Você passou um longo ano de trabalho. Ouviu o que não quis, falou o que não devia, dormiu pouco, trabalhou se arrastando um grande número de dias, abusou do café, de energéticos, de cochilos na hora do almoço. Então você olha no calendário e vê que o seu mês de férias está chegando. E lá se vão os preparativos para a tão esperada viagem de descanso, a escolha do lugar, a escolha do hotel onde se hospedar.
O cinema sempre foi um espaço sensacional para mostrar hotéis. Existem filmes inteiros ambientados nesses estabelecimentos que vão de luxuosos e muito bonitos a apodrecidos e horrorosos. Bem e mal gerenciados. Bem e mal visitados. É em uma dessas oportunidades que você se pergunta: se fosse um personagem de filme, em qual hotel eu me hospedaria? O quinteto formado por Luiz Santiago, Gisele Santos, Handerson Ornelas, Ritter Fan e Lucas Borba entrou na brincadeira e resolveu selecionar alguns interessantes hotéis da sétima arte e responder a seguinte pergunta (com justificativa): eu me hospedaria nesse hotel?
Acomode-se, desfaça as malas, e bom descanso! Ou não.
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Atlantic Hotel — Berlim, Alemanha
A Última Gargalhada
F.W. Murnau, 1924
Sr. RF: Ainda sou forte. Claro que aguento carregar as malas! Sim, sim, mesmo na chuva e mesmo que tenha que subir no carro para desamarrá-las lá de cima. É o maior orgulho de minha vida trabalhar nesse hotel e, sem ele, simplesmente não sou nada. Morrerei se perder esse emprego. Meu uniforme me dá poder e eu jamais me separarei dele, pode ter certeza!
Sr. LS: Passaria uma curta-temporada aqui sem problemas! Sempre ouvi maravilhas do porteiro que trabalha nesse hotel e que ele é quase uma atração peculiar do local. Será mesmo?
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Grand Hotel — Berlim, Alemanha
Grande Hotel
Edmund Goulding, 1932
Sr. LS: Não ficaria aqui por muito tempo aqui e só viria uma única vez na vida. A curiosidade me impele a querer visitar e conhecer o lugar – apesar da carestia de tudo referente a esse hotel – mas não é um espaço que eu normalmente me sentiria bem. Muito pop, muita gente, muito caro. Lugar pra conhecer, dizer que conheceu e não voltar mais.
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Hôtel de la Plage — Saint-Marc-sur-Mer, França
As Férias do Sr. Hulot
Jacques Tati, 1953
Sr. LS: O lugar é extremamente convidativo, mas não tenho muita certeza se me hospedaria aqui. Talvez eu troque uma futura hospedagem no Hotel Earle e venha para este Hôtel de la Plage para escrever um pouco, um romance de caráter cômico. Pelo menos aqui as coisas são relativamente normais e eu só precisarei ter cuidado com possíveis reformas e gente atrapalhada.
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Empire Hotel — San Francisco, Califórnia, Estados Unidos
Um Corpo Que Cai
Alfred Hitchcock, 1958
Sr. RF: Ah, Madeleine. Como sou apaixonado por você. Só de chegar perto do Empire os pelos de meu braço já ficam ouriçados. Subir até o quarto é como escalar uma escada para o Paraíso. Madeleine? Você está aí? Madeleine? Ei, você não é Madeleinei! Judy? Quem é Judy?
Sr. LS: Já estive algumas vezes nas redondezas e nunca consegui vaga nesse hotel, apesar de ter tentado. Achei bonito por fora, a recepção é atenciosa e o lugar muito bonito e calmo, mas parece ter uma aura histérica em torno do prédio, uma confusão mental que me incomodou quase inconscientemente. Vai saber…
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Hotel del Coronado — Coronado, Califórnia, Estados Unidos
Quanto Mais Quente Melhor
Billy Wilder, 1959
Sr. LS: Vista para o mar, um montão de atrações interessantes – apesar de um público exótico demais pro meu gosto – e excelentes instalações. Com certeza me hospedaria aqui e ainda voltaria para comemorar datas importantes!
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Bates Motel — Algum lugar entre Phoenix, Arizona e Fairville, Califórnia, Estados Unidos
Psicose
Alfred Hitchcock, 1960
Sr. LS: Nem por um milhão de libras! Gosto do meu corpo sem parecer uma peneira. Gosto de tomar banho sossegado ou não ter que me preocupar com o que pode acontecer comigo enquanto eu estou dormindo. E ser afogado em um lago sujo depois a morte não parece uma coisa muito digna, não é mesmo? Não que eu vá me importar muito nessa ocasião, mas… Prefiro não arriscar.
Sra. GS: Filho obcecado pela mãe que assassina mulheres. Hummmm, acho que até ficaria, mas não tomaria banho em nenhum dos dias.
