É mais do que óbvio que, no vale tudo do cinema, histórias fictícias têm potencial de serem muito mais inacreditáveis que histórias verdadeiras. Afinal de contas, Gravidade, o recente filme de Alfonso Cuarón, nos deixa absolutamente desesperados com o que vemos acontecer com dois astronautas perdidos no espaço. Só que esse roteiro saiu da cabeça de Cuarón e de seu filho, sendo 100% fictício, ainda que galgado na realidade (ao ponto de um repórter perguntar ao diretor como foi filmar no espaço – sem comentários…).
Mas imaginem vocês um acidente espacial verdadeiro. Pensaram? Tenho certeza que pelo menos dois filmes vieram à cabeça: Apollo 13 e Os Eleitos. As situações lá contadas são tão desesperantes quanto em Gravidade, mas com a diferença que elas aconteceram de verdade. Sim, sem dúvida que os roteiristas trataram de mexer nos fatos para tornar tudo o mais “cinematográfico” possível, mas, em sua essência, o que vemos é o que aconteceu mesmo. E isso faz nossos corações baterem mais forte ao imaginarmos o que deve ter se passado na cabeça daqueles homens e mulheres nessas situações limite.
Pensando assim, a equipe do Plano Crítico resolveu listar para vocês as 15 mais inacreditáveis cinebiografias. O material é vasto e as possibilidades são muitas, pelo que o debate certamente será interessante. Se vocês acharem que deixamos algo de fora ou se tiverem suas próprias listas, é só mandar para cá nos comentários abaixo. Mas há uma regra para nossa lista: a qualidade do filme em si não importa. O que interessa são as histórias! Os comentários são de cada um dos respectivos editores, mas como a lista é minha e eu sou o chato de plantão, tomei a liberdade de comentar cada uma das escolhas (além de ter me dado o privilégio de escolher mais cinebiografias que os demais, he, he, he).
Rafael “Nein, Nein, Nein!” Oliveira
O Homem Elefante (David Lynch, 1980) – Baseado na história real do inglês Joseph Merrick, portador de uma doença que criou deformidades em 90% de seu corpo, o filme de David Lynch se utiliza deste mote fantástico para tecer uma crítica à sociedade agressiva em que vivemos até hoje, onde o verdadeiro monstro se esconde debaixo da ganância e intolerância do ser humano.
Comentário de Ritter Fan – Eu ia fazer um comentário jocoso, mas o Rafael é um estraga-prazeres ao escolher um filme tão tocante quanto esse e que torna qualquer tipo de tentativa de se fazer graça em algo terrivelmente politicamente incorreto. Damn you, Rafael!
A Queda! As Últimas Horas de Hitler (Oliver Hirschbiegel, 2004) – Em poucas palavras, esta cinebiografia nos mostra aquilo que jamais imaginamos existir sobre o homem e sua infame notoriedade: um ser humano. Falar sobre Hitler não é mesmo uma tarefa fácil, mas Hirschbiegel o faz com louvor neste filme, acima de tudo, honesto e que nos faz repensar sobre tudo aquilo que já vimos e ouvimos falar sobre o assunto.
Comentário de Ritter Fan – É, esse é o filme que gerou a insuportável mania de usar o ataque histérico de Hitler para todo tipo de reclamação na internet. Ah, mais uma coisa: sugiro fortemente que vejam Bastardos Inglórios para aprenderem sobre o verdadeiro fim de Hitler.
Na Natureza Selvagem (Sean Penn, 2007) – Apesar das divergências, não há como não admirar a figura de Chris McCandless, um sujeito insatisfeito com a insignificância e conformidade de sua existência, que de mochila nas costas, parte em busca de experiências que o façam se sentir vivo, que o permitam experimentar o que a vida oferece de melhor.
Comentário de Ritter Fan – O título alternativo desse filme é “Tudo o Que Não Fazer Quando Você Vai para a Natureza Selvagem”…
Sidnei “Thor” Cassal
Prenda-me Se For Capaz (Steven Spielberg, 2002) – Não, esta cinebiografia não foi inspirada em algum parlamentar brasileiro, mas na verdadeira história de Frank Abigail Jr. (Leonardo Di Caprio), um gênio voltado para aplicar golpes, que se fez passar por piloto de companhia aérea, médico e advogado, até ser pego pelo FBI, para quem acabou trabalhando. Porque merece estar na lista? Além de retratar um anti-herói, é um dos melhores pequenos filmes de Spielberg, com uma atuação charmosa e convincente de Di Caprio e uma excelente trilha musical de John Williams.
Comentário de Ritter Fan: Isso não foi baseado em parlamentar brasileiro, pois o que o parlamentar brasileiro faz é INFINITAMENTE pior do que fez Frank Abigail Jr. Se eu tivesse que comparar ficando com o mesmo diretor, diria que é mais fácil achar um personagem parecido com os parlamentares brasileiros em A Lista de Schindler… (e não, não estou falando do próprio Schindler ou de Itzhak Stern…).
