Como normalmente acontece em todos os produtos da indústria cultural, seja em suas mais diferentes mídias, as produções buscam sucesso apostando no tema da moda. Já presenciamos as inúmeras tentativas em emplacar uma nova franquia adaptada de sucesso após Harry Potter, que impulsionaram a produção das Crônicas de Nárnia, Crepúsculo, A Bússola de Ouro, Percy Jackson e alguns outros. Chegou, em seguida, a terrível fase dos novos vampiros que pegaram carona no sucesso massivo da Saga Crepúsculo. Não se pode esquecer também da fase zumbi após The Walking Dead e a competição sem fim dos filmes adaptados de histórias em quadrinhos da Marvel e DC Comics.
O contexto em questão corresponde à fase das releituras sobre contos de fadas. No cinema a competição ficou entre A Garota da Capa Vermelha, Espelho, Espelho Meu e Branca de Neve e o Caçador. Já o ringue da TV, tinha de um lado Once Upon a Time da ABC e Grimm da NBC. Enquanto a ABC propunha adaptar as versões infantis dos contos de fadas, a NBC preferiu provar a água da própria fonte e mergulhar no universo dos contos originais dos irmãos Grimm.
Em Grimm a fantasia e a ludicidade não têm papel principal. Trata-se de uma série de investigação policial, com direito a tiras, parceiros, infiltração e casos da semana. A única diferença é que nesta série os humanos não estão sozinhos. Junto a eles estão os mais diferentes monstros e criaturas que vão aparecendo a cada episódio da série e geralmente estão envolvidas nas investigações do departamento de polícia de Portland.
A história se desenvolve em torno do detetive Nick Burkhardt (David Giuntoli). Após ter estranhas visões, o policial recebe a visita inesperada de sua tia que lhe conta a origem de seu dom. Nick descende dos Grimms, um clã que consegue enxergar as criaturas como realmente são e, por isso, tem como objetivo caçá-las. É a partir desse momento que uma sucessão de eventos perigosos irá aparecer na vida do policial. Assim como sua tia, Nick difere dos antepassados ao não sair à caça das criaturas, mas sim manter a paz entre todos.
Ao longo da primeira temporada, vamos conhecendo melhor o policial e os outros personagens de destaque. Logo de início conhecemos Hank (Russel Hornsby), o seu parceiro de trabalho, Juliette (Bitsie Tulloch), sua namorada e o chefe do departamento de polícia, o Capitão Renard (Sasha Roiz). Quem detém todo o carisma e consegue conquistar a maior popularidade do público, no entanto, é o Blutbad (uma das muitas espécies de criaturas fantásticas da série) regenerado, Monroe (Silas Weir Mitchell), que na segunda metade da temporada ganhará a companhia da adorável Rosalee (Bree Turner).
O elenco da série não é incrível, tampouco o roteiro, mas, à medida que os episódios vão se desenvolvendo, a série revela uma teia muito maior do que se imagina. Os contos dos irmãos Grimm servem apenas de fonte inspiratória para cada episódio e, com isso, a série consegue autonomia para construir seu próprio universo fantástico.
Ainda que tenha um bom plot, com facilidade para captar a atenção do público, a primeira temporada de Grimm tem sérios problemas. A série demora a tomar forma e pegar o “jeito da coisa”. Tudo corre em ritmos muito lentos durante a maior parte da temporada. Nos últimos episódios, porém, mal sobra tempo para piscar o olho. A lentidão da história, em contrapartida, nem parece um problema se comparada aos efeitos especiais da série: até jogos de Playstation 2 têm gráficos melhores.
Mesmo sobrevivendo a uma temporada de estreia instável, no final das contas, Grimm conseguiu um bom desempenho. A história ganhou fôlego e abre espaço para muitos desdobramentos. Há ainda muitas respostas a serem respondidas ao longo das outras temporadas, mas, ao fim da primeira, temos a sensação de que a série conseguiu cumprir sua missão e a vontade de ver a segunda temporada o quanto antes é inegável.
Grimm (Grimm, EUA, 2011)
Direção: Clark Mathis e Darnell Martin
Roteiro: Stephen Carpenter, David Greenwalt e Jim Kouf
Elenco: David Giuntoli, Russel Hornsby, Silas Weir Mitchell, Bitsie Tulloch, Regie Lee, Sasha Roiz, Bree Turner
Duração: 924 min.