Em Aqui é o meu Lugar Sean Penn interpreta Cheyenne, um ex-astro do rock que mora com sua esposa em uma gloriosa mansão em Dublin. Ao receber a notícia de que seu pai está muito doente, o excêntrico músico de compleição à la Ozzy viaja para os Estados Unidos e então é apresentado a uma realidade que desconhecia por completo: seu pai viveu à caça de um militar nazista que conhecera em Auschwitz e que fixara residência nos Estados Unidos. Assim, como num passe de mágica, passamos da vida cotidiana e até então minimamente interessante de Cheyenne, para uma viagem-purgatório pelos Estados Unidos, perseguindo uma memória do Holocausto. Nada poderia ser tão ruim para um roteiro com essa estruturação de história. Não estamos falando de uma sutil mudança ou de um modo de contar a história. Estamos falando de praticamente dois filmes distintos. É uma grande vergonha para Paolo Sorrentino e Umberto Contarello terem seus nomes creditados a esse roteiro.
Desse momento em diante, algumas recorrências simbólicas e óbvias começam a se acumular e inchar o filme. A trilha sonora destoa das sequências em que aparecem — e não há nenhuma intenção do diretor em gerar incômodo dramático para essas cenas, o que lhe concede mais um ponto negativo. Não é que as canções ou os temas musicais sejam ruins. Longe disso. É que o uso deles é absolutamente solto e não ajudam em nada a contar a história, que já padece de gigantescos problemas narrativos. Não fosse a atuação de Sean Penn, que acaba ganhando uma péssima motivação ao final da película, transformando-se em tudo aquilo que ele ironizou e desprezou o filme inteiro, seria muito difícil suportar as quase duas horas de projeção.
Francis McDormand interpreta bem o papel da esposa de um músico excêntrico, e fecha com ela e seu par a porta das boas atuações do filme. Todos as outros personagens passam de descartáveis a medianos, não tendo uma única (além das duas já citadas) atuação que se possa aplaudir. Não sendo este um filme de uma dupla de pessoas, posto que o casal nem passa todo o tempo do filme juntos, fico em dúvidas a quem atribuir a “culpa” pelo elenco rústico.
A produção divide momentos de pieguice e alumbramento, uma quadrilha complicada para um filme dessa duração. Há quadros fotográficos muito bem capturados, mérito do ótimo Luca Bigazzi, que apostou em tons claros para as tomadas externas, belas panorâmicas durante a viagem de Cheyenne e delicadas composições de internas, especialmente em cenas de forte impacto lírico. Nesse aspecto, o filme é de um grande vigor. Mas a festa acaba sendo interrompida pela montagem, que na reta final também mete os pés pelas mãos. A maquiagem e os figurinos também se destacam, especialmente porque captura as nuances culturais de cada lugar desse road-movie.
Paolo Sorrentino entrega aqui um trabalho fraco, que ganha apenas nos aspectos técnicos e que depende encarecidamente da atuação de Penn e McDormand, que infelizmente precisam obedecer a um roteiro que é um tsunami de tropeços. Por mais que tenha tiradas inteligentes e frases de efeito aliadas a simbologias e metáforas visuais, o filme clama por uma orientação. Aqui é o Meu Lugar é daquelas obras que rodam rodam e não chegam a lugar nenhum. Pensando bem, seria até melhor se mudassem o título para Para Onde eu Vou e Qual é o Meu Lugar?
Aqui é o Meu Lugar (This Must Be the Place) – EUA, 2011
Direção: Paolo Sorrentino
Roteiro: Paolo Sorrentino, Umberto Contarello
Elenco: Sean Penn, Olwen Fouere, Judd Hirsch, Eve Hewson, Kerry Condon, Joyce Van Patten, David Byrne, Shea Whigham, Liron Levo, Heinz Lieven, Simon Delaney, Frances McDormand
Duração: 118 min.