Será que podemos mesmo falar que conhecemos alguém a fundo? Que simplesmente nada do que essa pessoa fizer irá nos surpreender? Será que tal afirmação é possível?
Era o que Ebba pensava até ela e sua família passarem por uma situação no mínimo inusitada. Ao decidirem passar as férias em família numa estação de esqui, ela não poderia sequer imaginar que sua situação familiar seria transformada.
Durante um almoço na sacada do restaurante, ela, seu marido Tomas e seus dois filhos Vera e Harry começavam a comer tranquilamente até que uma explosão os assustou. O que a princípio parecia ser mais uma avalanche controlada pela equipe do local, rapidamente se transformou em um pesadelo quando a enorme massa de neve parecia vir na direção deles. As pessoas no local ainda na dúvida se seriam alvos da avalanche ou não, permaneceram paradas, mas quando o acidente parecia iminente todos começaram a correr. Incluindo Tomas que ignorou por completo os gritos do seu filho e os deixou para trás. A partir daí Ebba passou a questionar todas as outras atitudes do marido e a colocar uma barreira entre eles, afetando não apenas os dois como também seus filhos. O que antes seriam cinco dias de lazer, se tornaram dias longos e desgastantes para a família. E com algumas surpresas.
O que é proposto pelo diretor Ruben Östlund é um exercício de concentração e paciência. Nada é resolvido de bate pronto e os personagens precisam ruminar os acontecimentos por um tempo, enquanto decidem que atitude tomar em seguida. A grande questão é que nem eles sabem o que devem fazer.
Ebba e Tomas tentam, de forma torpe e confusa, entender o que foi exatamente que aconteceu naquela sacada. Apesar da esposa pensar que o marido está se poupando ao mentir que os deixou para trás, na verdade, ele está travando uma batalha interna muito pior do que ela poderia imaginar. E a avalanche, assim como também os rompantes de ópera, servem de forma extremamente inteligente para pontuar os acontecimentos do longa.
O fenômeno da natureza, aqui provocado pelo homem, é uma perfeita analogia as emoções sofridas pela família. Partindo de um ponto pequeno, ganha força conforme vai avançando e acaba trazendo a tona dilemas e questões que antes estavam muito bem enterradas. Tudo isso com uma ferocidade incrível. E vem e vai na mesma velocidade.
Força Maior é acima de tudo um filme reflexivo e que deve ser visto com olhos mais clínicos do que um mero entretenimento, pois, propõe uma discussão interessante e que possivelmente, não tem resposta.
Força Maior (Force Majeure – Suécia 2014)
Direção: Ruben Östlund
Roteiro: Ruben Östlund
Elenco: Johannes Kuhnke, Lisa Loven Kongsli, Vincent Wettergren, Clara Wettergren, Kristofer Hivju, Fanni Metelius, Karin Myrenberg, Brady Corbet, Johannes Moustos, Adrian Heinisch, Michael Breitenberger, Karl Pinco
Duração: 120 min.