Se eu não gostei do primeiro Hell Divers, porque diabos eu li o segundo e, ainda por cima, escrevi a crítica? A resposta é simples até demais e vale para muitas outras obras nas mais variadas mídias: conforto e descanso. Apesar de ruim, o primeiro livro não é terrível, algo revoltante de ler como foi minha experiência com Erupção, por exemplo e o universo pós-apocalíptico que Nicholas Sansbury Smith criou, apesar de ser composto quase que exclusivamente de clichês do gênero, diverte sem comprometer e, talvez até mesmo sem emburrecer demais o leitor, pelo que fico repetidamente espantado ao constatar que ninguém até agora se encarregou de produzir um filme ou uma série baseado na série literária.
Para quem não conhece a premissa, o universo criado pelo autor catapulta o leitor para mais ou menos 250 anos no futuro, depois que uma guerra nuclear destruiu o mundo e tudo o que resta da humanidade é, até prova em contrário, um enorme dirigível militar que abriga o que sobrou da humanidade (algo como 500 pessoas) e que se mantém perpetuamente no ar graças aos incansáveis esforços de uma equipe de paraquedistas – os Hell Divers – que obtém combustível e peças de reposição no solo radioativo e repleto de variadas criaturas mutantes monstruosas. No primeiro livro, o foco é em Xavier “X” Rodriguez, líder da Equipe Raptor que precisa fazer um salto particularmente perigoso e que, ao final, é dado como morto.
Em Hell Divers II: Fantasmas, há um salto temporal de 10 anos que apresenta um completamente novo status quo no dirigível Hive, mas não sem antes, logo de cara, a narrativa deixar bem claro que X está mesmo vivo, tendo sobrevivido aos eventos do final do livro original e passando a perambular pelo que restou do que antes fora os EUA em direção ao mar ao lado de um cachorro geneticamente modificado que ele descongela de uma das antigas bases que ainda mantém humanos e animais “guardados” dessa maneira. No dirigível, a nova equipe Raptor é comandada por Michael Everheart, o garoto antes conhecido como Tin que era filho do falecido melhor amigo de X e que X jurou proteger antes de ele mesmo desaparecer. Mas o comando da aeronave, agora, ficou para o Capitão Leon Jordan que, em sua insegurança, cultiva uma obsessão por esconder tudo aquilo que possa indicar que o futuro da humanidade de alguma forma possa ser em solo, mesmo vendo o dirigível ruir ao seu redor. E umas das coisas que ele esconde são as comunicações que X transmite de tempos em tempos para dizer que está vivo e, também, indicar lugares onde o dirigível pode encontrar bens valiosos.
Um misterioso pedido de socorro, que o capitão tentara suprimir, acaba sendo descoberto e a equipe Raptor mergulha em uma região perigosa, descobrindo, no processo, uma série de verdades sobre o passado da humanidade e sobre o que Jordan estava tentando enterrar, o que acaba fazendo desse segundo volume um livro de transição que parte do universo estabelecido anteriormente e cria uma narrativa nova e mais contínua que ganha continuidade imediata na terceira parte. Para todos os efeitos, Fantasmas é um romance melhor do que o primeiro e não porque o autor pode se dar ao luxo de pular a construção de mundo, e sim porque seus personagens são mais interessantes (um pouco mais apenas) e o lado da aventura de sobrevivência é mais aterradora tanto em termos de ação com monstros como em termos das descobertas (óbvias) que são feitas pela equipe em terra.
Nicholas Sansbury Smith, com seu estilo blockbuster raso de escrever, às vezes se empolga demais e estende mais do que devia uma história que não exige tanto detalhamento – ou enrolação -, mas, no final das contas, em termos de espetáculo cheio de tiros, explosões, monstros aparecendo do nada, e revelações “surpreendentes”, até que o resultado é minimamente satisfatório, certamente o suficiente para eu não só já ter lido o terceiro volume, como já estar me preparando para o quarto. É guilty pleasure que chama?
Hell Divers II: Fantasmas (Hell Divers II: Ghosts – EUA, 2017)
Autoria: Nicholas Sansbury Smith
Editora: Blakcstone Publishing
Data original de publicação: 18 de julho de 2017
Páginas: 288