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Sagas Marvel | Guerras Secretas II

por Ritter Fan
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estrelas 0,5

Atenção: isso não é uma crítica, mas sim um aviso de interesse público do Ministério da Saúde. Não leiam. Repito: não leiam jamais Guerras Secretas II. Dentre os efeitos nefastos que essa saga pode causar no ser humano, encontram-se a redução drástica, repentina e irrecuperável de QI, o congelamento de todas as faculdades motoras, o embaçamento de retina, dessalinização corporal causada por suor em profusão, dolorosos espasmos estomacais e até morte por convulsões violentas acompanhadas de perda de ar por risadas histéricas. 

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Afastem-se daqui! Mesmo a leitura da crítica pode deixar marcas profundas em sua psiquê e transformá-lo em um zumbi comedor de cérebros!

Vocês foram avisados…

Passei as últimas semanas me recuperando de uma variedade de efeitos causados pela releitura – sim, releitura, pois eu trabalho duramente, a um custo pessoal muito alto, para que meus leitores não tenham que sofrer – de Guerras Secretas II para a elaboração de uma crítica justa e equilibrada da segunda grande saga da Marvel, publicada originalmente de julho de 1985 a março de 1986. Não, não. Esqueçam o “justa e equilibrada” que mencionei. É impossível fazer algo justo e equilibrado em relação a essa atrocidade marveliana que não seja simplesmente parar de escrever. Mas, ao mesmo tempo, eu quero denunciar esse crime hediondo cometido pela Marvel na década de 80 que, aparentemente, jamais foi devidamente punido.

Mas o que é Guerras Secretas II?

Basta dizer que é, mais do que obviamente, a continuação da horrenda Guerras Secretas, a mãe de todas as grandes (no sentido de tamanho, não de qualidade, claro) sagas da Marvel e DC (que foi na cola, com Crise nas Infinitas Terras), criada por Jim Shooter única e exclusivamente para vender brinquedos, mas que acabou fazendo mais sucesso do que o esperado, ultrapassando até mesmo a venda dos brinquedos. O resultado? O mesmo resultado de qualquer filme de Hollywood que faça sucesso. Uma continuação, claro. Afinal, se o povo quer lixo, vamos logo derramar um caminhão de estrume nele.

Depois de fazer diversos heróis aleatórios enfrentarem diversos vilões aleatórios na primeira saga, o Beyonder, ser mega-hiper-super-poderoso que basicamente pode fazer o que quiser, resolve vir para a Terra, curioso para aprender o que faz de um ser humano um ser humano. Tomando uma forma humana com direito a cabelo cacheado e ombreiras, Beyonder passeia pelo mundo experimentando frugalidades até que, claro, suas ações chamam a atenção dos heróis e até de Mefisto. No processo, ele se apaixona por Cristal e, também, por Tabitha Smith, a Boom Boom, mutante criada por Jim Shooter especificamente para essa saga. Não tem muito mais o que falar em trama, pois a narrativa se perde em diversas demonstrações dos poderes de Beyonder e também somos “brindados” com quadros e mais quadros dele se surpreendendo com a natureza humana. São vários os momentos de se revirar os olhos e de repensar se quadrinhos é mesmo uma Arte ou só um lugar para onde vai quem não sabe escrever…

Publicado em nove edições específicas batizadas de Guerras Secretas II, a saga também contaminou (sim, essa é a palavra certa) diversas publicações normais da época como Capitão América, Homem de Ferro, Novos Mutantes, X-Men, Homem-Aranha. Quarteto Fantástico, Tropa Alfa, Manto e Adaga (até eles!) e o saudoso Rom, também criado para vender brinquedo, mas que resultou em uma das mais incríveis sagas cósmicas da Marvel. Ou seja, o Beyonder se fez sentir por literalmente todo o Universo Marvel da época, mas sem qualquer efeito duradouro.

Al Milgrom (que teve um trabalho de destaque em Vingadores da Costa Oeste entre 1985 e 1989 e na inesquecível minissérie Kitty Pryde e Wolverine, entre 1984 e 1985) foi o responsável pela arte na série principal e, pelo menos nesse quesito, ele consegue criar algo minimamente aceitável, que Mike Zeck, desenhando burocraticamente, jamais foi capaz no primeiro Guerras Secretas. Mas a arte sozinha não consegue nem de longe fazer valer as atrocidades narrativas que vemos em Guerras Secretas II. Temos que testemunhar inconsistências de edição, com personagens aparecendo literalmente em dois lugares ao mesmo tempo (como Colossus, no primeiro número, que está ao mesmo tempo dentro e fora de uma estrutura), importantes lições de humanidade como Peter Parker ensinando Beyonder a usar o banheiro (é isso mesmo que você leu) e as constantes “morais da história” que são utilizadas de forma estanque a cada número: bondade em um, amor em outro e por aí vai. E não venham me dizer que vivemos hoje em tempos cínicos e não conseguimos apreciar narrativas dessa natureza, pois isso tudo é desculpa esfarrapada para diálogos horrorosos e uma história que simplesmente não se sustenta.

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O mais humilhante uso do Homem Aranha em uma história…

E o pior é que, depois disso tudo, a Marvel insistiu em reutilizar o Beyonder algumas outras vezes, até explicando que ele era, na verdade, uma versão humanoide do Cubo Cósmico. Pelo menos – e esse é o único lado bom que consegui achar – não fizeram Guerras Secretas III… (até agora, quer dizer…)

Guerras Secretas II (Secret Wars II, EUA)
Roteiro: Jim Shooter
Arte: Al Milgrom
Cores: Christie Scheele
Editora nos EUA: Marvel Comics (originalmente publicada em 9 edições entre julho de 1985 e março de 1986)
Editora no Brasil: Editora Abril (originalmente publicada em Grandes Heróis Marvel, em 1990)
Páginas: 264

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