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Crítica | Caminho da Liberdade (2010)

Uma jornada impossível.

por Ritter Fan
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O último filme de Peter Weir, que sucedeu e antecedeu diversas tentativas dele de voltar a dirigir, somente para encontrar portas fechadas como é comum acontecer na sempre ingrata Hollywood, levando-o à aposentadoria, é uma produção internacional entre EUA, Polônia, EAU e Índia que adapta para as telonas o livro autobiográfico de Sławomir Rawicz, publicado originalmente em 1956 que, em 2006, a BBC revelou ser, na verdade fictício. Relato verdadeiro ou não, o fato é que isso, na prática, não interessa muito, já que a proposta do filme, a jornada a pé de sete prisioneiros do regime soviético de um gulag na Sibéria, para a Índia, algo como 6.400 quilômetros, durante a Segunda Guerra Mundial, é suficiente para prender a atenção de qualquer um, especialmente considerando que o elenco conta com nomes como os de Jim Sturgess, Ed Harris, Colin Farrell e Saoirse Ronan.

O heterogêneo grupo formado principalmente pelo polonês Janusz Wieszczek (Sturgess), o engenheiro americano conhecido apenas como Sr. Smith (Harris), o gângster russo Valka (Farrell), o contador iugoslavo Zoran (Dragoș Bucur), o padre lituano Andrejs Voss (Gustaf Skarsgård) e, depois, a misteriosa Irena Zielińska (Ronan) caminha pela gelada sibéria, depois pelas desérticas Mongólia e China, chegando no Tibet e, os sobreviventes, continuando pelos Himalaias até a Índia, em um épico que lida com a perseverança, a vontade de viver livre e, claro, a condenação do regime soviético da época, com Weir extraindo boas atuações de seu elenco, ainda que, estranhamente, o filme careça do tipo de emoção que obras desse gênero costumam lidar. Afinal, filmes de sobrevivência em situações impossíveis mostram o que de melhor e ao mesmo tempo o que de pior a Humanidade pode oferecer e, ainda que todos os elementos para isso estejam presentes, faltou algo ao longa, algo que construísse com mais vagar cada um de seus personagens de forma que o espectador realmente pudesse se importar profundamente com cada um deles.

Weir parece manter sua distância, sem realmente mergulhar nos personagens, algo que só realmente ganha mais camadas quando Irena entra na história e passa a servir tanto de protegida do grupo, como também alguém que efetivamente se importa por cada um dos que estão na jornada com ela, servindo até mesmo de relatora das histórias que ouve de cada um deles aos outros e, sozinha, criando algum senso de comunidade entre eles. Ainda que esse seja um artifício inegavelmente interessante e que é bem construído, a distância dos personagens permanece até o final e, diferente de obras semelhantes, raramente emociona e uma das razões para isso é que, apesar de todas as dificuldades que a mera menção do tamanho dessa jornada imediatamente conjure na mente de qualquer um, tudo o que vemos parece substancialmente “fácil”, sem que enormes sacrifícios sejam feitos e apesar das mortes que inevitavelmente acontecem, mortes essas que basicamente são anunciadas na abertura do filme quando lemos que “três pessoas chegaram à Índia vindas da Sibéria” ou algo nessa linha.

Filmado em locação na Bulgária, Marrocos e Índia, o longa conta com visuais ao mesmo tempo lindos e assustadores, com variações entre climas que nos levam de florestas geladas a desertos escorchantes, com a direção de fotografia de Russell Boyd, em mais uma parceria com Weir, tirando o melhor proveito por meio de suntuosas tomadas em plano geral que lidam bem com a tarefa de marcar distância e dificuldade, mesmo que a montagem de Lee Smith deixe um pouco a desejar no quesito passagem temporal, por vezes bruscas demais e, por outras, inexistentes, reduzindo o impacto da jornada como um todo.

Caminho da Liberdade, apesar de ser um filme que consegue cumprir a missão de atiçar a curiosidade de quem o assiste, não é, definitivamente, a obra que mereça encerrar a carreira de um grande diretor. Continua sendo uma boa experiência, mas Weir é muito mais do que apenas um bom diretor, como ele conseguiu mostrar diversas vezes em sua curta filmografia. Fico imaginando como seria se ele, no final de sua carreira, tivesse continuado a ter o tipo de apoio que Hollywood deu a ele quando ele fez a transição da Austrália para lá.

Caminho da Liberdade (The Way Back – EUA/Polônia/EAU/Índia, 2010)
Direção: Peter Weir
Roteiro: Peter Weir, Keith R. Clarke (baseado em livro de Slavomir Rawicz)
Elenco: Jim Sturgess, Ed Harris, Saoirse Ronan, Colin Farrell, Dragoș Bucur, Alexandru Potocean, Gustaf Skarsgård, Sebastian Urzendowsky, Mark Strong
Duração: 133 min.

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