Expedição Kon Tiki (Joachim Rønning e Espen Sandberg, 2012) – Enfrentar 8.000 km de travessia do Pacífico numa jangada construída segundo as técnicas ancestrais não é pra qualquer um. Mas o norueguês Thor Heyerdal (o nome deve ter influenciado nesta empreitada megalomaníaca) convenceu outros cinco a embarcar nesta (que, graças a Deus, não foi uma canoa furada). Belíssima fotografia, efeitos visuais de primeira e aquele tom aventuresco que está um pouco abandonado no cinema atualmente fazem deste filme uma viagem que vale a pena.
Comentário de Ritter Fan: Deus não teve nada a ver com isso. Foi Odin que manteve a canoa boiando…
Guilherme “Wofgang” Coral
Os Bons Companheiros (Martin Scorsese, 1990) – “Desde que me lembro, sempre quis ser um gangster. Para mim, ser gangster era melhor que ser presidente dos Estados Unidos.” Um filme que começa com essa fala não pode ser ruim, ainda mais dirigido por Martin Scorsese. Não fosse pela decaída de Henry Hill que vemos no fim do longa-metragem, todos sairíamos do filme desejando ser mafiosos. Agora fica a pergunta: funny how?
Comentário de Ritter Fan: Como assim Os Bons Companheiros é baseado em fatos reais??? Quase cortei essa sugestão, mas aí resolvi pesquisar e não é que é mesmo? E Henry Hill morreu ano passado, com 69 anos. Sou um ignorante mesmo…
Amadeus (Milos Forman, 1984) – Salieri viu suas músicas se apagando com o passar dos anos, mas não ficou sabendo que se tornou o melhor personagem de Amadeus de Milos Forman. Na pele de F. Murray Abraham, o músico esquecido brilhou na tela. Mesmo com as risadas bizarras de Mozart e sua genialidade sendo mostrada é a obsessão e dilema de Salieri que enaltecem a experiência do longa.
Comentário de Ritter Fan: Milos Forman é fantástico, mas não conseguiu me fazer gostar do personagem título. Minha vontade era pular na tela e enforcar Tom Hulce e seu Mozart. Se o compositor era chato desse jeito, dou todo meu apoio ao Salieri!
Luiz “Buster” Santiago
A General (Buster Keaton e Clyde Bruckman, 1926) – O genial Buster Keaton co-dirige, produz, escreve e atua nessa comédia muda sobre um engenheiro de uma locomotiva e as mais inacreditáveis estripulias que alguém possa fazer a um trem em movimento (ou parado). Como sempre, nos filmes do diretor e produtor, a engenhosidade das gags impressionam mesmo a espectadores de hoje, além da comédia genuína, sem forçosas situações para arrancar o riso.
O mais engraçado é que o caso de um trem pirando pelos trilhos de uma ferrovia aconteceu de verdade, durante a Guerra da Secessão nos Estados Unidos. Aparentemente os soldados da União fugiam e perseguiam outras locomotivas dos separatistas sem se preocuparem com os danos. O resultado, como se pode imaginar, chegou bem perto do que Buster Keaton faz no hilário A General (sim, é “A” General, porque é o nome da locomotiva).
Comentário de Ritter Fan: Como faltavam cinebiografias de pessoas, Luiz Santiago escolheu uma cinebiografia de trens… Vai entender… Mas o filme é absolutamente brilhante mesmo considerando esse momento de insanidade temporária(?) de nosso co-editor…
Festim Diabólico (Alfred Hitchcock, 1948) – Baseado no caso real do assassinato de um garoto de 14 anos, por estudantes da Universidade de Chicago, Festim Diabólico foi uma peça, antes de virar filme. O mestre Hitchcock, que sempre quis fazer um filme dentro da estrutura cênica do teatro, transformou o assassinato em uma obra de arte cruel e de humor negro, por assim dizer. Aliás, elementos para isso não faltavam, desde a ironia, frieza e simpatia maldosa dos anfitriões até a concepção do filme/situação em si.
Agora imagine você ser convidado para uma festa, beber, conversar, dar risada sem saber que tem um cadáver escondido em algum lugar da sala, tipo… “dentro da mesa”? Tenebroso, tenebroso.
Comentário de Ritter Fan: E lá vai minha ignorância se manifestando novamente: como assim Festim Diabólico é baseado em fatos reais??? PUTZGRILA!!!
Amadeus (Milos Forman, 1984) – É quase uma lenda urbana esse ódio insano de Antonio Salieri em relação a Mozart. Muita gente seque ouviu uma composição inteira de qualquer um dos dois, mas sabe e afirma com um sorriso de malícia: Salieri matou Mozart porque tinha inveja dele. Ah, o povo fala mesmo.