Sr. HO: Não, mas de jeito nenhum! Só de ser recebido por um cara perturbado como Norman Bates já é motivo suficiente pra estar seguro da resposta. E sabendo que você não tem privacidade nem pra tomar banho sossegado, que a qualquer momento alguém pode invadir seu banho pra te esfaquear, fica ainda mais difícil de querer passar uma noite nele.
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Hotel Fontainebleau — Miami Beach, Estados Unidos
O Mensageiro Trapalhão
Jerry Lewis, 1960
Sr. RF: Meu colega do Hotel Mon Signor, tenho certeza, nunca trabalhou no Fontainebleu para achar que trabalho no melhor lugar possível. Afinal, no Fontainebleu, eu costumeiramente dou de cara até com o famoso Jerry Lewis e tem gente que acha que sou parecido com ele! Quer coisa melhor?
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Grand Hôtel des Bains — Lido, Veneza
Morte em Veneza
Luchino Visconti, 1971
Sr. LS: Sim, eu me hospedaria nesse hotel, desde que não houvesse gente doente rondando o meu quarto e flertes mortais acontecendo ao meu redor (não que eu me importe, mas teria dó do cara apaixonado e tentaria fazê-lo paquerar quem o correspondesse). O ambiente é bom, o local belíssimo e a sensação de isolamento (eu entendo perfeitamente o Sr. Gustav von Aschenbach por escolher se hospedar aqui) é reconfortante. Certamente passaria um ótimo verão aqui.
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Green Man Inn — Summerisle, costa oeste da Escócia
O Homem de Palha
Robin Hardy, 1973
Sr. LS: Apesar de ter muita curiosidade pelo espaço geográfico e pela tradicional cultura local, creio que eu não me sentiria muito confortável não. Mesmo que eu não vá ao local querer meter o bedelho onde não devo, ficar fazendo perguntas ou procurando crianças desaparecidas, creio que ainda assim seria visto como um possível sacrifício. No entanto, se eu pudesse garantir de que não encontraria o Homem de Palha, com certeza passaria uns dias aqui, visitaria Lord Summerisle, dançaria, beberia e tudo o mais!
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Overlook Hotel — Sidewinder, Colorado, Estados Unidos
O Iluminado
Stanley Kubrick, 1980
Sr. LS: Talvez – mas bem talvez mesmo – eu ficasse na temporada de verão, mas não estou muito certo. Só e olhar para o hotel, do lado de fora, eu tenho arrepios na nuca. No inverno eu definitivamente não pisaria o pé nesse lugar.
Sra. GS: Um lugar isolado de tudo onde reina a paz e a tranquilidade. SQN! Nem sonhando eu andaria pelos corredores do hotel trombando com menininhas assassinadas.
Sr. RF: No meio do nada, cercado de neve e com minha adorável família, é uma perfeita oportunidade para eu terminar (ou começar) de escrever meu livro que, claro, tem tudo para ser um bestseller. O problema são essas vozes que fico ouvindo na minha cabeça e essa vontade enorme de beber e quebrar portas com machados. Mas é lógico que tudo isso não passa de minha imaginação fértil, pronta para sair escrevendo minha grande obra em minha adorada máquina de escrever. O importante é saber dosar trabalho com lazer. Afinal, como já dizia o sábio, só trabalho e nenhuma diversão faz de Jack um garoto chato…
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Kellerman’s Resort — Pembroke, Virginia, Estados Unidos
Dirty Dancing: Ritmo Quente
Emile Ardolino, 1987
Sr. LS: Sim, desde que fosse sozinho e por uma curta temporada, mas com visitas frequentes, sozinho e na mesma temporada, quando eventos específicos estão para acontecer no local.
Sra. GS: O resort de verão onde a família de Baby escolhe passar as férias tinha de tudo: aulas de dança, esportes, shows de talentos, e claro, Patrick Swayze mostrando todo o seu rebolado. Claro que me hospedaria e faria todas as atividades propostas!
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Beverly Wilshire Hotel — Beverly Hills, Califórnia
Uma Linda Mulher
Garry Marshall, 1990
Sr. LS: Luxo, gente de todo o tipo, atividades estranhas ocorrendo em quartos do prédio… talvez sim. Acontece que a minha lista de possíveis hospedagens está muito cheia e eu procuro evitar locais “normais” demais, ou pelo menos com a aparência normal demais. No entanto, acho que se eu estivesse de passagem, uma pernoite cairia bem nesse hotel.
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Excelsior Hotel in Cornwall — Cornwall, Reino Unido
Convenção das Bruxas
Nicolas Roeg, 1990
Sr. LS: Nunca! Só a possibilidade de me encontrar com a Grand High Witch ou suas seguidoras pelos corredores, dá vontade de me esconder embaixo da cama! Aliás, quando eu era pequeno, morria de medo das histórias que ouvi sobre esse lugar. Tô fora!
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Hotel Earle — Los Angeles, Califórnia, Estados Unidos
Barton Fink – Delírios de Hollywood
Joel Coen, Ethan Coen, 1991
Sr. LS: Às vezes eu preciso de uns lugares diferentes para escrever, para ver se surge uma ideia interessante ou algo chamativo. Quem sabe uma curta temporada aqui não faça o meu romance, enfim, ser terminado? Acho que eu consideraria a hospedagem sim. Me julguem.
