Aviso: Há SPOILERS do episódio e da série. Leia as críticas dos outros episódios, aqui.
Entramos na reta final de Agents of S.H.I.E.L.D. com The Frenemy of My Enemy. Com Vingadores: Era de Ultron chegando (considerando a data de lançamento nos EUA, claro) a HYDRA volta a ser o foco da temporada, depois de ser colocada em segundo plano em relação à guerra da S.H.I.E.L.D. de Coulson contra a S.H.I.E.L.D. de Gonzales e as narrativas envolvendo Cal, Sky, os Inumanos em Afterlife e também as das duas agências, Coulson de um lado, May do outro, convergem fortemente, dando sentido de unicidade à temporada.
Aqueles que esperavam menção direta aos eventos de Vingadores: Era de Ultron se desapontaram, mas a correlação está lá para quem souber procurar. Como disse, a HYDRA volta, Strucker volta (mencionado ao menos) e o Dr. List (Henry Goodman), o único dirigente da agência inimiga que sobreviveu, volta no episódio e também aparece no filme. Mas a conexão efetiva, se houver, virá a partir do próximo episódio apenas, ainda que, dada a natureza do longa, ela provavelmente tenha menos reflexos do que os que Capitão América 2 deixaram em 2014.
E isso, de certa forma, é bom, pois mostra que Agents of S.H.I.E.L.D. não necessariamente depende dos grandes eventos Marvel para ter uma trama relevante. Os Inumanos foram apresentados nessa temporada. Skye é Daisy Johnson, a Tremor; Calvin Zabo, o Mr. Hyde dos quadrinhos também foi apresentado e é possível entrever pelo menos parte do conflito futuro que será explorado em Capitão América: Guerra Civil. Mas a série tem os dois pés fincados no chão e consegue caminhar sozinha, da sua própria maneira, sempre, lógico, referenciando abertamente o Universo Cinematográfico Marvel, algo que é muito mais discreto na recente e sensacional série do Demolidor.
De um lado temos Skye em Afterlife tentando equacionar sua vida. Jiaying quer a filha com ela, mas não pode aceitar a permanência de Cal em seu paraíso, pois ele não é Inumano. Skye, então, parte com o pai – parte por remorso, parte por medo – para evitar que ele exploda de raiva ao descobrir que foi ludibriado. E, literalmente, todas as narrativas miram em Skye, com a “verdadeira S.H.I.EL.D.” se dirigindo ao local, assim como Coulson, Deathlok, Fitz e os recém-recrutados Grant Ward e Agente 33 (dando sentido ao título do episódio).
Ver Coulson ao lado de Ward novamente é um prazer. Não sabia que sentia tanta saudade disso até vê-los contracenando, mas a verdade é que sinto. De um personagem unidimensional cortado em cartolina, Ward transformou-se em um ser complexo, multifacetado e, por isso, muito interessante. Graças à divertida atuação cínica de Brett Dalton, o personagem é um enigma envolto em um mistério, dentro de um quebra-cabeças. O que exatamente ele quer nem mesmo os showrunners talvez saibam, mas é ótimo não saber. Ele é uma espécie de ás na manga que pode funcionar em todas as capacidades, herói, vilão, amante, canalha e alívio cômico. Tudo sem perder a classe e sua tendência sociopata que ele nem mais tenta esconder.
Skye e sua boa-mocice, confesso, irrita um pouco. A atriz (Chloe Bennet) tem pouca latitude e quando o foco permanece muito tempo com ela, minha tendência é revirar os olhos. Mas, dessa vez, ela está acompanhada do sempre excelente Kyle MacLachlan que constantemente tem uma performance incomparável, criando um personagem curioso e com vários parafusos a menos. Vê-lo estourar logo depois de ter reminiscências de uma vida que na verdade não teve foi um dos vários pontos altos do episódio.
Em termos da história em si, o mais interessante, além da convergência das narrativas, é descobrir que nenhuma das duas SHIELDs faz ideia do que são os Inumanos. Mas, por outro lado, a HYDRA sabe de alguma coisa e vem acompanhando as pontes de teletransporte criadas por Gordon. Será que isso significa que veremos Afterlife sendo invadida por forças inimigas? Será que teremos mais demonstrações de poderes de outros Inumanos? Parece muito cedo para realmente explorar esse povo no Universo Cinematográfico Marvel, considerado que o filme solo dos Inumanos só vem em 2019, mas tudo é possível. De toda forma, ao menos descobrimos que Lincoln pode usar seus poderes também para atacar (ainda que não tenha ficado muito claro o que exatamente ele faz) e que os Inumanos nunca tiveram poder de clarividência, o que coloca muita ênfase em Raina em futuros episódios e temporadas.
The Frenemy of My Enemy é o quarto episódio seguido dessa segunda metade de temporada que apresenta história e controle narrativo acima da média, definitivamente mostrando a força da série e seu potencial para aqueles que ainda tinham alguma dúvida. Faltam apenas dois episódios normais e um final de temporada duplo, isso sem contar com a chance de conexão efetiva com Vingadores: Era de Ultron. É torcer para que a qualidade se mantenha.
Agents of S.H.I.E.L.D. – 2X18: The Frenemy of My Enemy (EUA, 2015)
Showrunner: Joss Whedon, Jed Whedon
Direção: Karen Gaviola
Roteiro: Monica Owusu-Breen
Elenco: Clark Gregg, Chloe Bennet, Ming-Na Wein, J. August Richards, Iain De Caestecker, Elizabeth Henstridge, Brett Dalton, B.J. Britt, Nick Blood, Adrian Pasdar, Hayley Atwell, Kenneth Choi, Neal McDonough, Henry Simmons, Brian Patrick Wade, Henry Simmons, Dylan Minnette, Kyle MacLachlan, RFieed Diamond, Simon Kassianides, Adrianne Palicki, Tim DeKay, Jamie Alexander, Eddie McClintock, Edward James Olmos, Ruth Negga, Luke Mitchell, J. August Richards, Dichen Lachman
Duração: 43 min.