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Crítica | Até o Fim

por Rafael W. Oliveira
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A imensidão do oceano, um barco e Robert Redford. Com apenas estes três elementos é que o diretor J.C. Chandor (do elogiado Margin Call – O Dia Antes do Fim) constrói a narrativa de Até o Fim, mais um dos muitos filmes de naufrágios já concebidos pelo cinema, e que já rendeu poucas e boas em produções como Naufrago e Mar em Fúria.

Mas ao contrário dos filmes de Robert Zemeckis e Wolfgang Peternsen citados acima, Até o Fim carrega um quê de ambição ainda maior, uma vez que ao isolar seu protagonista de todo e qualquer contato com seres humanos ou não humanos, encara-se a dificuldade em construir um seguimento sólido o suficiente para manter o interesse do espectador. Mesmo sabendo dos riscos, Chandor pouco economiza na duração (são cerca de 100 minutos de projeção), mas concebe poucos (ou quase nenhum) diálogos para seu único personagem.

O roteiro (escrito pelo próprio Chandor) é eficiente ao apresentar o personagem de Robert Redford como uma figura cujo passado jamais sabemos, e cujo nome jamais nos é revelado. Chandor busca não apenas traduzir os momentos de angústia e perigo do personagem, como também tenta fazer com que o próprio espectador compartilhe dos momentos de nervosismo. Com exceção de uma trilha sonora que surge para complementar nos momentos corretos, o filme é mergulhando num profundo silêncio, denunciando a extrema solidão do protagonista, que aos nossos olhos se tornam um ser humano comum em meio a uma situação inesperada, o que facilita a proximidade entre personagem e espectador.

Mas apesar da aparente sensação de vazio que é experimentada ao longo da projeção, Até o Fim pode ser encarado como uma longa metáfora sobre o conflito entre homem e natureza: nosso protagonista é obrigado a fazer uso de todos os seus recursos para sobreviver a tempestades, ondas gigantescas e até mesmo aos perigosos animais que vivem na água.

Embora sua frieza incomode em certos momentos, Robert Redford é competente ao conseguir exemplificar na tela a angústia do protagonista e sua incansável vontade de viver, assim como sua interna para manter a própria racionalidade nos momentos mais decisivos. Sem dúvidas, um dos grandes trabalhos da carreira de Redford.

Ao final, Até o Fim se confirma como uma experiência extremamente válida e curiosa. Devido a sua proposta pouco convencional, deverá enfrentar um grande afastamento por parte do público. Mas será bastante recompensador para aqueles que encararem esta experiência emocionalmente e fisicamente desoladora.

Até o Fim (All Is Lost, EUA, 2013)
Roteiro: J.C. Chandor
Direção: J.C. Chandor
Elenco: Robert Redford
Duração: 106 min.

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