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Hotel Mon Signor — Los Angeles, Estados Unidos
Grand Hotel
Vários diretores, 1995
Sr. RF: Servir é tudo que faço e tudo que desejo e não há lugar melhor para me sentir realizado do que o Hotel Mon Signor, onde posso cuidar de adoráveis crianças, visitar mafiosos e, meu preferido, participar de apostas de cortar dedos em que eu – euzinho! – faço as honras da casa…
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Estalagem Pônei Saltitante — Bri, Arnor, Norte da Terra Média
O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel
Peter Jackson, 2001
Sr. LS: Não. A companhia não me deixa muito confortável e tudo em volta é muito macabro, muito estragadinho. Prefiro outro lugar pra ficar.
Sra. GS: Não. Apesar do nome amigável o lugar é frequentado por tipos um tanto sinistros. Mas acredito que a cerveja seja bem gelada!
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Pinewood Motel — Atalho da Interestadual, Estados Unidos
Temos Vagas
Nimród Antal, 2007
Sr. LS: Nunca! Jamais! Por precaução, só viajo à noite de carro para lugares que conheço muito bem e, se puder evitar, prefiro. Espero nunca precisar chegar a um hotel como esses. Não gosto muito de câmeras. E pessoas me usando como isca em um quarto sujo de hotel definitivamente não é o meu sonho molhado de hospedagem.
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The Best Exotic Marigold Hotel — Jaipur, Rajastão, Índia
O Exótico Hotel Marigold
John Madden, 2011
Sr. LS: Se eu fosse para uma viagem do tipo “espiritual”, acredito que sim. O local é bonito, mas velhinho. Todavia é limpo, a comida parece boa e a gerência é simpaticíssima e engraçada. Creio que valeria a pena, mas de imediato não me sinto muito confortável com a estrutura do lugar.
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Hotel Transylvania — Bem longe do convívio humano
Hotel Transilvânia
Genndy Tartakovsky, 2012
Sr. RF: Monstros, monstros e mais monstros. Mas todos adoráveis. Não há lugar melhor no mundo para ver essas celebridades todas saindo de seus caixões, enrolando as gazes e revivendo com raios elétricos. Tenho que completar meu álbum de assinaturas e ainda não consegui achar o Monstro da Lagoa Negra, que não sai do fundo da piscina, o Homem Invisível que, bem, é invisível e a Mosca que espero, não tenha sido aquele inseto irritante que espatifei na parede hoje mais cedo…
Sr. LS: Não vejo a hora de passar pelo menos uma semana neste lendário lugar! Como já deve ter ficado claro eu não me preocupo muito com bizarrices, desde que elas sejam interessantes, como é o caso desse hotel. Está na minha lista!
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Hotel Beau-Rivage — Nice, França
As Férias do Pequeno Nicolau
Laurent Tirard, 2014
Sr. LS.: Receio. Não pelo ambiente, que remota a uma época que eu gostaria muito de ter vivido. Mas pelos hóspedes “um pouco” neuróticos e palas crianças perturbadas. Muito barulho e muita traquinagem pro meu gosto. No entanto, a curiosidade de conhecer o lugar, o forte do período da guerra e participar de um curioso baile de máscaras é mais forte. Se estivesse num período de bastante paciência, acho que passaria uma temporada de verão aqui sim.
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Grand Budapest Hotel — República de Zubrowka
O Grande Hotel Budapeste
Wes Anderson, 2014
Sr. LS.: Seria o hotel da minha aposentadoria! E pode parar de fazer essa cara! O lugar é um verdadeiro sonho pra mim. Pitoresco, com uma geografia impossível em torno, teleférico, pastéis e doces saborosos e tradicionais e uma tremenda história. Como não querer se hospedar ou comprar um quarto num hotel desses? Gosto do isolamento, do inverno rigoroso e mesmo da fase mais decrépita do lugar. É melancólico mas é sensacional. Toda vez que for para a região próxima à República de Zubrowka, não há dúvidas de que este será o meu lugar de hospedagem. E se pudesse alugar pra sempre ou comprar um quarto aqui, com certeza o faria!
Sr. LB: Não me hospedaria neste hotel pelo que ele foi, mas pelo que ele é, pelo que representa para mim, é claro, em meu imaginário. Não por vê-lo como um mero esqueleto de sua glória passada, mas por todo o seu encanto, conforto e beleza, que se eu quiser jamais morrerão. Não pela saudade, mas porque novas tendências não fazem de mim quem sou. Estarei preso a uma época? Nada disso. Como hotel, é apenas parte do caminho, uma parte pela qual posso passar e dela desfrutar quando quiser, sempre que puder, para então seguir adiante, crítico quanto ao presente e ao futuro, e levando comigo a constante inspiração do que houve de melhor e de pior no passado.