um vilão de segunda, daqueles que cometem pequenas infrações, roubos pequenos e ainda são fracassados, alguém de índole duvidosa, se apoderasse do traje do Homem-Formiga? Essa é basicamente a resposta que Robert Kirkman, mais conhecido como o criador de The Walking Dead, procura nos entregar em O Irredimível Homem-Formiga, uma inusitada publicação da Marvel, que, infelizmente fora cancelada, mas que ao menos nos trouxe um desfecho satisfatório e obteve sua continuidade em Avengers: The Initiative.

Eric O’Grady é um funcionário de baixo escalão da SHIELD, um homem que passa seus dias apenas observando uma das telas de vigilância da agência, esperando que alguma situação ocorra para que a equipe de ação seja ativada. Pulamos para o futuro, alguns meses depois, e vemos uma donzela em perigo sendo resgatada de um assaltante pelo Homem-Formiga. Após ser salva, o herói pergunta se ela não gostaria de sair com ele para um jantar. Logo descobrimos que esse alguém está muito longe de ser Hank Pym. O roteiro de Kirkman oscila entre esses dois tempos, passado e presente, um antes da Guerra Civil e outro depois e somos mostrados como O’Grady coloca as mãos (rouba) o traje e, ao mesmo tempo, como ele age como fugitivo da SHIELD e de um agente especialmente irritado com suas ações.

O que essa história do Ant-Man se diferencia das outras é a maneira inesperada como a famosa roupa é utilizada. Eric é nada menos que um total scumbag, um egoísta completo que não consegue demonstrar nenhum interesse pelos outros somente por si próprio e, portanto, usa seus novos poderes para olhar mulheres no chuveiro, conseguir encontros, roubar algumas coisas aqui e lá e, se a situação dele muito exigir, salvar algumas pessoas. Essa, como já mencionada, vilania de segunda acerta o leitor em cheio, fazendo dessa uma das mais divertidas histórias modernas do Formiga, com Robert empregando um texto ácido, explorando o inexplorado nas outras publicações do super-herói.

Para que lutar contra super-vilões quando você pode ver Ms. Marvel no chuveiro?

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Um exemplo disso é uma abordagem mais violenta do traje, um soco – em miniatura – direto no pescoço de uma pessoa, que abre uma veia que passa a espirrar sangue. O Irredimível Homem-Formiga não se preocupa em trazer algo family friendly e aborda situações como essa e seu grande trunfo é exatamente o inusitado e as ações de O’Grady, algumas que chegam a enojar o leitor. O interessante, porém, é como aprendemos a gostar do personagem e enxergar que, no fundo (muito no fundo mesmo) ele não é tão ruim assim, apenas nitidamente problemático.

Apoiando essa via mais cômica (ou tragicômica dependendo da página), temos a arte de Phil Hester que traz um traçado mais caricato, dispensando a pasteurização dos quadrinhos mais recentes e se encaixando perfeitamente com o tom que a narrativa assume. Com personagens bem representados em seu estado mental, a arte consegue transformar mesmo o mais horrendo dos acontecimentos em um humor negro, ao mesmo tempo que sabe garantir a urgência nos momentos ideais. Essa via artística ainda garante nossa sensação de que o protagonista realmente passa por um arco dramático, alterando (ainda que pouco) a forma como pensa. Outro ponto de nota é a forma como a obra repete inúmeros quadros, seja para trabalhar seu lado cômico, seja para demonstrar uma emoção no personagem, não há uma preocupação com os limites de cada edição, evidenciando uma maior liberdade de Kirkman em seu projeto.

Eric O’Grady, o Irredimível Homem-Formiga pode não ser a melhor maneira de se conhecer o herói como ele verdadeiramente é – para isso leia Ant-Man: Season One ou Avengers Origins: Ant-Man & The Wasp -, mas certamente trará grandes risadas para qualquer leitor, sendo uma abordagem imprescindível acerca do herói fundador dos Vingadores. Robert Kirkman demonstra que pode trabalhar muito bem com uma via menos dramática que The Walking Dead, por mais que a abordagem da psiquê humana esteja também aqui mais presente. Dessa vez os maiores vilões não são os de costume e sim o próprio protagonista, que rapidamente se torna nosso anti-herói preferido.

Eric O’ Grady, o Irredimível Homem-Formiga (The Irredeemable Ant-Man – EUA, 2006)
Roteiro:
Robert Kirkman
Arte: Phil Hester
Cores: Bill Crabtree
Editora (nos EUA): Marvel Comics
Editora (no Brasil): Panini Comics
Páginas: 396

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