A brincadeira, ou meia-verdade, ou quase-verdade da briga entre esses dois músicos começou poucos anos após a morte de Mozart e o boato de que havia sido envenenado. E ainda o fato de que Salieri sempre foi mais famoso e reconhecido que Mozart, em sua época, mas é fato que nunca teve o talento de Mozart, daí a invejinha e o motivo principal para matar. Independente disso, o filme de Milos Forman brinca de maneira genial com o fato, boato ou talvez verdade e traz interpretações de cair o queixo, principalmente de Tom Hulce, como Mozart.
Comentário de Ritter Fan: Repetiram um filme!!! De todas as quase infindáveis opções de escolha, conseguiram repetir um filme!!! Haja paciência. E vou repetir também: se Mozart era chato do jeito que é no filme, Salieri estava mais do que certo!
Ritter “Yeager” Fan
O Homem de Alcatraz (John Frankenheimer, Charles Crichton, 1962) – Um assassino temido e violento que é condenado à prisão perpétua e, ainda por cima, em regime de solitária, se transforma em um respeitado ornitólogo depois que vê um pardalzinho cair do ninho e o salva? Incrível, não é mesmo? No filme, o prisioneiro – Robert Franklin Stroud – é vivido de forma tocante por Burt Lancaster em um daqueles papeis que precisa ser arquivado em sua pasta mental sob a etiqueta “inesquecível”.
Comentário de Ritter Fan sobre o comentário de Ritter “Yeager” Fan: Uau, que escolha fantástica para essa lista!
A Noviça Rebelde (Robert Wise, 1965) – Não, a Maria verdadeira não corria pelos alpes austríacos cantado “The hills are alive, with the sound of music…“. Mas Maria existiu. Assim como o Capitão Von Trapp e sua filharada e eles tiveram sim que fugir pelos alpes até a Suíça para se livrar do jugo nazista. Chegaram até os Estados Unidos, onde se tornaram uma família de cantores com shows itinerantes e até fundaram uma pousada em Vermont. Toda essa impressionante aventura foi reduzida a termo pela própria Maria em suas memórias que, não demorou muito, foram transformadas em um musical da Broadway pela lendária dupla Rodgers e Hammerstein, em 1959. Seis anos depois, o filme chegaria aos cinemas do mundo todo e “Do Re Mi” nunca mais seria o mesmo.
Comentário de Ritter Fan sobre o comentário de Ritter “Yeager” Fan: Mais uma escolha perfeita. Mas você é bom, hein?
Os Eleitos (Philip Kaufman, 1983) – Nunca a corrida espacial foi retratada de maneira tão heroica como em Os Eleitos. Somente todo o trecho inicial, com Chuck Yeager (Sam Shepard) valentemente pilotando o Bell X-1 para tentar quebrar a barreira do som depois de tantos outros que tentaram e morreram, já é razão suficiente para colocar esse filme no panteão das cinebiografias inesquecíveis. É o Homem contra o Desconhecido. Mas a narrativa não para em Yeager e somos apresentados a seres do outro mundo como John Glenn (sim O Jonh Glenn), Gordon Cooper, Gus Grisson, Alan Shepard, nomes que fazem a coragem ter medo.
Comentário de Ritter Fan sobre o comentário de Ritter “Yeager” Fan: Parece-me que está despontando para o mundo um novo Roger Ebert! Continue assim!
Os Intocáveis (Brian de Palma, 1987) – Al Capone, uma dos gangsteres mais violentos dos EUA sendo pego por causa de seu imposto de renda? Ficção científica para nós brasileiros, não é mesmo? Olhem só para os traços exteriores de riqueza de 99,9% de nossos políticos e verão que tenho razão. Mas uma equipe de “intocáveis” liderada por Eliot Ness fez exatamente isso e, apesar de ter morrido semi-desconhecido, esse homem fez história e conseguiu o impossível. O filme de Brian de Palma é fortemente “cinematográfico”, alterando muita coisa que realmente aconteceu e incluindo um monte de outras que não aconteceram. E o resultado é incrível.
Comentário de Ritter Fan sobre o comentário de Ritter “Yeager” Fan: Me dá um autógrafo?
Vivos (Frank Marshall, 1993) – Um time de rugby do uruguai cai nos meio da Cordilheira dos Andes e tem que recorrer ao canibalismo para sobreviver. Uma das mais aterradoras histórias verdadeiras que já vi e, ao mesmo tempo, uma das mais inspiradoras provas da perseverança humana que existe.
Comentário de Ritter Fan sobre o comentário de Ritter “Yeager” Fan: Casa comigo?
Bom galera, é isso aí! Têm suas sugestões? Discordam de algum filme? Concordam só com as BRILHANTES escolhas de Ritter “Yeager” Fan? Façam seus comentários aí embaixo.