Inch’Allah procura mostrar, mais uma vez, o conflito entre a Palestina e Israel, dessa vez centrada em uma médica Canadense, Chloé (Evelyne Brochu). Ao invés de termos uma visão mais geral sobre a situação, o filme adota a subjetividade da personagem principal e sua relação com pessoas de ambos os lados.
O longa inicia com uma explosão – um atentado terrorista em Israel, já nos mostrando o clima de tensão que no qual seremos inseridos. Em seguida somos apresentados a Chloé e sua amiga israelense, que posteriormente descobrimos fazer parte do exército. Por outro lado vemos a relação da canadense com uma de suas pacientes, uma grávida palestina e sua família. Desde o início o filme mostra que a personagem principal está à parte do conflito, mostrando até certa frieza quando se trata dos envolvidos no atentado.
Sua posição muda quando, na Palestina, uma criança é morta diante de seus olhos – atropelada impiedosamente por tropas israelenses. Desse ponto em diante, Chloé passa a simpatizar pelo lado palestino, em alguns pontos até tomando tal lado dentro do conflito. A morte da criança, sim é chocante, mas não funciona como estopim para a brusca mudança, fazendo parecer que a personagem é alienada aos acontecimentos à sua volta – ela deveria estar ciente de tais acontecimentos dos dois lados, principalmente após um ataque terrorista.
Desse ponto em diante da trama, a médica se vê dividida entre os dois lados do conflito. O problema da representação elaborada pelo filme é a forma como é feita: tendendo demasiadamente para o lado palestino. Isso fica claro pelo simples fator do filme se passar quase que inteiramente do lado palestino. É possível que isso tenha sido feito para ilustrar o ponto de vista da personagem, mas isso acaba dando um tom de superficialidade à história e diminuindo o dilema da personagem principal.
O ponto alto do longa é a forma crua como os ambientes, pessoas e acontecimentos são retratados. Não há floreios diante das diversas mortes que ocorrem e a maneira como são retratadas é verdadeiramente chocante. Esse fator se torna ainda mais dramático pela atuação forte e discreta de Evelyne Brochu, que nos dá uma Chloé que sofre silenciosamente com os acontecimentos à sua volta. Além disso, ele trabalha muito em cima do escuro e o contraste de devastação e natureza.
O filme, contudo, conta com um problema de ritmo e, embora seja curto (com 102 minutos de duração) acaba progredindo lentamente, de forma arrastada. Ficamos na maior parte da projeção tendo que assistir as consequências de um acontecimento por tempo demais, o que acaba tirando o impacto que eles causaram inicialmente. Ainda assim, o longa oferece um clímax forte, com bastante tensão que fecha o roteiro de forma satisfatória, tirando um pouco da tendenciosidade que assola todo o filme.
Inch’Allah é um filme bastante subjetivo que nos mostra uma estrangeira perdida dentro dos eventos do conflito Israel x Palestina. Peca na forma tendenciosa como retrata os acontecimentos do filme e acaba se tornando superficial, mesmo que ofereça uma visão diferenciada de toda a situação.
Inch’Allah (idem, Canadá/ França – 2012)
Direção: Anaïs Barbeau-Lavalette
Roteiro: Anaïs Barbeau-Lavalette
Elenco: Evelyne Brochu, Sabrina Ouazani, Sivan Levy, Yousef ‘Joe’ Sweid
Duração: 102 min.