A dramédia é, na minha opinião, um dos gêneros mais complicados de se trabalhar na televisão. Para que uma série desse estilo convença e cative totalmente seu espectador, é necessária toda uma sincronia de qualidade entre roteiro, direção e atuações. Não que esse alinhamento de qualidade não seja necessário nos outros gêneros, mas a dramédia, por trabalhar em conjunto com gêneros opostos – o drama e a comédia –, faz-se necessária uma sutileza e olhar extremamente aguçados por parte daqueles que a preparam para que a mão não pese para um dos lados, e fazer assim, com que o resultado final seja bem equilibrado. Esse equilíbrio raramente é alcançado, mas a equipe por trás de Togetherness prova rapidamente que sabe muito bem o que está fazendo.
Histórias que falam de pessoas que não sabem que rumo tomar na vida, indecisas – e muitas vezes perdidas – profissionalmente e psicologicamente, arrependidas de decisões que tomaram (ou deixaram de tomar), geralmente abordam a faixa etária dos 20 anos e os típicos questionamentos que vêm com ela: “Ela(e) é a pessoa certa?”, “Devo correr atrás dos meus sonhos ou arrumar uma profissão para pagar as contas? Ou fazer as duas coisas?”, “É a hora de largar a vida de solteiro(a) e sossegar?”, porém, em Togetherness, vemos essas questões perturbarem um grupo de pessoas que já passou dos 30.
Brett e Michelle são um casal que, aparentemente, possuem a vida que planejaram ter: filhos adoráveis, uma boa casa em Los Angeles e uma situação financeira confortável, entretanto, ainda está faltando alguma coisa. E Michelle sabe disso. E quer cobrar Brett. No meio dessa crise, caem de paraquedas em suas vidas Tina e Alex, a irmã de Michelle e o melhor amigo de Brett, com seus próprios problemas pessoais, financeiros e profissionais. Quatro adultos completamente perdidos numa mesma casa… Parece um pesadelo.
Comédias, dificilmente, encontram o tom correto e a sincronia do elenco logo no primeiro episódio. Se para comédias isso já é difícil, para dramédias essa dificuldade acaba se duplicando. Togetherness acaba não fugindo muito à essa regra e pode parecer um pouco forçada e exagerada no piloto, mas é impressionante como já em seu segundo episódio, ela parece outra série. O entrosamento dos atores melhora absurdamente e a relação deles soa muito mais natural dali em diante.
Inteligente, engraçada, humana e cheia de momentos marcantes, Togetherness faz com que temas já vistos um milhão de vezes pareçam novidade. É impressionante a honestidade da abordagem dos criadores da série – Jay Duplass, Mark Duplass e Steve Zissis (Jay e Steve também dão vida aos protagonistas) –: o espectador entende perfeitamente e se identifica com as indagações, indecisões e incertezas dos personagens, e por mais bizarras que elas possam parecer, não há espaço para julgamentos, porque os personagens de Togetherness poderiam muito bem ser eu ou você.
Com um senso de humor eficiente, só resta ao elenco brilhar. Jay Duplass, Melanie Lynskey, Amanda Peet e Steve Zissis são extremamente competentes e têm uma química impressionante, que rende cenas maravilhosas. O segundo episódio, Handcuffs, tem uma das cenas mais hilárias que eu vi nos últimos anos (além de ser muito bem dirigida), envolvendo uma tentativa fail de transa sadomasoquista. E como não se render à gargalhada que Tina dá no carro com Alex, depois de ter tomado uns drinks a mais no quarto episódio, Houston, we have a problem?
Togetherness é uma série que merece ser descoberta. Tem um roteiro certeiro, humano e cativante, assim como seus personagens; atuações honestas e direção pontual, que raramente erra a mão. É aquele tipo de história recompensadora, que tem o poder de te fazer, no mínimo, refletir. De repente, algum dos problemas dos personagens de Togetherness é o mesmo que o seu, e o que você precisa é de um empurrãozinho para se mexer e resolvê-lo, assim como eles precisaram…
Togetherness – 1ª Temporada (EUA, 2015)
Direção: Mark Duplass, Jay Duplass e Nicole Holofcener
Roteiro: Mark Duplass, Jay Duplass e Amanda Lasher
Elenco: Mark Duplass, Melanie Lynskey, Amanda Peet, Steve Zissis, Peter Gallagher, John Ortiz, Mary Steenburgen.
Duração: 240 min aprox.