Em seu livro Esculpir o Tempo, Tarkóvski discorre a respeito da arte cinematográfica, seu status de “registrar uma impressão de tempo” e muito do ofício de fazer cinema e pensar imagens para um filme. Por ter tido formação em pintura e música, ainda quando criança, não é de se espantar a apuração desses elementos – som e imagem – em suas obras, cada uma dotada de um deslumbramento e significados poéticos capazes de deixar o espectador pensando muito tempo depois de terminado o filme.
Tarkóvski cursou cinema na VGIK, a Escola de Cinema de Moscou, e teve como tutor o cineasta Mikhail Romm. Ainda na Universidade, produziu três filmes, dois deles em companhia de colegas de classe (Os Assassinos e Hoje Não Haverá Saída Livre). Sua fase universitária terminou em 1961, com O Rolo Compressor e o Violinista, seu trabalho de conclusão de curso. A partir de então, o diretor se entregaria a exercícios cada vez mais poéticos no cinema, a começar de seu primeiro longa-metragem, A Infância de Ivan.
O interessante é que no decorrer de sua carreira, Tarkóvski passou por uma contradição entre financiamento e distribuição de seus filmes. Primeiro, recebia amplos recursos e inusitada liberdade para trabalhar, depois, seus filmes recebiam censura e eram escanteados pela distribuição estatal o máximo possível – a exemplo de Andrei Rublev, acusado de “pouca veracidade histórica” e deixado de molho durante alguns anos até o lanamento oficial. Essa relação complicada com o Estado durou até Stalker, depois do qual Tarkóvski foi para a Itália realizar Nostalgia, e então não voltou mais para a União Soviética, fazendo o seu último filme, O Sacrifício, na Suécia.
Como parte do Especial Andrei Tarkóvski e mediante uma enquete realizada nas redes sociais do Plano Crítico, chegamos a um resultado final para os que seriam os 5 melhores filmes do diretor. O resultado você confere abaixo.
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#5. Nostalgia
Jornada mística do poeta russo Andrei Gorchakov à Itália em busca de um novo modo de vida. Depois de 3 meses, viajando em companhia de Eugenia, uma atriz italiana, chegam a um pequeno vilarejo ao norte da Itália. Frustrado e deprimido por ainda não ter encontrado seu caminho, Gorchakov mergulha em seu passado, isolando-se em impenetrável silêncio. Mas ao encontrar Domenico (Erland Josephson), um velho lunático, assim chamado por seu estranho e solitário modo de viver, ele consegue compreender sua angústia e o segredo de sua própria nostalgia. Primeiro filme feito fora da Rússia pelo cineasta e poeta Andrei Tarkóvski.
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#4. O Espelho
Num contexto mais amplo, O Espelho retrata os pensamentos e as emoções de Alexei (Ignat Daniltsev) e o mundo que o rodeia. A estrutura do filme é descontínua e não cronológica, sem um enredo convencional, e combina as memórias da infância com as da atualidade. O filme alterna três diferentes momentos, o tempo de pré-guerra, o de guerra e do pós-guerra, constituindo quase uma autobiografia, pois Alexei passa pelos mesmos problemas, alegrias e tristezas que o realizador Andrei Tarkóvski passou na sua infância.
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#3. Solaris
No filme, Solaris é um planeta formado por um imenso oceano, que ensejou a formação de um novo ramo científico – a solarística. A solarística tem por objetivo estudar a possibilidade de existência de inteligência extraterrestre oriunda deste planeta, tendo em vista os insólitos acontecimentos lá ocorridos. Um famoso psiquiatra, Dr. Chris Kelvin (Donatas Banionis), é enviado para a estação espacial que orbita Solaris para investigar acontecimentos bizarros ocorridos na estação. Antes, na residência de seu pai à beira de um lago, recebe a visita de um antigo amigo, Burton, atormentado cientista especializado em solarística, que visitou Solaris e procura alertá-lo sobre fatos intrigantes.
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#2. Stalker
Após a suposta queda de meteoritos numa região do planeta, essa região adquire propriedades estranhas e é chamada de “Zona”. Dentro da “Zona”, diz a lenda ter o “Quarto”, que seria um lugar onde todos os seus desejos são realizados. Temendo que a população invada a “Zona” à procura do “Quarto”, o exército a isola, mas eles próprios não têm coragem de entrar nela. Apenas alguns poucos, chamados stalkers, têm habilidade suficiente para entrar e sobreviver lá dentro. Um dia, um escritor famoso e um físico contratam um stalker para os guiarem ao misterioso local dos desejos, sem exatamente saber o que procuram. Tarkóvski, os três atores principais, além de outras pessoas que se envolveram na produção, morreram poucos anos depois, em razão de tumores presumivelmente originados da exposição às instalações industriais (radioativas) da Estônia, onde várias cenas do filme foram gravadas.
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#1. O Sacrifício
Intelectual aposentado e ateu, Alexander vive confinado em sua casa de campo com a mulher, o filho pequeno e seus dilemas existenciais. Durante seu aniversário, na companhia de amigos, a televisão anuncia uma tragédia nuclear que poderá causar a extinção da humanidade. O medo do fim leva todos ao desespero e provoca reações inesperadas nos convidados. Movido pela irracionalidade da fé que sempre desdenhou, o anfitrião busca uma saída que ele jamais havia pensado em buscar. Último filme do diretor Andrei Tarkóvski.