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Crítica | The Legend of Zelda: Majora’s Mask 3D

por Guilherme Coral
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estrelas 4,5

Praticamente um cult dentro da franquia The Legend of ZeldaMajora’s Mask muitas vezes permanece à sombra de Ocarina of Time, sendo injustamente esquecido por grande parte dos fãs. O game foi a segunda continuação propriamente dita dentro da série, tendo sido a primeira The Adventure of Link e dá prosseguimento imediato aos acontecimentos vividos pelo Hero of Time (ou Herói do Tempo em tradução livre). De maneira praticamente inédita o jogo nos traz não só uma mecânica de temporalidade extasiante, como dezenas de missões scundárias que permitem um total engajamento do jogador, transformando este não só em mais uma entrada da franquia, como uma das melhores e, pessoalmente – se me permitem -, minha preferida.

Na busca por um amigo(a), provavelmente Navi, de quem se separou após a derrota de Ganondorf, Link percorre as Lost Woods, onde é surpreendido por Skull Kid e duas fadas, Tatl e Tael. A criança travessa que o aborda veste uma estranha e sinistra máscara de olhos vibrantes e rouba não só a Ocarina do Tempo, como Epona, a fiel égua do herói. Após uma pequena perseguição, Link é transformado em Deku e acaba caindo em um buraco que o leva ao reino de Termina, um lugar, ao mesmo tempo, muito similar e diferente a Hyrule, onde nascera. Cedo descobre que a máscara vestida pelo Skull Kid se trata de Majora, um instrumento ritualístico de grande poder que, aparentemente, domina a mente do usuário, que passa a causar grande destruição por onde passa. Termina não se vê livre de tal terror e, às vésperas do Carnival of Time, conta com uma gigantesca Lua que a cada dia se vê mais perto da terra. Dito isso, temos apenas três dias para salvar o mundo.

Com essa constante contagem regressiva, o game assume um tom imediato de urgência, que dá mais sentido a cada uma de nossas ações – nenhum segundo pode ser desperdiçado e a introdução do jogo nos passa essa sensação perfeitamente, nos forçando a utilizar a limitada forma de Deku durante os três dias iniciais. Ao recuperar a Ocarina do Tempo o cenário se altera: ganhamos o poder de voltar no tempo, transformando os três dias em incontáveis sequências e voltamos à nossa forma normal. Zelda adota mais uma vez a viagem no tempo como um dos elementos centrais de sua narrativa, mas dessa vez temos um controle maior sobre ela.

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Com isso em mente os diversos personagens secundários dentro do game assumem rotinas – a cada dia, a cada horário realizam ações predefinidas que alteram a forma como o mundo reage à nossa presença. Missões secundárias precisam ser cumpridas em determinado tempo em horário específico e muitas delas precisam ser refeitas a fim de atingir o objetivo completamente. São incontáveis tarefas a serem feitas, o que torna este um dos universos mais ricos dos games, superando jogos lançados até duas gerações futuras. Os diálogos são importantíssimos e revelam não só qual o próximo passo a ser seguido, como nos dão interessantes pitadas de lore que compõem o orgânico cenário que nos encontramos. Informações aparentemente sem importância se unem a elementos que presenciamos anteriormente em uma forma de storytelling que não cai no didatismo excessivo, nos permitindo realizar as necessárias conexões para compreender melhor as subtramas da narrativa, de forma similar ao que vimos em Demon’s SoulsDark Souls. Dito isso, como um bom filme, Majora’s Mask precisa ser experimentado inúmeras vezes para que possamos construir melhor a ideia geral que ele representa.

O que realmente surpreende na narrativa do jogo é o tom sombrio que ela adota: a morte se faz presente à cada curva, muitas vezes acompanhada pela emblemática Song of Healing (uma das muitas preciosidades musicais do jogo). A forma como tal elemento é abordada não só é madura, como realista, se tornando uma bem construída lição sobre a morte para os públicos mais jovens. Como nas animações bem roteirizadas, o texto de Majora’s Mask assume diferentes camadas, que serão desvendadas de acordo com a mentalidade de cada um. Não há como passar por esse game sem se emocionar diante das alegrias e tragédias nele presentes.

Outro ponto interessante é a reutilização de personagens já apresentados em Ocarina of Time, o que nos passa a impressão de estarmos, de fato, em uma realidade paralela bastante distorcida. O elemento em comum é o vendedor de máscaras, que transmite um total ar de mistério, que amplia o já citado tom sombrio da história. Essa “reciclagem” de elementos, portanto, acaba ganhando um novo significado, expandindo o plano de fundo do jogo e até mesmo fazendo referências ao Light/ Dark World de A Link to the Past e o posterior A Link Between Worlds, também para o Nintendo 3DS. São esses detalhes que contribuem ainda mais para o sistema de missões secundárias, tirando delas qualquer sensação de repetitividade.

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Mas não é só o lore nossa recompensa para as incontáveis tarefas a serem realizadas, fora os pedaços de coração, que aumentam nossa vida máxima, temos as vinte e quatro máscaras a serem coletadas, cada uma com uma história própria e a maioria com propriedades únicas que, por sua vez, permitem o avanço em mais missões. Dentre essas algumas delas, como a já citada forma Deku, possibilitam transformações, que, por conseguinte, desempenham um papel crucial dentro dos puzzles do game. Se algum lugar não pode ser atingido como humano, que tal se transformar em Goron ou Zora? A adição desse fator cria uma imediata sensação de dinâmica dentro do jogo, diferenciando-o quase que totalmente de seu (sensacional) antecessor. Além disso, somos obrigados a nos acostumar com diferentes controles para cada forma, nos forçando a pensar ainda mais sobre como iremos realizar cada ação.

Infelizmente nem tudo são flores em Majora’s Mask e as mecânicas em diversos pontos são prejudicadas pela inconstante câmera que, ora funciona maravilhosamente bem, ora se torna nosso maior oponente – especialmente na famigerada batalha contra o chefe Gyorg. A prática, porém, reduz o efeito de tal defeito sobre nós e logo nos acostumamos e descobrimos novas formas de contornar o problema, por mais que ele continue irritante em determinados pontos do jogo.

E as diferenças da versão para N64 e 3DS? Além da óbvia melhoria nos gráficos, que assumem uma beleza nítida com texturas surpreendentes para o portátil, a versão para 3DS adota pequenas diferenças em alguns puzzles e nas lutas contra os chefes. Não irei estragar a surpresa para ninguém, mas já sugiro iniciar cada templo no primeiro dia. Além disso não mais somos forçados a sair do jogo a cada vez que salvamos nas estátuas de coruja, um gigantesco defeito do jogo original que felizmente foi corrigido aqui. O 3D, por sua vez, se estabelece, facilmente, como um dos mais belos do portátil, fazendo bom uso dos diferentes planos para compor uma experiência, de fato, imersiva – ele não chega a ser necessário, mas certamente vem bem recomendado.

Inesquecível, extasiante e contemplativo, Majora’s Mask certamente se classifica como um dos melhores jogos da franquia. É uma experiência única e inovadora, que faz um uso simplesmente sensacional da mecânica temporal. Com sidequests o suficiente para nos prender por dias e dias este é, certamente, um game obrigatório para qualquer portador do Nintendo 3DS e uma segunda chance para quem perdeu esse clássico do Nintendo 64.

The Legend of Zelda: Majora’s Mask 3D
Desenvolvedor:
Nintendo
Lançamento: 13 de Fevereiro de 2015
Gênero: Aventura
Disponível para: Nintendo 3DS

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