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Crítica | Lovesick / Scrotal Recall – 1ª Temporada

por Luiz Santiago
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  • O nome original da série, Scrotal Recall, foi posteriormente alterado para Lovesick.

Sabe quando você está à procura de uma série curta e de qualidade só para complementar a grade já cheia de séries e, de repente, se depara com uma inesperada pérola? Pois bem, este foi o meu caso com Lovesick/Scrotal Recall (2014), série criada por Tom Edge para o Channel 4 (Reino Unido) e que teve os seus direitos comprados para exibição pelo Netflix, com a tag ‘Netflix Original’.

A série — que é bem curtinha, com apenas 6 episódios de 25 minutos — causou um reboliço quando exibida pelo Netflix, que enviou e-mails-convite para alguns usuários e a sugeriu para pessoas que, aparentemente, ficaram ofendidas com o nome do programa. Uma babaquice, claro. Porque apesar de tosco (no bom sentido da palavra) o título é engraçado e traz à memória do espectador um certo filme de Paul Verhoeven, ligando-se à temática da série de forma muito criativa.

A trama acompanha Dylan, que é diagnosticado com portador de clamídia (uma DST) e é indicado para que entre em contato com suas parceiras sexuais a fim de que elas também possam fazer os testes e, se necessário, iniciar o tratamento. A trama principal é séria, adulta, mas tratada com muitíssimo bom humor, focando, como pouquíssimas séries fazem, o comportamento masculino de forma mais realista, sem pender para o romântico em demasia ou para a “pura libido” vazia. O leitor até pode discordar da minha colocação, citando o personagem de Daniel Ings (Luke), que é praticamente uma cópia menos espalhafatosa de Barney (Neil Patrick Harris) de How I Met Your Mother.

Mas aí é que está. Por se tratarem de séries diferentes, óbvio, a concepção para Luke é apenas a de um homem que sai com muitas mulheres, sem todo o jogo irreal (apesar de genial) encenado por Harris em HIMYM. Falamos aqui de um personagem que sabe recuar, que tem importância compartilhada com seus colegas de cena e não dá as cartas do jogo, como ele pensa. Embora caricato, Luke está mais próximo da realidade do que Barney, o que nos faz voltar ao ponto do tratamento que Tom Edge deu aos personagens nessa temporada, tanto homens quanto mulheres.

Entre o drama de alguém tratando de uma DST e a comédia vinda a partir do contato do personagem com suas parceiras sexuais para contar-lhes a “tragédia”, temos o trunfo mais notável de Lovesick/Scrotal Recall: sua narrativa. Não há sequer uma gota de facilidade para o espectador. Os cortes entre passado e presente são quase godardeanos, sinalizados, na primeira quebra dramática, por um aviso na tela, mas depois, fica a cargo da atenção do público perceber essas passagens do tempo, que dão um sabor diferente à série, sem os clichês típicos de narrativas em flashback e momentos presentes constantemente interrompidos por regressões invasivas do roteiro.

Assim como todo o aparato técnico do show (destaque para trilha sonora, direção de arte e figurinos) o elenco é excelente, a começar pelo protagonista, Johnny Flynn. Para quem não o conhece, além de ator, Flynn também é cantor e compositor, líder de uma incrível banda de folk rock chamada Johnny Flynn & The Sussex Wit. O trio principal se completa com Antonia Thomas, de Misfits e Daniel Ings, que fecham perfeitamente o ciclo de relações humanas complexas e cheias de altos e baixos. Impossível não se identificar com o trio logo de cara.

Esta primeira temporada de Lovesick/Scrotal Recall foi capaz de estabelecer com extrema competência sua história principal, criar e romper romances, não fugir do núcleo narrativo e apresentar e desenvolver personagens como poucas séries fazem em tão pouco tempo. Além de mostrar mais uma nuance do comportamento masculino em crise. Eis aqui, senhoras e senhores, mais uma série britânica que você assiste e se vicia antes mesmo de chegar ao episódio final da temporada.

Scrotal Recall – 1ª Temporada (Reino Unido, 2014)
Criador: Tom Edge
Direção: Elliot Hegarty, Gordon Anderson
Roteiro: Tom Edge
Elenco: Johnny Flynn, Antonia Thomas, Daniel Ings, Hannah Britland, Joshua McGuire, Jessica Ellerby, Richard Thomson
Duração: 25 min. (cada episódio)

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