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Crítica | Watch Dogs

por Guilherme Coral
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estrelas 3

Quando primeiro assistimos uma demonstração de Watch Dogs há mais de um ano atrás, a reação geral foi de surpresa. A Ubisoft estava desenvolvendo um game em mundo aberto no qual o protagonista é um hacker, e desde já pudemos ver a gama de possibilidades apresentadas – de causar um caos no trânsito mudando o sinal de verde para vermelho até acessar dados de qualquer pessoa. Então veio Grand Theft Auto V, que definiu os novos padrões do gênero, ao ponto que apresentava não só gráficos surpreendentes como um universo realmente vivo. Não gosto de comparações, mas qualquer jogo do mesmo tipo que viesse depois, e fosse inferior, seria como regredir das televisões atuais para as de tubo. GTA V foi um avanço tecnológico.

Já com isso em mente, iniciei minha jogatina do game da Ubisoft e não fui decepcionado de imediato. Watch Dogs conta com uma ótima introdução, com bons gráficos e roteiro. Através de Assassin’s Creed e Farcry 3 a desenvolvedora dominou os movimentos faciais e lip-sync, tornando as cinemáticas bastante realistas, permitindo não só uma maior imersão do jogador, como uma identificação com o protagonista. A sequência inicial nos ensina os básicos do game, trazendo uma ênfase maior na furtividade e tudo se sustenta perfeitamente, com bons controles e interface simples de entender. Chegamos, então, às ruas, onde o mundo se abre e podemos dirigir e conhecer a cidade. Neste ponto a obra começa a soar datada, reflexo da inovação de seu competidor.

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Invasão de privacidade

As ruas desta Chicago fictícia seriam impressionantes estivéssemos ainda em 2012. Mas não estamos. Além de parecer vazia, a textura das ruas e prédios definitivamente não são de grande agrado. Muitas vezes parecem não terem sido totalmente renderizadas, quebrando o grau de detalhe que vemos nos personagens em geral. Apesar de contarmos com inúmeras sidequests e outras atividades, não podemos deixar de sentir uma falta do que fazer, ao passo que logo essas missões secundárias vão ficando repetitivas. Não posso deixar de lembrar do primeiro Assassin’s Creed que também deslumbrou a todos nas primeiras amostras, mas que caiu no grande problema da repetitividade no jogo em si. Quem sabe em uma continuação veremos o mesmo avanço que a franquia dos assassinos apresentou.

O mesmo desapontamento em relação à cidade se estende para o ato de dirigir. Por mais que ele não seja difícil de dominar (considerando uma velocidade dentro dos limites), existe a clara sensação de que há algo faltando, talvez um pouco mais de ousadia no realismo dos controles. Graças a isso, o que poderia ser de grande entretenimento ao jogador, se torna apenas um grande período de jogabilidade que devemos simplesmente ir de A até B. Para piorar a situação, os problemas gráficos também estão presentes nos carros – nenhum deles, efetivamente, chama atenção, mais parecendo uma grande massa genérica em diferentes formas.

Após algum tempo de jogo, contudo, vamos nos acostumando com tais falhas do game e, pouco a pouco, passamos a apreciar os detalhes pensados pela Ubisoft. Hackear, embora pudesse ter sido muito mais, é realmente divertido, trazendo inúmeras possibilidades que vão desde distrair inimigos, explodir válvulas, até levantar pontes para fugir da polícia. Ao passo que ganhamos experiência são abertas ainda mais opções que garantem uma considerável dinâmica ao jogo, diferenciando-o dos outros exemplos do gênero. Dito isso, é inegável o grande potencial do jogo, potencial que não foi utilizado completamente – hackear, por mais que abra muitos caminhos para o jogador, ainda é bastante limitado, soando, muitas vezes, como um elemento opcional, sendo possível somente “sair atirando”.

A desenvolvedora, porém, sabia disso e optou por dar um grande foco à furtividade, que, como já citada acima, se estabelece desde a primeira missão. Optando por esse caminho, o jogador pode sim usar todo o arsenal à sua disposição. A opção por tal via não vem somente das ações em si. Através da barra de habilidades, podemos melhorar aspectos do personagem que melhor convém para o estilo de jogo buscado. Este ponto claramente sofreu influências de FarCry 3, trazendo um esquema parecido, ainda que pudesse ser mais simples. Aqui vemos um problema claro de Watch Dogs: sua interface. Sim, eu disse parágrafos acima que ela é simples e isso é verdade nos momentos de jogo em si. Porém, a partir do momento que abrimos um menu, somos bombardeados com informações efetivamente simples demonstradas de uma maneira extremamente complicada.

Felizmente essa complicação visual não se estende para a história. O game conta com um enredo bastante simples. Nele, Aiden Pearce, um habilidoso hacker, acaba se envolvendo com as pessoas erradas, o que leva à morte de sua sobrinha de seis anos. Tal acontecimento o leva em uma busca pelo culpado do assassinato, transformando os métodos do protagonista, que passa a tentar não se envolver com grandes criminosos (fora aqueles a quem procura). Os personagens são todos bem construídos, recebendo um tratamento cinematográfico, através de um roteiro bem escrito, que dá espaço para suas interações e crescimento. O dilema moral de Aiden se estende para o jogo em si, através da barra de moralidade, que funciona como em inFamous, trazendo consequências diferentes caso optemos por sermos “bonzinhos” e não matar ninguém ou sair em uma busca implacável onde os fins justificam os meios. Infelizmente esse sistema acaba se prejudicando pela falta de precisão nos controles dentro dos carros, que leva a atropelamentos indesejados. Ainda assim, é bastante recompensadora, especialmente levando em consideração as missões secundárias.

A árvore de habilidades

A árvore de habilidades

O modo online, por sua vez, funciona bastante como Demon’s Souls ou Dark Souls. Nele podemos ser invadidos por outros hackers ou fixers, que procuram roubar dados ou nos assassinar. Dito isso, é preciso eliminar tal ameaça a partir do momento que recebemos o aviso na tela. Existem outras atividades, como corridas, mas estas não oferecem muito e logo se tornam completamente dispensáveis.

Watch Dogs é uma aposta inovadora da Ubisoft, com muito potencial e pouco resultado. O jogo cai nas sombras do gigante que é GTA V, não exibindo elementos significativos o suficiente para se destacar. Hackear é divertido, mas muitas vezes não funciona, não abrindo possibilidades o suficiente para o jogador. No fim o tiroteio supera as abordagens mais táticas e furtivas. O que vemos aqui é o possível início de uma franquia, que, assim como de Assassin’s Creed 1 para o 2, pode apresentar inúmeras melhorias. Por enquanto, contudo, é só um jogo que, aos poucos, se torna repetitivo, definitivamente decepcionando a todos que se surpreenderam com sua primeira demonstração.

Watch Dogs
Desenvolvedora:
Ubisoft Montreal
Lançamento:
27 de Maio de 2014
Gênero:
Ação
Disponível para:
Ps3, Ps4, Xbox 360, Xbox One, Pc

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