Todo diretor que se preze nos EUA ou faz um filme de guerra, ou um filme anti-guerra. Francis Ford Coppola, o diretor famoso pelo clássico moderno Apocalipse Now, filme diretamente crítico e inebriante sobre a guerra do Vietnã, anima-se de novo com o tema. Dessa vez o diretor dedica-se a gravar sobre a vida dos ex-combatentes fora da guerra, onde o cotidiano e as conversas sobre política, carregadas de ironia e realismo, tornam-se fascinantes de acompanhar à distância do Vietnã. Por causa disso, contar a história sobre a Guarda de um cemitério do Exército acaba por se tornar um esforço fílmico fácil de atingir um ápice dramático, quando a aproximação da guerra se torna inevitável em Jardins de Pedra.
Nas cenas com a maior parte do elenco principal (James Earl Jones, Anjelica Huston, Lonette McKee) na casa do personagem Clell Harzard, interpretado por James Cann, o roteiro de Ron Bass (famoso por Rain Man) brilha, assim como a interpretação dos atores mais verossímeis e a direção fotografia de Jordan Cronenweth (o mesmo de Blade Runner). O lar do sargento Harzard é um ambiente seguro para militares falarem mal da guerra do Vietnã, mas também acolher o jovem soldado Jackie Willow (D.B. Sweeney), que é fascinado pelo fronte vietnamita.
A história também vai se tornando “fácil” de prever, embora o interesse em assistir seja mantido pelas dinâmicas entre os personagens. Sam, interpretada por Angelica Huston, é um ponto forte nesse aspecto: a jornalista do Washington Post que representa o lado mais extremo contra a guerra e desenvolve uma relação com um militar conservador. Esse toque de realismo, ao mostrar pessoas de opiniões tão diferentes convivendo, impulsiona grande parte do segundo ato.
Pode parecer simplista basear o drama do filme em conversas sobre a guerra entre uma jornalista e um ex-combatente, enquanto acompanhamos Willow crescer no exército, casar e partir para o front. No entanto, Coppola constrói essas tramas de forma progressivamente densa através da montagem, encerrando cada ato com o “fracasso” de Hazard em mudar a mentalidade dos recrutas sobre a guerra, e o “sucesso” do jovem ao alcançar tudo com sua postura bélica. O contraste entre as perspectivas anti-guerra e pró-guerra se intensifica naturalmente ao longo da narrativa, tornando o terceiro ato — que encerra o ciclo iniciado no primeiro — especialmente impactante.
O roteiro de Jardins de Pedra, baseado no livro homônimo de Nicholas Proffitt, sugere um suspense que, na verdade, disfarça um grande flashback — a história inteira que acompanhamos. Embora essa estrutura possa parecer previsível, ela se alinha perfeitamente com a abordagem moderna de Coppola, na decupagem. A trilha sonora de Carmine Coppola intensifica essa atmosfera, destacando momentos cruciais com temas de suspense, enquanto os close-ups da fotografia adicionam uma sensação de angústia, sugerindo uma tragédia iminente. Ainda que o filme seja essencialmente um drama, ele utiliza o suspense de forma inteligente, aumentando nossa expectativa, mesmo quando temos uma ideia do desfecho.
Jardins de Pedra (Gardens of Stone) – EUA, 1987
Direção: Francis Ford Coppola
Roteiro: Ron Bass, baseado no livro homônimo de Nicholas Proffitt
Elenco: James Caan, Anjelica Huston, James Earl Jones, D.B. Sweeney, Dean Stockwell, Mary Stuart Masterson, Dick Anthony Williams, Lonette McKee, Laurence Fishburne, Peter Masterson, Carlin Glynn
Duração: 111 min.