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Crítica | Vaso Grego, de Alberto de Oliveira

Uma complexa construção poética do parnasianismo brasileiro, focada na metrificação rigorosa e no apego aos elementos estéticos da poesia.

por Leonardo Campos
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Alberto de Oliveira, uma das vozes proeminentes do Parnasianismo no Brasil, é reconhecido por sua abordagem estética minuciosa e pela valorização da forma poética. Um dos queridinhos de vestibulares e da representação do movimento nas aulas de muitos professores de literatura, ele tem em Vaso Grego, uma composição que exemplifica os princípios estéticos parnasianos. Ao longo do poema, podemos ver delineado, um apego ao rigor da forma, com incorporação de uma musicalidade peculiar. A escolha de uma métrica regular e a rima cuidada são características típicas do Parnasianismo, que se propõe a uma arte pela arte, onde a beleza formal se torna essencial. O poeta utiliza versos de arte maior, conferindo um ritmo solene ao que compôs. Essa construção formal não é meramente decorativa. É um recurso que funciona como um suporte para as ideias e sensações que o poema publicado em Sonetos e Poemas, de 1885, evoca. Tecnicamente, a composição poética se apresenta por meio de um decassílabo rimado, com quatro estrofes, duas quadras e dois tercetos. Em seus 14 versos, de dez sílabas poéticas, podemos contemplar rimas cruzadas, alternadas e entrelaçadas, num ritmo que se acentua ao longo do poema em sua sexta sílaba. Não é uma construção literária de fácil assimilação para iniciantes, parecendo até incompreensível em seu início, se tornando um desafio de leitura, interpretação e contemplação para quem o busca por diletantismo.

Já em título, Vaso Grego sugere uma conexão com a cultura clássica, evocando imagens de beleza estética e de um passado glorioso. O vaso, como objeto de arte, simboliza a preservação da beleza e das experiências humanos. Oliveira, ao explorar esse símbolo, convida o leitor a refletir sobre a transitoriedade da vida e a durabilidade da arte. O vaso é, ao mesmo tempo, frágil e resistente, uma dualidade que permeia a existência humana. No poema, a presença do vaso grego pode também ser interpretada como uma representação das emoções e das experiências vividas. Assim como um vaso armazena tantas coisas, o eu-lírico parece armazenar memórias, sentimentos e anseios ao longo de sua jornada. A ideia de que a arte (representada pelo vaso) é capaz de eternizar momentos efêmeros, torna-se central para a leitura do texto. Dentre as tantas interpretações possíveis, o poema traz uma reflexão sobre a dualidade entre o efêmero e o duradouro, numa linguagem cuidadosamente elaborada.

Há, em sua estrutura, metáforas que entrelaçam os temas de beleza e fragilidade. O uso de adjetivos e substantivos é cuidadosamente escolhido. A construção de imagens vívidas, como a descrição do vaso, serve para aproximar o leitor do objeto e suas implicações. Palavras como “luz”, “sombra” e “cores” evocam não apenas a estética, mas também a complexidade da sensação humana. Além disso, as sonoridades e ritmos presentes nos versos reforçam a experiência sensorial. O uso de aliterações e assonâncias confere musicalidade ao texto, tornando a leitura não apenas um exercício intelectual, mas também uma vivência estética. O verso se torna, assim, um reflexo da harmonia que o poeta busca em sua arte. Assim, Vaso Grego se apresenta como algo mais do que um simples poema sobre um objeto antigo. É uma delicada construção poética que destaca a memória, a beleza e a busca humana por significado. E, por meio de sua abordagem formal e temática, o autor nos instiga a refletir sobre a dualidade da vida e a capacidade da arte de transcender essa dualidade.

É um poema que, em linhas gerais, contempla as características que a crítica literária definiu para o parnasianismo, ou seja, uma composição onde a valorização da forma estética do poema se destaca, numa lírica que prioriza a busca pela perfeição formal e métrica, muitas vezes utilizando sonetos e versos alexandrinos. A precisão e a escolha cuidadosa de palavras são essenciais para criar uma obra bela e harmoniosa, reforçando a ideia de arte pela arte. No que tange aos meandros da impessoalidade e da objetividade, diferentemente do Romantismo, que é marcado pela expressão de emoções pessoais, o Parnasianismo adota uma postura impessoal e objetiva. Os poetas distanciam-se de seus sentimentos e perspectivas subjetivas para focar mais em temas universais e na objetividade da descrição. O movimento parnasiano também valoriza descrições detalhadas e concretas, com um foco em objetos e cenas específicos. Isso é feito para capturar a beleza visual de forma precisa e meticulosa. Em seus poemas, há constantes menções que demonstram uma grande inspiração na mitologia clássica e na antiguidade greco-latina. Poetas parnasianos frequentemente recorrem a temas, personagens e cenários históricos dessas culturas para construir seus poemas.

Ademais, conhecidos pelo uso rigoroso das regras de versificação e pela exigência técnica, a rima, a métrica e a estrutura do poema são atentamente trabalhadas para alcançar perfeição e harmonia. Indo na contramão de outros movimentos próximos de seu contexto, o parnasianismo também é conhecido por demonstrar aversão ao cotidiano e ao que é de ordem social. Ao evitar tais temáticas, mantém o foco em “aspectos universais” e atemporais da experiência humana, muitas vezes fugindo da realidade imediata. Como podemos observar em Vaso Grego, os poetas parnasianistas buscam a idealização estética máxima, com uma preocupação constante com a simetria, harmonia e equilíbrio nas imagens e temas apresentados. O movimento mantém uma forte ligação com o passado, não apenas em termos de inspiração clássica, mas também em uma tentativa de preservação e resgate de valores culturais antigos, considerados mais puros e refinados comparados ao presente. Influenciados pelo cientificismo e pelas descobertas científicas do século XIX, os parnasianos frequentemente empregam descrições detalhadas e quase científicas em sua lírica, revelando uma observação minuciosa da realidade. No geral, um poema parte de um movimento que preconiza a valorização da forma.

Vaso Grego  (Brasil, 1885)
Autor: Alberto de Oliveira
Editora: Nabu Press
Páginas: 1

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