Home TVEpisódio Crítica | Demolidor: Renascido – 1X03: A Palma da Sua Mão

Crítica | Demolidor: Renascido – 1X03: A Palma da Sua Mão

Um drama de tribunal no fast forward.

por Ritter Fan
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  • spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos episódios anteriores e das demais aparições do personagem na televisão.

O ator porto-riquenho Kamar de los Reyes faleceu em Los Angeles, em 24 de dezembro de 2023, aos 56 anos, depois de lutar contra o câncer e sua despedida do audiovisual, que acontece no terceiro episódio de Demolidor: Renascido, não poderia ter sido melhor. Vivendo Hector Ayala, secretamente o super-herói urbano Tigre Branco, acusado de assassinar um policial no metrô de Nova York, Reyes entrega uma atuação potente, capaz de convencer o espectador de imediato sobre os valores de seu personagem que ele constrói com uma relativamente acanhada aparição na telinha e que, confesso, me deixou na dúvida se a ideia original para a série, que seria mais um drama de tribunal do que uma série típica de super-herói, não teria sido melhor afinal de contas.

Essa minha dúvida, aliás, permaneceu presente ao longo de toda a duração de A Palma da Sua Mão, pois, apesar de contar com a ótima atuação de Reyes e, claro, com o costumeiramente muito eficiente trabalho dramático de Charlie Cox, o episódio pareceu-me extremamente corrido, espremendo um drama de tribunal que muito claramente merecia mais tempo em pouquíssimos minutos, tirando muito da tensão que ele poderia conter e valendo-se demais de clichês do gênero, como a sequência do transporte da testemunha que dá baile no policial corrupto, a testemunha chave que muda de ideia e, claro, o grande momento de Matt Murdock ao mudar completamente sua defesa sem avisar ninguém, nem sua sócia (o que, claro, faz zero de sentido). Foi como ver um resumo apressado de uma história potencialmente muito mais interessante que só consegue manter razoável integridade graças à direção de Michael Cuesta que, como em Ótica, mais uma vez mostra que tem domínio de ritmo e narrativa mesmo quando tem pouco para efetivamente mostrar.

O que Cuesta não consegue fazer é deixar de telegrafar cada movimento de peças nesse tabuleiro. Entre encontros ameaçadores no banheiro, cochichos no tribunal na linha de “ele não pode testemunhar”, que Murdock ouve muito claramente, a chegada da testemunha no último segundo e o depoimento lacrimoso do acusado e, claro, a execução do Tigre Branco ao final, nada é deixado nas entrelinhas e tudo é apontado com setas vermelhas piscando em tela. Nem mesmo o símbolo do Justiceiro, que antes era uma crítica feroz, mas discreta da Disney/Marvel pelo uso real da caveira de Frank Castle como “símbolo” usado por policiais violentos, permaneceu nas sombras, sendo mostrado praticamente a cada 10 minutos, culminando com uma caveira enorme no torso do assassino de Ayala (espero que a intenção não tenha sido dar a entender que aquele ali era o Justiceiro, pois isso seria ridículo demais).

Mas é compreensível a existência de problemas de identidade da série em razão de seus bem alardeados problemas de produção, ainda que isso não seja instrumento válido para que eu a absolva de seus pecados. Dario Scardapane, no comando de Demolidor: Renascido, foi contratado como showrunner com boa parte da temporada já filmada e, mesmo com a intenção da Marvel Studios de investir em um retrofit, a estrutura original naturalmente permaneceu visível, criando essas inconsistências e estranhezas que, espero, sejam menos sensíveis na medida em que a história progride. Não é, definitivamente, um trabalho fácil e o que vem sendo apresentado até agora é suficientemente competente, o que, claro, ainda é muito pouco para o que nos acostumamos a esperar de uma série do Demolidor.

No pano de fundo do julgamento, o que ganha destaque é a crescente cisma entre Wilson e Vanessa Fisk. A cunha cravada entre os dois pelo sumiço do Rei do Crime, do caso que a agora Rainha do Crime teve enquanto seu marido convalescia e o ciúmes de Fisk mais pela assunção de sua posição por sua amada esposa do que pelo adultério é martelada ainda mais fundo quando Vanessa, por trás de Wilson, tenta impedir que a guerra de facções criminosas em Nova York saia completamente do controle. E, claro, ver Wilson Fisk mais abertamente declarar guerra os vigilantes em razão da absolvição de Hector Ayala é a porta de entrada para um conflito direto com Matt Murdock que, porém, espero que tenha uma razão ainda mais potente e urgente para retornar ao manto de Demolidor do que apenas enfrentar o prefeito.

A Palma da Sua Mão é, como disse, uma despedida forte de Kamar de los Reyes, já que tudo o que ele faz no episódio funciona muito bem e, até onde me consta, funcionaria muito melhor se ele tivesse mais espaço. Mas o terceiro capítulo do retorno do Demolidor às telinhas em série solo ainda não pode ser chamado como o “momento mágico” em que reconhecemos, acima de qualquer suspeita, que sim, o Demônio da Cozinha do Inferno realmente está de volta. Ele no máximo está vindo por aí, mas, até acontecer, teremos que torcer para que as indecisões na produção não tenham contaminado todo o resultado final.

P.s.: Por acaso Vincent D’Onofrio está de dieta e isso foi inserido no roteiro? Afinal, aquele café da manhã – com direito a plano detalhe – em que o Prefeito do Crime comeu duas ervilhas e meia folha de alface chegou a ser hilário…

Demolidor: Renascido – 1X03: A Palma da Sua Mão (Daredevil: Born Again 1X03: The Hollow of His Hand – EUA, 11 de março de 2025)
Showrunner: Dario Scardapane
Direção: Michael Cuesta
Roteiro: Jill Blankenship
Elenco: Charlie Cox, Vincent D’Onofrio, Margarita Levieva, Wilson Bethel, Zabryna Guevara, Nikki M. James, Genneya Walton, Arty Froushan, Clark Johnson, Michael Gandolfini, Ayelet Zurer, Kamar de los Reyes, Michael Gaston
Duração: 47 min.

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