- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
Depois de um episódio menos do que ideal, mas ainda bom, Skeleton Crew retorna completamente à forma com um episódio que mergulha com ainda mais afinco em sua inspiração em Os Goonies e na franquia Indiana Jones, mais precisamente, aqui, em A Última Cruzada, além de, claro, no clássico literário A Ilha do Tesouro que é uma constante no pano de fundo. É um prazer notar o quanto Jon Watts e Christopher Ford não têm nenhum receio em realmente arregaçar as mangas para criar algo focado no público bem jovem, mas que entrega aquela “alegria de ser criança” também àqueles que há muito passaram desse estágio na vida, lidando com momentos propositalmente bobinhos que servem de aperitivos para abordagens mais sombrias e sérias com o uso da violência bem pensada, que em nenhum momento precisa chegar perto de ser explícita, mas que está lá, bem presente, criando aquela sensação de perigo para os personagens que uma série dessas precisa ter mesmo que dificilmente alguma das crianças será mais do que levemente ferida ao longo dessa jornada de amadurecimento.
Com SM-33 recuperando sua memória, o androide leva sua comandante e tripulação para o esconderijo de seu antigo capitão, o lendário pirata Tak Rennod que obsessivamente procurava o tesouro de At Attin, mas, quando eles chegam por lá, tudo o que existe, para desespero do ser metálico, é um luxuoso spa somente para adultos que serve de cômica cutucada na indústria do turismo que transforma qualquer lugar de valor histórico em algo só acessível aos mais abastados. Com as crianças disfarçadas de “anciãos” e com dinheiro servindo de suborno, eles se hospedam por ali para investigar, mas não sem antes Jod deparar-se com Pokkit (Kelly Macdonald), uma antiga conhecida e caçadora de recompensas que, farejando dinheiro, não perde tempo em avisar Brutus de quem ela encontrou e, com isso, transformando tudo em uma corrida contra o tempo que começa no poço de lama medicinal do spa, com direito a um Hutt fazendo maldades com o atendente (perturbador aquilo, he, he, he…) e um subsolo em que somos apresentados ao monstruoso, mas simpático e muito prestativo Cthallops (Patrick Seitz), cujo nome não tenta disfarçar a inspiração lovecraftiana para sua criação.
Mas é na medida em que Jod, SM-33 e as crianças aproximam-se do covil do famoso pirata que a aventura que Wim tanto queria viver, mas que, a vivendo, começa a ter medo da realidade, realmente começa a acontecer a transitar de Goonies a Indiana Jones, ou seja, do mais leve ao mais sombrio, com direito a uma reedição dos “testes divinos” para se chegar à caverna do Cruzado que protege o Santo Graal no citado filme do arqueólogo de chicote e a ácido sendo brutalmente derramado nos piratas que perseguem o grupo por um Jod que mostra não hesitar nem por um segundo. Aliás, a sala do tesouro, a gravação de Rennod em que não podemos ver seu rosto e tudo mais brinca gostosamente com tudo o que poderíamos querer de uma aventura do gênero, com direito até mesmo a Jod revelando-se ainda mais frio e menos confiável do que se poderia esperar quando ele, agora de posse da localização de At Attin, desafia Fern a um duelo, forçando-a a desistir antes que ele tenha que tomar atitudes mais drásticas. Não é que para nós, espectadores – pelo menos os adultos – aquela situação tenha real perigo para Fern, mas sim que ela seja verossímil e perigosa dentro da estrutura narrativa apresentada e especialmente para crianças que assistam à série. O que Jod faz é da essência dos piratas de lenda e, vamos combinar, está bem evidente no título do episódio. E, claro, a forma como o sabre de luz é manejado por Wim e, depois, apossado por Jod, foi a cereja em um bolo apetitoso.
Sei que nem mencionei aquela espécie de prólogo em At Attin em que vemos o pai de Wim sendo convencido pela mãe de Neel a obter um código para transmitir uma mensagem para além da barreira que cerca o planeta, sendo pego por um androide e levado à presença da mãe de Fern, mas é que deixei para abordar mesmo no final, já que tudo é uma evidente confirmação de que eles sabem bem mais do que deixam transparecer, podendo, inclusive, como obviamente já especularam, um deles – ou o Supervisor que não conhecemos – ser o próprio Capitão Tak Rennod e/ou a tripulação da Onyx Cynder ou até mesmo, dependendo de quanto tempo se passou desde que a nave chegou por lá, descendentes deles. E a forma como esse mistério vem sendo trabalhado, bem a conta-gotas, sem pressa e abrindo espaço para a série focar no que realmente interessa, ou seja, a aventura das crianças, é exatamente como ele deveria ser abordado. Tudo sem dúvida será revelado, mas, pelo menos de minha parte, eu não tenho pressa alguma, pois o que eu quero mesmo é degustar essa mais do que simpática “goonificação” de Star Wars.
Star Wars: Skeleton Crew – 1X05: Vocês Têm Muito o Que Aprender Sobre Piratas (Star Wars: Skeleton Crew – 1X04: You Have a Lot to Learn About Pirates – EUA, 24 de dezembro de 2024)
Criação: Jon Watts, Christopher Ford
Direção: Jake Schreier
Roteiro: Myung Joh Wesner
Elenco: Jude Law, Ravi Cabot-Conyers, Ryan Kiera Armstrong, Kyriana Kratter, Robert Timothy Smith, Nick Frost, Tunde Adebimpe, Kerry Condon, Kelly Macdonald, Fred Tatasciore, Patrick Seitz
Duração: 45 min.