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Crítica | Penny Dreadful – 1X02: Séance

por Filipe Monteiro
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  • Acompanhe por aqui, as críticas dos demais episódios da série.

Penny Dreadful conseguiu êxito no seu primeiro e mais crucial desafio: iniciar sua história com um episódio piloto bem estruturado, de qualidade inquestionável e que torne o desdobramento de bons núcleos e enredos possível. Pode-se dizer que, em seu primeiro episódio, a série lança muitas cordas, sem que haja um nó para amarrá-las de modo a construir sentido no roteiro.

Séance não apresenta o desenvolvimento demandado após o fim de Night Work. O episódio mantém a mesma linha do primeiro e apenas lança mais cordas sem amarras, ao invés de aprofundar a narrativa. Novos núcleos paralelos são revelados, bem como a aparição de outros personagens de relevância à história.

Já no primeiro momento, somos introduzidos a Brona Croft (Billie Piper), uma decadente prostituta, vítima da mecanização do processo de produção após a Revolução Industrial, que aparentemente sofre de uma grave doença pulmonar. É em busca de dinheiro que Brona resolve atender aos serviços requisitados por Dorian Gray – imagino, assim como você, que seja o Dorian do Oscar Wilde -, um aristocrata britânico com gosto por fotografia e, pelo o que ficou claro, excêntricos fetiches sexuais.

É justamente no encontro com Brona que Gray (Reeve Cartney) mostra querer mais que os serviços convencionais de uma prostituta. No início, o rapaz apenas pede que ela se dispa e pose para uma câmera, até o momento em que, durante a sessão de fotos, Brona tosse e cospe um pouco de sangue. A reação de Gray ao ver o sangue não é de repulsa, mas sim de frenesi. No momento seguinte, o que vemos é uma bem construída, porém bizarra, cena de sexo entremeada com mais tosse, dessa vez com um jato de sangue diretamente no rosto de Dorian Gray.

O círculo de sedução de Gray não está restrito apenas a Brona. O jovem consegue romper até a mais dura das barreiras ao envolver Vanessa em seu jogo de sedução, durante o baile oferecido toda a alta sociedade londrina por Sr. Lyle (Simon Russell Beale), o egiptólogo apresentado no episódio anterior. É neste mesmo baile que a melhor cena do episódio tem lugar. Como atração principal da festa, Lyle convida Madame Kali (Helen McCrory), uma médium que convida todos os presentes a participarem de uma sessão de contato espiritual com os mortos.

No decorrer do ritual, retratado de maneira magistral, diga-se de passagem, Kali revela que, entre todas as pessoas à mesa, não só ela possui dons sobrenaturais. O que vem a seguir é o ponto mais alto do episódio. Ganhamos de presente a mais fantástica interpretação de Eva Green até agora. Vanessa entra em transe ao sofrer a possessão de dois espíritos. Ao que parece, o primeiro é o filho de Sir Malcolm que se dirige ao pai, lançando-lhe graves acusações. Em seguida, o corpo de Vanessa é tomado por uma entidade mais poderosa e violenta denominada Amunet, uma antiga deusa da mitologia egípcia.

Novamente Eva Green carrega as rédeas das cenas em que aparece, seja com misteriosos nuances de sensualidade, ou nos tétricos momentos em que perde o controle das suas habilidades sobrenaturais. O roteirista John Logan conhece muito bem esse ouro que tem nas mãos e não mede esforços para usá-lo, mas é aí que mora o problema. O segredo em fazer um terror convincente está na consistência do seu roteiro e em abordar o medo nos momentos certos. O que Séance nos revela é um roteiro um tanto nebuloso marcado pela presença saturada de cenas em que o macabro e o medo são explorados sem sutileza.

Outro aspecto que o episódio soube aproveitar bem é a relação paternal entre Frankenstein e sua criação, agora denominada Proteus (Rory Kinnear). Como já dei muitos spoilers, não vou detalhar muito o enredo dos dois, para não destruir o final do episódio de quem ainda não assistiu. O que pode ser dito sem dúvida é que a poética da descoberta do mundo sob a ótica de Proteus é bem construída e carrega boa parte do que é abordado no episódio.

O segundo episódio mantém a nível observado no primeiro e dá mais indícios de que muito ainda está por vir em Penny Dreadful. Acredito que Séance poderia munir o telespectador de mais conhecimento sobre o enredo e dar um pouco mais de luz para que pelo menos algumas peças do quebra-cabeça sejam encaixadas. Isso, todavia, não invalida a qualidade já comprovada da série.

Penny Dreadful 1X02: Séance (EUA, 2014)
Showrunner: John Logan
Direção: J. A. Bayona
Roteiro: John Logan
Elenco: Eva Green, Josh Hartnett, Timothy Dalton, Harry Treadway, Billie Piper, Reeve Cartney
Duração: 54 min.

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