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Crítica | O Que Aconteceria Se… Galactus Transformasse o Gambit?

Uma aposta difícil.

por Luiz Santiago
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Em O Que Aconteceria Se… Galactus Transformasse o Gambit?, Josh Trujillo e Manuel Garcia trazem uma história que surpreende ao levar um dos mais carismáticos X-Men a territórios inesperados, mesclando sua personalidade charmosa com as complexas nuances da força cósmica, que o permite fazer coisas bem interessantes. A trama é envolvente e, de certa forma, ambiciosa, trazendo uma proposta que mistura o potencial destrutivo e filosófico de Galactus com a resistência e a habilidade de improviso de Remy LeBeau. O resultado é um conto que, apesar de suas qualidades, parece não aproveitar integralmente todas as possibilidades narrativas que levanta.

O maior acerto dessa one-shot é, sem dúvida, a construção do conflito central. A ideia de Galactus querer recuperar uma cópia do Planeta Taa, sua terra natal, é fascinante, pois adiciona uma camada emocional rara ao devorador de mundos. Essa motivação o humaniza (seria esse, o termo correto?), deixando claro que nem mesmo ele é imune à saudade de um passado que nunca mais retornará. Ao mesmo tempo, a presença do Colecionador na história é um elemento que se encaixa perfeitamente na narrativa. O personagem, sempre fascinado pelo que é único e inalcançável, serve como uma antítese de Galactus — um que acumula para preservar (mesmo que não seja uma preservação por motivos nobres, mas por um capricho ganancioso e interesseiro; muitas vezes até criminoso), contra um que consome para sobreviver. Essa dinâmica, no entanto, acaba ofuscada por pequenas e rápidas subtramas que atrapalham o desenvolvimento daquilo que é mais interessante na edição.

Gambit é explorado de uma maneira que inicialmente parece promissora. Sua resistência à ideia de serviço – seja como arauto de Galactus ou como simples executor de ordens ou conselhos do Colecionador – reforça sua identidade de forasteiro e rebelde. Mas essa exploração é superficial, talvez rápida demais e com uma sequência chatinha de perseguição no primeiro ato. Sua transição para o papel de conselheiro, no desfecho da trama, surge apressada, quase como uma resolução moral simplista que não faz jus ao potencial do personagem (ao menos nessa história) ou à situação proposta. A ação final do personagem, carregada de otimismo, tem boas intenções, mas falta profundidade para ancorar de forma convincente a mensagem de esperança e criação de uma vida que tenta transmitir.

Outro ponto de ressalva é o desperdício de oportunidades em relação ao contato entre Gambit e o Colecionador. A interação entre esses dois personagens – ambos mestres em suas próprias formas de manipulação e engano – poderia ter rendido momentos memoráveis. Infelizmente, o roteirista joga fora essa possibilidade. Uma maior atenção a essa dinâmica não apenas enriqueceria a narrativa, mas também potencializaria o impacto temático do conflito entre Gambit e Galactus, já que o ato na nave do Colecionador é uma ponte e um alvo, considerando uma ordem do devorador de mundos.

Ainda assim, há algo de genuinamente instigante na premissa. A ideia de um saque intergalático é instigante, e carrega uma promessa de aventura à altura do personagem. Manuel Garcia faz um excelente trabalho na arte, capturando tanto a grandiosidade do cosmos quanto os detalhes da dimensão de Galactus e sua oposição aos outros personagens (proporcionalmente pequenos) e ambientes que visita. No final, O Que Aconteceria Se… Galactus Transformasse o Gambit? é uma história que agrada, mas deixa a sensação de que poderia ter se distraído menos e dado mais espaço ao que realmente importa. O tom sério e belo do desfecho é uma abordagem interessante para um personagem frequentemente tratado de forma mais leve e irresponsável, mas não consegue compensar os momentos onde a narrativa se perde. Ainda assim, os conceitos e temas levantados são suficientemente intrigantes para torná-la uma boa leitura, mesmo que não alcance todo o seu potencial.

O Que Aconteceria Se… Galactus Transformasse o Gambit? (What If…? Galactus Transformed Gambit) — EUA, 8 de janeiro de 2025
Roteiro: Josh Trujillo
Arte: Manuel Garcia
Arte-final: Manuel Garcia
Cores: Ceci De La Cruz
Letras: Travis Lanham
Editoria: Martin Biro, Tom Brevoort
25 páginas

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