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Crítica | Quatro Cantos

por Guilherme Coral
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estrelas 4

Representando a África do Sul na corrida pelo Oscar de melhor filme estrangeiro, Quatro Cantos nos leva por uma jornada pelo mundo das gangues sul africanas, centrando em um jovem que não sabe o caminho que deve escolher. O segundo longa-metragem dirigido por Ian Gabriel é um retrato realista de uma sociedade pautada na criminalidade, que suga para si adultos e, principalmente, crianças.

A projeção é iniciada com um jovem ensanguentado no banco de trás de um carro. Seu nome é Ricardo Galam e esta é sua história. Voltamos uma semana e encontramos o mesmo menino, um exímio jogador de xadrez que vive em um complexo dominado por duas gangues, 26 e 28, que há anos batalham entre si. Aos poucos a vida do menino se transforma, ao passo que sua inocência é deixada para trás. Ao mesmo tempo acompanhamos mais duas perspectivas, a de um detetive investigando o desaparecimento de crianças, um homem recém liberado da prisão e de uma jovem doutora que viera de Londres para enterrar seu pai.

Com uma narrativa fluida que sabe intercalar esses diversos pontos de vista, Ian Gabriel compõe essa angustiante amostra de uma sociedade tão distinta e, ao mesmo tempo, próxima da nossa. O filme se passa na África do Sul, mas poderia muito bem se passar nos bairros pobres ou favelas de qualquer outra cidade, tornando clara a falta de apoio governamental para esses habitantes menos favorecidos. É uma sociedade com suas próprias regras e, por mais que a figura da polícia esteja ali presente, ela soa completamente incapaz de trazer a ordem àquele violento caos já mais que solidificado.

Ricardo, como um garoto quieto e à parte daquela cultura de gangues, representa nosso ponto de identificação. Através dele observamos esse mundo distorcido e, a cada cena, conhecemos mais dele. Com isso, a transformação do personagem também ocorre. É sutil, mas está lá e, por mais que sua inocência não seja completamente perdida, não podemos deixar de sentir que ele percorre um caminho sem volta. Logo passamos a temer a perdição do personagem e, com ele, a de todos os jovens presentes naquele submundo.

Em meio a essa jornada intimista do garoto, a subtrama envolvendo as crianças desaparecidas soa desnecessária. Ela exerce um papel na mudança de Galam, mas que poderia ser facilmente realizada de outra forma, talvez mais sutil. Este arco narrativo acaba prejudicando a fluidez da obra, dificultando sua progressão em determinados pontos.

Felizmente nossa imersão é constantemente recuperada pelo ótimo trabalho da direção. A escolha de não-atores da própria região representada foi ideal e transmite um alto grau de realismo à obra, especialmente considerando os dialetos empregados. Temos algo similar ao que vimos em Cidade de Deus, onde cada caracterização é completamente crível, como se assistíssemos um documentário e não uma obra de ficção.

Quatro Cantos conta com seus deslizes, mas não deixa de ser um forte concorrente ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Pode não levar o prêmio no fim, mas certamente merece estar na corrida.

Quatro Cantos (Four Corners – África do Sul, 2013)
Direção: 
Ian Gabriel
Roteiro: Terence Hammond, Hofmeyr Scholtz
Elenco: Brendon Daniels, Jezzriel Skei, Lindiwe Matshikiza, Irshaad Ally, Abduragman Adams, Turner Adams, Charlton George
Duração: 114 min.

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