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Crítica | Batman: Absolvição

por Guilherme Coral
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estrelas 4

A busca pela redenção pode trazer ao aflito uma paz de espírito, mas consegue ela apagar seus crimes, pecados do passado? O que é um homem bom, aquele que já nasce assim ou aquele que, ao longo de sua vida, luta para alcançar tal “status”? Batman: Absolvição lida com esses conceitos, essas indagações, ao mesmo tempo que questiona o senso de justiça inabalável do Homem-morcego. Afinal, um criminoso pode se redimir de seus atos, mas qual será a percepção da justiça cega sobre esse indivíduo?

Batman-Absolution-CouvertureUm atentado nas empresas Wayne abre nossa narrativa, colocando Batman de frente para um grupo de terroristas reacionários liderados por Jennifer Blake. Em meio ao fogo consumindo o prédio, o herói tenta salvar as inúmeras vítimas, mas falha e somente consegue resgatar alguns. O roteirista J.M. DeMatteis, então insere quadros essenciais para nossa percepção da obra, nos mostrando, em um flashback do protagonista, a figura de seus pais mortos. Desde já é inserido o questionamento que permeia toda a narrativa: justiça ou vingança?

A partir de tal momento acompanhamos uma infindável busca do Morcego por Jennifer, empreitada que custa dez anos, nos levando de Londres à Índia. A tal ponto que se torna impossível não indagarmos se aquilo tudo não é uma grande obsessão do herói. Sim, Blake é culpada, mas uma perseguição ao longo de diversos países, que dura dez anos não poderia ser considerado como uma espécie de vingança pessoal? DeMatteis se aprofunda nessa indagação, nos mostrando um Wayne que parece, a cada passo, justificar suas ações, colocando-se como o arauto da justiça a cada página.

E nesse aspecto, a arte de Brian Ashmore não deixa nem um pouco a desejar, nos trazendo imagens que parecem ter sido tiradas diretamente de uma pintura a óleo. A imersão é garantida nesses traçados que organicamente se mesclam com as cores, compondo um visual realista e bastante autoral ao mesmo tempo. Ainda mais importante é o evidente uso das cores para representar as emoções de cada personagem e, é claro, a absolvição anunciada pelo título. Não há como não sentir uma aproximação com Blake nos trechos finais e, utilizando-se desse fato, o roteiro dialoga de forma inteligente com o leitor, nos colocando como pessoas que aceitam a redenção de Jennifer, enquanto o próprio Batman afirma: fosse eu outra pessoa poderia me comover.

Ainda na arte, porém, encontramos certos deslizes que podem atrapalhar a fluidez da narrativa. A primeira é a dificuldade dos quadros nos passarem uma sensação de movimento. Cada página soa como uma imagem estática, novamente uma pintura. Com isso temos cenas de ação prejudicadas e momentos que sofrem com elipses mal-inseridas, causando pequenas doses de confusão no leitor. O outro aspecto está no campo das letras. Os balões utilizados para representar os pensamentos do herói são pouco legíveis, forçando-nos a interromper o ritmo de nossa leitura para forçar nosso olhar sobre eles. Felizmente as falas não sofrem com tal problema.

Esses defeitos, contudo, não são o suficiente para tirar nosso deleito ao ler essa história bem escrita e desenhada, que nos leva a questionar cada ação do Homem-morcego, que, normalmente, é tido como uma figura sempre certa. Trata-se de um herói passível de falha não só em suas ações quanto em seus conceitos, que acaba deixando uma pergunta no ar: quem precisa se redimir, Batman ou Jennifer Blake? Cabe ao leitor decidir.

Batman: Absolvição (Batman: Absolution) – EUA, 2002
Roteiro: J.M. DeMatteis
Desenhos: Brian Ashmore
Arte-Final: Brian Ashmore
Cores: Brian Ashmore
Editora: DC Comics
Editora no Brasil: Panini
Páginas: 100

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