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Crítica | Amor e Prazer no Irã (Prazeres de Amor no Irã)

Sentimento, história e poesia.

por Luiz Santiago
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Curta-metragem produzido como uma pequena prévia do longa Uma Canta, a Outra Não (1977), Prazeres de Amor no Irã (1976 — também chamado de Amor e Prazer no Irã aqui no Brasil) é um filme sobre arquitetura, geografia e desejo sexual. Em plena atividade de militância feminista, Agnès Varda dirigiu diversos filmes que abordavam a concepção da mulher em relação ao mundo masculino e vice versa, mostrando como cada uma das partes constitui de signos a existência da outra. Desta feita, o uso da poesia visual no espaço arquitetônico é algo que está na alma do filme, com a cineasta alimentando todas as leituras corporais do casal na arquitetura da cidade.

O curta narra a história de dois apaixonados que estão em Ispahan, no Irã, e que estarrecidos com a cidade e em ponto alto de seu amor, passam a discursar sobre como alguns órgãos de seus corpos podem ser vistos espalhados por todos os lados: os seios dela nas cúpulas das mesquitas, o pênis dele nos faróis da cidade. A mulher é mostrada aqui de forma independente, livre de amarras sexuais ou do pudor típico que lhe é atribuído histórica e socialmente. É ela quem começa o assunto e acusa seu namorado de ser muito pudico em relação ao tema.

Nesse sentido, não só pela abordagem livre e potencial dada à personagem feminina mas também pelo modo como a arte é inserida na trama, podemos dizer que este é também um dos exercícios feministas de Varda. Cor e espaço geográfico se unem, assim como as curvas dos corpos de um casal, para falar de sua existência, relação, reconhecimento e prazeres. O interessante é que a diretora traz a ligação através da oralidade ou da palavra escrita (em poemas compostos pelos dois). Nenhum corpo nu é mostrado.

Prazeres de Amor no Irã é um curta simples, com seis minutos de duração, mas nos traz a visão instigante de um casal que observa uma cidade e a si mesmo como parte essencial dela, gerando e recebendo vida. A ideia de “atores sociais” ultrapassa a linha da práxis engajada, racional, consciente de uma possível leitura unicamente política do filme à medida que poesia, lirismo, sentimento, humor e arte se aglutinam para falar de algo que, de certa forma, transcende todo o resto. Assim, as palavras de ordem são Arte e Prazer.

Os dois atores fazem poemas. Poemas pontuados por imagens eróticas. E a esses versos, representações de pinturas e tapeçarias iranianas são mostradas, sempre abordando o mesmo tema com suas pequenas variações: a homossexualidade masculina e feminina, o sadismo, o amor intenso, a libido em suas muitas formas de manifestação. Após a reflexão artística, a diretora deixa o casal, a poesia e a volúpia de lado. A arte e as construções como objetos em si passam a ser o interesse, pelo menos por um tempo. Redescobrindo os prazeres e redefinindo nossa atenção, caminhamos para o final do filme.

Prazeres de amor no Irã é uma obra exótica, um pequeno cartão postal de lua-de-mel, um convite para casais-turistas apaixonados, um louvor aos corpos unidos em amor, e também um ode à mulher e à vida. Mesmo que na pequena mudança de tom narrativo que ocorre no final (lembrando: este é um curta de apenas seis minutos), o resultado final é belo e instigador. Mais um para a longa lista de belezas instigadoras realizadas por Agnès Varda.

Prazeres de Amor no Irã (Plaisir d’Amour en Iran, 1976)
Direção: Agnès Varda
Roteiro: Agnès Varda
Elenco: Valèrie Mairesse e Ali Raffi
Duração: 6min.

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