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Crítica | Padre Sérgio, de Lev Tolstói

por Luiz Santiago
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Escrito em entre 1890 e 1898 (mas publicado postumamente, apenas em 1911), Padre Sérgio é um prato cheio para os versados em psicanálise e críticos do cristianismo — essa última característica, sendo própria de Tolstói, que, por sua versão pessoal e ácida dessa religião, acabou sendo excomungado da Igreja Ortodoxa em 1901.

Em 130 páginas, o autor nos conta a vida do príncipe Stiepán Kassátski, que acabou virando o Padre Sérgio do título da obra, em dado momento de sua vida. Com uma narração fria e indiferente, os acontecimentos da vida do Padre Sérgio são sempre ligados à sua busca por algo novo, por querer fazer diferente, por nunca estar contente com o patamar (qualquer que fosse) em que se encontrava.

Daí a sua entrada para o mosteiro e sua renúncia aos “desejos seculares”, tanto carnais, quanto o de ser o primeiro em tudo. É interessante como o autor nos apresenta, aos poucos, essa mudança. Já ao fim do livro, a carga patética que envolve a existência do Padre Sérgio chega a incomodar o leitor, especialmente nos parágrafos finais, quando essa característica insossa chega ao seu ápice.

O livro nos mostra a sociedade da Rússia czarista, suas festas e hierarquia, sua corte e boatos maldosos. Por outro lado, nos mostra a Rússia da periferia, a Rússia dos peregrinos, vagabundos, as deportações para a Sibéria (isso parece ter sido um hábito cultural para os governos russos), os vícios e crimes. Embora seja um livro cujo foco é único — o personagem que dá título à obra –, vemos tratados com grande importância esses “temas paralelos”, expostos com um interessante olhar social.

A crítica ao cristianismo aparece já no momento em que Kassátski entra para o monastério. A burocracia e hierarquia da igreja bem como o questionamento da fé e do próprio Deus são abordados no livro e constantemente trazidas à tona no decorrer da obra. A mulher, como tentadora, é também uma das colunas paralelas à narrativa.

Padre Sérgio é uma das mais interessantes criações de Tolstói, um enorme prazer de leitura. Certamente a polêmica em relação ao cristianismo pode incomodar aos mais fervorosos desta fé, que geralmente tendem a antipatizar com esse tipo de colocação. Mas garanto que ao fim de tudo, a análise feita do mundo laico X mundo religioso é digna de nota. O livro é patético por constituição de seu personagem, e nos faz lembrar a existência de muitos, ao nosso redor. Uma leitura recomendadíssima!

Padre Sérgio (Otets Sergiy) — Rússia, 1911
Autor: Lev Tolstói
Publicação original: 1911
No Brasil: COSAC NAIFY, 2001
130 páginas

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