Como começar?
Bem, uma coisa pelo menos é certa: se você viu Transformers e Transformers: A Vingança dos Derrotados (ou mesmo conhece minimamente o tipo de filme que Michael Bay faz) e procura no terceiro capítulo da franquia um filme inteligente, coerente e longe da fórmula hollywoodiana, então, desculpe-me, você não deveria estar lendo essa crítica com o objetivo de encontrar elogios ao filme. Por outro lado, se você se divertiu com o primeiro Transformers e sobreviveu ao segundo se remexendo na cadeira e desesperado para sair do cinema, então tenha certeza que o terceiro filme dos robôs gigantes é um prato feito para mais 154 minutos epilépticos em sua vida.
Michael Bay trouxe os brinquedos da Hasbro à vida em 2007, com um filme raso de trama, triste em atuações mas extremamente divertido em destruição total e, bem… mais destruição total. Em 2009, com o sucesso do primeiro filme, Bay fez o que sabe fazer melhor: mais destruições e mais explosões. É difícil verdadeiramente gostar do segundo filme – a não ser que você seja uma criança de não mais do que 10 anos – tendo em vista as atrocidades do paupérrimo roteiro, a confusão e exagero das batalhas e diversos outros problemas insanáveis (como aqueles dois robozinhos insuportáveis e a infame cena dos testículos do Devastador). Mas, claro, o filme fez novamente um caminhão de dinheiro e a parte três era inevitável e, uma vez anunciada, não havia mais nada a fazer a não ser esperar pelo inevitável estupro retinoico.
Assim, temos O Lado Oculto da Lua, fita que tenta amarrar a corrida espacial entre Estados Unidos e União Soviética à descoberta de uma nave alienígena na Lua durante a Guerra Fria. O prólogo, que recria a chegada da Apollo 11 na Lua e a missão super-secreta que é a verdadeira razão para sua existência, é de longe a melhor parte do roteiro, por sem algo bem estruturado e que realmente adiciona mistério à narrativa e à mitologia dos robozões. No entanto, a solidez apresentada nos 20 minutos iniciais desmorona completamente a partir dali. Somos reapresentados a Sam Witwicky (o sem graça do Shia LaBeouf sendo ele mesmo) que, apesar de ter se formado em uma das melhores faculdades dos Estados Unidos, ter salvo o mundo duas vezes, ganhando uma medalha de Barack Obama e de ter conseguido uma segunda namorada de fazer o queixo cair, continua um bobalhão perdedor que não consegue nada na vida. É inexplicável assim como todo o resto da trama.
A chegada de seus pais e a interação deles com Sam é de trincar os dentes de ruim. O mesmo vale para alguns outros personagens que não acrescentam nada à narrativa e que foram extremamente mal escolhidos, como Jerry Wong, vivido pelo completamente deslocado Ken Jeong (da franquia – que nunca deveria ter sido uma franquia – Se Beber Não Case) e Bruce Brazos, vivido de maneira triste pelo outrora excelente John Malkovich. Se Bay tivesse cortado as desnecessárias interações humanas do filme – todas grosseiras, mal escaladas e mal ajambradas – poderia ter extirpado facilmente 40 minutos dessa tortura de metal e tornado o martírio mais aceitável.
A modelo britânica da Victoria’s Secret, Rosie Huntington-Whiteley, vivendo Carly, a nova namorada gostosona de Sam, faz as atuações de Megan Fox dos dois primeiros filmes parecerem material para Oscar. Rosie é só pose, beiços e um corpo raquítico, além de cabelos esvoaçantes. Zero de charme e personalidade, algo que Fox tinha, por pior que ela fosse como atriz. Mas eu divago…
Voltando à trama, quando Optimus Prime descobre sobre a antiga missão secreta na Lua, ele parte para lá e consegue reativar Sentinel Prime, que saiu de Cybertron (o planeta natal dos Transformers). Segue-se, daí, uma profusão de traições e revelações que não surpreendem nem por um segundo e são telegrafadas quase que didaticamente pelos personagens. Tudo desculpa para muita pancadaria de robôs gigantes, com direito até a uma espécie de verme de areia (aquele da série de livros Duna) metálico controlado por Sockwave, um dos designs de robô mais interessantes criados pela equipe criativa de Bay. Um velho inimigo dos Autobots também volta – obviamente! – mas ele é mostrado como uma espécie de nômade do deserto (até com cobertura de pano para a cabeça, algo extremamente necessário para robôs, como bem se sabe) e se transformando em um carro que mais parece egresso do universo de Mad Max. É idiota, mas não dá para dizer que não é minimamente divertido.
O espetáculo destruidor é real e genuinamente impressionante, com os costumeiros excelentes efeitos em computação gráfica roubando o show a cada desnorteador momento em que as câmeras e a montagem com cortes na base no milissegundo colocam o espectador no meio da pancadaria. Creio que a hora final do filme é totalmente dedicada à aniquilação total – e completamente desnecessária – de Chicago, com alguns humanos heróis inúteis (mesmo!) no meio que, milagrosamente, saem apenas chamuscados. É a mágica de Bay funcionando a todo o vapor e, pela primeira vez, fica fácil identificar os Autobots e os Decepticons, o que é um enorme progresso no meio de todo o “bayhem”.
Em suma, O Lado Oculto da Lua é mais do mesmo que deixa qualquer um exausto de tanta quebradeira e pancadaria sem sentido. É, provavelmente, o equivalente cinematográfico a lutar MMA. Formulaico, básico, longo demais, mas, pelo menos, superior ao horror que é o segundo filme, o que não quer dizer muita coisa, não é mesmo?
Publicado originalmente em 13/07/2014.
Transformers: O Lado Oculto da Lua (Transformers: Dark of the Moon, EUA – 2011)
Direção: Michael Bay
Roteiro: Ehren Kruger
Elenco: Shia LaBeouf, Rosie Huntington-Whiteley, Josh Duhamel, John Turturro, Tyrese Gibson, Patrick Dempsey, Frances McDormand, John Malkovich, Kevin Dunn, Julie White, Alan Tudyk, Ken Jeong, Peter Cullen, Hugo Weaving, Leonard Nimoy, Jess Harnell, Charles Adler, Robert Foxworth
Duração: 154 min.